Esse é mais um daqueles ebooks que estavam no fundo do meu Kindle e que peguei para ler depois de ver um texto falando de livros cujo tema era a opressão feminina. E este aqui consegue ser assustador e abominável, imaginando um mundo onde o nazismo não só ganhou como dominou metade do mundo e se tornou um império mítico.
O livro
Este é um universo onde os nazistas e os japoneses ganharam a Segunda Guerra Mundial, mas 700 anos depois da vitória. Hitler é adorado como um deus, e um deus nórdico loiro e de olhos azuis, não aquela figura patética que conhecemos. Os japoneses dominam as Ame´ricas, a Ásia e a Austrália, enquanto os nazistas dominam a Europa e a África. Também é um universo que elevou a masculinidade tóxica e a misoginia de maneira que as mulheres são vistas como seres degenerados.Você deve estar achando o enredo bem parecido com O Homem do Castelo Alto, mas este foi escrito em 1962, enquanto Swastika Night é, originalmente, de 1937, cerca de 12 anos antes de 1984, de George Orwell. Ou seja, é uma distopia que antecede a todas as grandes distopias que conhecemos e antecede até mesmo a Segunda Guerra, que eclodiu em 1939. Porém, o livro já mostra a ansiedade e o medo que o nazismo causava em alguns e a crescente ascensão do fascismo e de uma supremacia branca na Europa. Para Murray, pseudônimo de Katharine Burdekin, a principal ansiedade se devia aos direitos das mulheres.
As mulheres foram eliminadas da sociedade deste mundo terrível. Elas vivem em campos de concentração, onde são estupradas diariamente. Se dão à luz, o bebê menino é retirado 18 meses depois da mãe, enquanto a menina entra para o campo para ser mais uma a ser violentada e oprimida. Para os homens, as mulheres são seres inferiores que não merecem a companhia e a preocupação dos homens. Uma mulher poderia usar uma pulseira que indicava que ela propriedade de alguém, mas apenas indicava que ela seria estuprada por apenas um homem e não por vários.
O círculo de poder deste império nazista é controlado por homens conhecidos como cavaleiros e cerca de 100 anos depois da morte de Hitler, um cavaleiro chamando von Weid decidiu queimar os livros, reescrever a história e ensinar que o império surgiu de uma era primitiva e sombria, onde Hitler e seus nazistas trouxeram a luz e a compreensão ao mundo. Apenas os alemães são perfeitos, todos os outros, britânicos, franceses, italianos, são vistos como inferiores. Ele também decidiu inferiorizar as mulheres e retirar seus direitos.
O protagonista é um britânico chamado Alfred, de ascendência alemã. Os ingleses em geral são tratados com desprezo pelos alemães, já que foram os últimos a se opor ao regime durante a guerra. Um dia esse sujeito vê uma foto de Hitler conversando com uma mulher e fica espantado de descobrir duas coisas: a primeira é que as mulheres um dia foram bonitas (algo que não é mais permitido neste mundo) e a segunda é que a figura loira e de olhos azuis que ele achou ser Hitler era a mulher enquanto o verdadeiro era aquela coisinha patética de brilhantina.
O livro tem uma premissa assustadora que se mostra atual porque o mundo ainda é uma merda para as mulheres. Não é à toa que tanta gente identifica similaridades entre O Conto da Aia e outras distopias feministas e a realidade, pois é assim que a gente ainda vive. Murray exagera que é para tentar fazer a reflexão e a crítica a respeito do regime que tinha se instalado na Alemanha e como eles chegaram àquele ponto.
Mas enquanto a premissa é boa, o desenvolvimento do livro não é lá muito legal. Chegamos ao final sem que nada se resolva. Talvez fosse a maneira de a autora nos mostrar que não há saída uma vez que se caía num regime autoritário, de toda a futilidade desse sistema. Só sei que os personagens passam parágrafos e mais parágrafos falando de coisas inúteis, enquanto o problema está lá no fundo. De novo, não sei se foi essa a intenção ou se faltou um bom trabalho de edição. Só sei que cheguei ao final pela força do ódio, esperando algo e FUÉN.
Você não pode de fato confiar em qualquer homem religioso. Se seus interesses conflitam com a religião, o homem quebra sua palavra e o trai e pensa que ele está certo em fazê-lo.
(tradução livre)
Obra e realidade
Para o nazismo, mulheres serviam para dar à luz aos membros da raça ariana, para serem as donas do lar enquanto os homens se preocupavam com a esfera pública e política. Uma das primeiras coisas que o nazismo fez ao assumir o poder foi minar os movimentos socialistas e de minorias, como as feministas e se tem uma coisa que toda mulher sabe é que ao primeiro sinal de crise, os direitos das mulheres e de minorias são os primeiros a ser rifados pelos poderosos. Tanto é que eles mandaram milhares de gays para os campos de concentração, mas não perseguiu as lésbicas, pois para o nazismo a sexualidade feminina era simplesmente inexistente.O livro apresenta as limitações da época, obviamente. A preocupação de Murray era em apenas falar da situação de mulheres cisgênero e heterossexuais, mas se as mulheres são apagadas e oprimidas de forma tão brutal, o que eles teriam feito com a população LGBT? Nem precisa imaginar muito, afinal os campos de concentração mostraram isso.
Murray Constantine era o pseudônimo da escritora britânica Katharine Burdekin. Sua ficção trabalhava temas como feminismo, fascismo, crítica social e temas espirituais e muitos de seus livros se enquadram em utopias ou distopias feministas
PONTOS POSITIVOS
Distopia
Análise do nazismo
Análise da masculinidade tóxica
PONTOS NEGATIVOS
Lento
Não tem em português
Preço
Distopia
Análise do nazismo
Análise da masculinidade tóxica
PONTOS NEGATIVOS
Lento
Não tem em português
Preço
Avaliação do MS?
Não é um livro fácil de ler, principalmente se você é mulher. A leitura é bem lenta em alguns momentos e cheguei a largá-lo duas vezes. Para quem quiser ler clássicos de ficção científica, pode ser uma boa pedida, mas é um livro deprimente, que exagera sem perder a fidelidade do regime nazista e talvez por isso ele seja tão assustador. Três aliens para Swastika Night.Até mais!
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