Resenha: BTK Profile, Máscara da Maldade, de Roy Wenzl, Tim Potter, L. Kelly e Hurst Laviana

A linha Crime Scene, da DarkSide, não é para os fracos. É preciso ter estômago e sangue frio para ler livros como este, sobre o assassino BTK, que aterrorizou a cidade de Wichita, no Kansas, por três décadas. Ninguém poderia imaginar que o sádico assassino pudesse ser apenas um homenzinho comum da vizinhança, frequentador assíduo da igreja e bom pai.

Parceria Momentum Saga e editora DarkSide

O livro
A cidade de Wichita, no Kansas, ficou assustada com o homicídio múltiplo na casa da família Otero, em 1974. Mãe, pai e um casal de filhos foram mortos estrangulados. Na época a polícia focou no marido, supondo que por ser latino e trabalhar em uma empresa de aviões ele poderia estar envolvido em tráfico de drogas e por isso a família teria sido executada. Ainda não passava pela cabeça dos investigadores que um estranho tivesse entrado na casa e matado a família.

Resenha: BTK Profile, Máscara da Maldade, de Roy Wenzl, Tim Potter, L. Kelly e Hurst Laviana

Nos anos seguintes, outros crimes com características perturbadoramente semelhantes ao do caso Otero começaram a surgir na cidade. A linha telefônica da vítima era cortada, em geral o assassino arrombava o lugar e a aguardava lá dentro. A vítima era amarrada, amordaçada, torturada e estrangulada, levando à alcunha de BTK (bind, torture e kill). Mulheres pediam para ser acompanhadas até em casa, onde verificavam a linha telefônica antes de entrar. A cidade entrou em paranoia.

Enquanto isso, Dennis Rader, um cidadão pacato, casado, veterano da Força Aérea, parecia acima de qualquer suspeita. Mas quando os jornais começaram a noticiar as mortes, ele não gostou da maneira como se referiam a ele. Então, ele começou a enviar cartas e a fazer ligações anônimas aos jornais da cidade, principalmente o Wichita Eagle, na tentativa de ganhar a atenção que achava que merecia. Dennis chegou a admitir que a família era um fator que atrapalhava seus crimes. Com filhos e esposa em casa ele não podia perseguir e escolher vítimas à vontade.

Pai de dois filhos, líder dos escoteiros, marido dedicado à esposa e membro da igreja local. Ninguém poderia imaginar que este era o assassino BTK. Ele confundiu a polícia e os jornalista por anos, mas logo nota-se que não era por sua genialidade que isso acontecia. Dennis Rader não era um gênio do crime. A mídia já se acostumou a mostrar serial killers com inteligências superiores capazes de se esquivar da polícia com elegância e sanguinolência (oi, Hannibal Lecter).

Mas isso é bem longe da verdade. Se Rader matou o tanto que matou não foi por sua inteligência, foi por limitações na ciência forense da época, a falta de conhecimento dos policiais em lidar com crimes em série e a ciência comportamental que estava ainda em seus primórdios. E também pelo fato de coisas darem errado no decorrer do assassinato, que acabava alterando o modus operandi do BTK e confundia a polícia.

Dennis escrevia muito mal, como os bilhetes cheios de erros ortográficos deixados por ele provam e ele ainda deixou material biológico nas cenas do crime, que acabou sendo vital para sua condenação. Isso nem de longe é característica de um gênio do crime. Dennis era só um homenzinho medíocre, complexado, que elevou seu fetiche a uma frustração mortal.

Como entender um homem que fez muitos amigos, mas estrangulou pessoas, que criou dois filhos com muito amor, mas que matou crianças?

Página 381

Este livro é fruto da intensa colaboração entre polícia e imprensa local, algo que nem sempre é amigável. Mas ambos entendiam que para manter a cidade informada e a salvo, os dois lados precisavam colaborar e já que o BTK queria a atenção da mídia e se comunicava com os jornais locais, nada melhor do que dividir isso com a polícia. Os autores são repórteres do jornal Wichita Eagle e tinham conhecimento dos crimes do BTK ao longo dos anos. A intenção com este livro era corrigir os erros de edições que falavam dos assassinatos e escrever a versão definitivas sobre o que de fato aconteceu.

