30 anos do Hubble

O Telescópio Espacial Hubble, ícone da ciência e um triunfo tecnológico, completou 30 anos em 24 de abril. Durante esse tempo, o Hubble não captou apenas incríveis imagens e coletou informações sobre o universo, mas mudou nossa compreensão sobre o cosmos, gerando dados e bibliografia para toda uma nova geração de astrônomos. Ele levou a ciência para dentro das casas das pessoas, cada vez que suas lentes captavam as maravilhas do universo e revolucionou a divulgação científica.

Os Pilares da Criação
Os Pilares da Criação foram revisitados em 2014, onde novas imagens, combinadas com informações em raio-X do Chandra deram um upgrade na imagem icônica de 1995. Localizado na Nebulosa da Águia, a 6500 anos-luz da Terra, os pilares têm cerca de 5 anos-luz de altura.



História
Considerado o maior avanço na astronomia desde o telescópio de Galileu, o Hubble e seu design único são hoje ícones da cultura pop. Restritos a observação dos céus com apenas nossos olhos, quem primeiro descortinou o que havia fora de nossa atmosfera foi Galileu. Ainda que ele não tenha inventado o equipamento, Galileu foi o primeiro a utilizá-lo para observações astronômicas.

Os telescópios cresceram, se tornaram mais complexos, foram instalados longe das grandes cidades ou em locais bem altos. A astronomia da virada do século XX acreditava que o universo observável se resumia à nossa Via Láctea. Em 1924, o astrônomo norte-americano, Edwin Hubble, munido de um telescópio em Monte Wilson, perto de Los Angeles, observou outras galáxias além da nossa, notando que elas estavam afastando-se umas das outras. Os questionamentos levantados por Hubble com tais observações ainda são debatidas nos dias de hoje.

Para melhores medições e observações, telescópios maiores eram necessários. Mesmo distante das luzes das cidades ou nos topos de cadeias de montanhas, vencer a atmosfera terrestre não é fácil. Em 1923, o cientista alemão Hermann Oberth - que junto de Robert Goddard e Konstantin Tsiolkovsky é considerado um dos pais da moderna ciência de foguetes - publicou um trabalho chamado Die Rakete zu den Planetenraumen ("O Foguete no Espaço Planetário"), onde ele faz menção ao envio de um telescópio para a órbita da Terra com o uso de um foguete. Em 1946, Lyman Spitzer escreveu sobre os benefícios de se ter um telescópio em órbita, além da atmosfera terrestre, que tanto limitava as observações.

O sucesso do satélite soviético Sputnik em 1957 e os dois observatórios astronômicos da NASA (instalados entre 1966 e 1972) foram essenciais para ensinar os engenheiros a criar, construir e, futuramente, lançar um novo equipamento em órbita. Com o financiamento sendo aprovado nos anos seguintes e a melhoria na tecnologia, além dos esforços de Nancy Grace Roman, a primeira mulher a ter uma posição de liderança na NASA e cientista-chefe do projeto, o telescópio começava a tomar forma.


O Hubble é pop
Criado especificamente para caber no compartimento de carga de um ônibus espacial, a vida útil inicial do Hubble era de 15 anos. Para fazê-lo durar mais seria preciso fazer reparos periodicamente, algo que nunca tinha sido feito antes. Doze diferentes empresas, várias universidades e centros de pesquisa da NASA em 21 estados norte-americanos e 12 países contribuíram para a construção do telescópio.

O Hubble em órbita

Em 1985, o Hubble estava pronto para partir, mas o desastre do ônibus espacial Challenger adiou os planos da agência por mais dois anos. Assim várias melhorias foram feitas nos equipamentos como nos painéis solares, computadores e novos testes foram conduzidos. Finalmente, em 24 de abril de 1990, o ônibus espacial Discovery partiu e no dia seguinte liberou o Hubble em sua órbita.

Os percalços, por sua vez não acabaram. Quando o Hubble começou a enviar imagens para a Terra, elas não tinham nitidez. Lembro bem das notícias e até das charges da época, falando que o Hubble estava "míope". Os testes realizados na curvatura do espelho de 2,4 metros do Hubble foram feitos com um equipamento defeituoso, o que prejudicou o polimento do espelho e impediu que focasse em um ponto único. Ainda que o Hubble fosse projetado para reposição de peças, o espelho não era uma delas.

Entre 1993 e 2009, o Hubble passou por cinco missões de reparos. A primeira, em 1º de dezembro de 1993, trocou o espelho defeituoso e a última, em 2009, trocou vários equipamentos importantes, dando uma ainda maior sobrevida ao Hubble. Tais missões de reparos foram não apenas uma revolução nas missões espaciais, mas também de mecânica e engenharia, pois novos equipamentos precisaram ser criados para ter acesso àqueles do telescópio e para que fossem manuseados pelos astronautas com suas grossas luvas. Criatividade e engenhosidade humanas trabalharam a todo vapor para trazer as imagens que hoje são tão icônicas.

Nebulosa da Bolha
NGC 7635, ou Nebulosa da Bolha, é uma nebulosa de emissão localizada na constelação de Cassiopeia a 11 mil anos luz da Terra.

O Hubble hoje é um dos equipamentos científicos mais conhecidos e celebrados do mundo. No início dos anos 1990, suas belas imagens apareciam em destaque nos telejornais diários, pela beleza dos confins do universo. Em seu tempo em órbita foram mais 1,4 milhões de observações, além de mais de 16 mil artigos publicados em várias áreas. Não há mais missões programadas de reparos, então os responsáveis por sua missão estão sempre buscando inovar na maneira de utilizar o telescópio.

O Hubble também é pop. Suas imagens hoje são papéis de parede, itens de decoração, camisetas, material didático e mais da metade dos meus wallpapers tanto no notebook como no celular. Quando colocamos uma linda e colorida imagem captada por ele, não pensamos imediatamente na incrível ciência por trás dele, na revolução em engenharia e técnica para mantê-lo funcionando.

O Telescópio Espacial James Webb, sucessor do Hubble, ainda está para entrar em órbita após sucessivos atrasos, mas ele só foi possível pelo pioneirismo do Hubble e pela persistência de cientistas e engenheiros. A engenhosidade humana foi elevada à sua melhor potência com o Hubble e mostrou que podemos ser melhores. Além de todas as contribuições científicas - como uma melhor compreensão sobre o surgimento e a evolução de galáxias e buracos negros, o nascimento de estrelas e a composição de planetas fora do nosso sistema solar - o Hubble se tornou um símbolo de excelência e provocou uma profunda mudança na forma como vemos e compreendemos o universo, além de estimular o interesse do público em astronomia.

Ainda há muito o que se observar e descobrir. Obrigada ao Hubble e às milhares de pessoas envolvidas neste pioneiro projeto desde o seu início. Abrimos os olhos para o universo e vamos observar cada vez mais!

Vida longa e próspera!

O James Webb é um projeto ainda mais audacioso que o Hubble. Seu espelho tem 6,5 metros, enquanto o do Hubble é de apenas 2,4m. Enquanto o Hubble está em órbita da Terra a 570km de distância, e pode ser reparado por missões tripuladas, o James Webb ficará estacionado no Ponto de Lagrange 2 (L2), a 1,5 milhão de quilômetros da Terra, com um escudo para protegê-lo da luz solar. Isso impedirá missões de reparos e troca de equipamentos. Neste mesmo L2 um outro observatório espacial, o Herschel, da Agência Espacial Europeia, se encontra desativado desde 2013 após 4 anos de missão.


Leia também:
Site oficial
Onde o Hubble está agora?
What is Hubble looking at now?
Biblioteca Digital do Hubble - NASA
Relembrando a estreia míope do telescópio Hubble - G1
Galileo and the Telescope - Australia National Telescope Facility
Atlantis decola para última missão de reparos no Hubble - O Globo
Repairing the Hubble Space Telescope: The Tools Astronauts Used - Space.com
Webb vs Hubble Telescope - NASA


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