Eles não focam nas vítimas, nos ferimentos, do comportamento grotesco do BTK. Eles apenas informam. Pode ser meio forte sim ter que ler algumas das coisas que ele fez, por isso deixo o alerta de gatilho para violência e abuso sexual. Como o livro fala mais da investigação e da colaboração da polícia com a imprensa, ele não foca tanto nos motivos e nas perversões de Dennis Rader e acho que faltou uma análise mais aprofundada a respeito. Também não temos um relato de seu julgamento, como temos no caso de Ted Bundy.

O livro tem o capricho diabólico da DarkSide, com capa dura e macia ilustrando a máscara que o assassino tinha consigo, fitilho e um excelente trabalho gráfico. Não há fotos das cenas do crime com suas vítimas, nada que vá chocar à leitora. A tradução foi de Eduardo Alves e está ótima. Encontrei alguns errinhos de revisão, como palavras faltando aqui e ali em algumas frases e letras batidas fora de lugar.

Obra e realidade
Dennis teve um casal de filhos. Sua filha Kerri chegou a publicar uma biografia, BTK Meu Pai, onde fala do trauma de ver seu pai ser preso e ainda por cima descobrir que ele era um dos mais procurados e famosos serial killers da nação. Isso foi algo em que me peguei pensando durante a leitura: o efeito que essa descoberta teve na família. É possível ver fotos de Kerri com o pai decorando a árvore de Natal, pescando, ele orgulhoso ao lado da filha na formatura na faculdade. Nem consigo imaginar o que a esposa sentiu ao saber que dormiu ao lado de um assassino em série por mais de 30 anos. Como se recuperar de um trauma desses?

Quando Dennis matou a família Otero, sua esposa estava grávida de três meses. O mesmo homem que colocava a filha nos ombros para pendurar a estrela de Natal teve coragem de estrangular uma criança aos poucos, para poder assistir. Para alguém que disse aos policiais que a família atrapalhava sua sede de sangue, isso dá a entender que ele nunca sentiu amor de verdade por ninguém, nem mesmo os filhos. Uma análise psicológica feita a mando do tribunal indica que Dennis é narcisista, antissocial, com distúrbios de personalidade obsessivo-compulsivo, com necessidade patológica de atenção e total falta de empatia pela vítimas.

Dennis Rader foi sentenciado a 10 penas consecutivas de prisão perpétua, com um período mínimo de 175 anos para pedir condicional. Ele cumpre pena na Penitenciária de El Dorado, no Kansas.

Roy Wenzl

Roy Wenzl é um jornalista norte-americano, repórter premiado do jornal Wichita Eagle, bem como Tim Potter, L. Kelly e Hurst Laviana.

Pontos positivos
Pesquisa
Bem escrito
Colaboração da polícia com a imprensa
Pontos negativos

Pequenos problemas de revisão
Preço

Título: BTK Profile, Máscara da Maldade
Título original em inglês: Bind, Torture, Kill: The Inside Story of the Serial Killer Next Door
Autor: Roy Wenzl, Tim Potter, L. Kelly e Hurst Laviana
Tradutor: Eduardo Alves
Editora: DarkSide (selo Crime Scene)
Ano: 2019
Páginas: 416
Onde comprar: na Amazon ou na loja da DarkSide com brinde exclusivo!

Avaliação do MS?
Quanto mais eu leio esses livros sobre assassinos em série, mais eu me pego pensando: por que? Por que esses caras fizeram isso? Como a cabeça deles funciona? Como podem não sentir empatia por outro ser humano? Eles são incompreensíveis para mim, então acho que é esse o principal motivo para ler livros do selo Crime Scene. Se você também se faz essas perguntas, então pode investir neste livro. Quatro aliens para BTK Profile e uma forte recomendação para você ler também!


Até mais!

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