Entre os autores clássicos de ficção científica, a narrativa de Arthur C. Clarke é a que mais me agrada. O fim da infância foi o primeiro livro do autor que li, ainda na adolescência, quando encontrei uma edição antiga em uma pilha de livros que ia para o lixo na rua onde eu morava. As páginas já estavam com marcas do tempo e do manuseio, mas a capa me chamou a atenção, então, obviamente, ele acabou indo para casa comigo. Fazer uma releitura foi bem gratificante em vários pontos.
O livro
Um dos temas mais trabalhados dentro da ficção científica é o da vida alienígena inteligente. Estamos só? Se não estamos, onde eles estão? Materializando esse medo do outro que era pungente durante a Guerra Fria, Clarke nos apresenta os visitantes alienígenas, esquivos, bastante tímidos em se mostrar aos humanos. A resposta para a pergunta "se estamos sós?" finalmente foi respondida.Os Senhores Supremos deixam mais perguntas do que respostas. Com uma tecnologia muito superior à nossa, eles nunca se mostram aos seres humanos. Eles querem ajudar a humanidade, porém impõem uma série de restrições. Como as restrições não agradam nem um pouco a determinados grupos, um foco de resistência acaba surgindo. Mas a humanidade nunca mais será a mesma depois que as naves chegaram.
Karellen, o Supervisor da Terra, conversa apenas com Stormgren, o Secretário-geral da ONU, que acaba se tornando nosso porta-voz e ainda assim através de uma tela. Ele nunca se mostra e sua voz é indistinguível. Não parece inspirar confiança, não é mesmo? Admito que da primeira vez que li o livro imaginei mil e uma coisas a respeito desses alienígenas, mas nada me preparou para a verdadeira aparência deles.
As imposições de Karellen levam ao fim da miséria, da fome, da pobreza, da doença. Entretanto, a raça humana fica estagnada. Aquela inquietação natural da nossa espécie, que nos leva a criar obras de arte, que nos leva a buscar adrenalina em situações de risco, isso desapareceu e Stormgren não parece satisfeito com isso. Essa é a consequência do contato com alienígenas? Ele então decide arriscar uma espiadinha no tal Karellen e aí o livro dá um salto de décadas para o futuro.
Apesar de ser um livro relativamente pequeno, ele tem muito conteúdo e personagens que, infelizmente, carregam a apatia e profundidade de um pires que é tão característica de Clarke. Então não espere se afeiçoar, especificamente, a um determinado personagem, não vai rolar. Cada um cumpre sua função e é isso. Mas o que importa são as transformações pelas quais a Terra e a sociedade estão passando e conforme avançamos na leitura, sabemos que os Senhores Supremos estão aqui com uma missão muito específica, pois algo muito importante está para acontecer.
O livro tem uma pegada bem Nova Era, bem transcendental, algo que é fruto de sua época. E isso pode não agradar a todo mundo e até eu torci o nariz quando cheguei nessa parte. Aliás, foi isso que me fez desgostar do final do livro da primeira vez que li. Ainda não consegui superar esse sentimento inicial na releitura. Mas é uma evolução interessante que o autor escolheu fazer para a raça humana e acho que é uma visão válida. É aqui que você vai entender o porque do título ser esse.
A edição da Aleph vem com extras para contextualizar a obra e ainda no final do livro tem uma segunda versão do primeiro capítulo (que não foi mantida) e o conto “Anjo da Guarda”, que foi o embrião deste livro. A tradução de Carlos Angelo está muito boa, a revisão também e a nova edição conta com uma capa nova, no melhor estilo retrô da ficção científica.
Este era o momento em que a história prendia a respiração e o presente se destacava do passado da mesma forma que um iceberg se rompe dos despenhadeiros que lhe dão origem para navegar pelo oceano, solitário e orgulhoso. (...)
❛A raça humana não estava mais só.❜
Página 22
Obra e realidade
Clarke, além de escritor, era também um futurista. Sua função era a de analisar o contexto em que vivia e dali extrapolar tecnologias e ciências que seriam tendência no futuro. Muitas empresas faziam e ainda fazem isso, consultando autores de FC para indicar possíveis tendências. Microsoft, Boeing, Hershey's, a OTAN, os Fuzileiros Navais dos Estados Unidos, a Nike, todos eles já consultaram escritores para poderem se preparar para cenários futuros. Esse tipo de trabalho acabou criando o mito de que a FC prevê o futuro. FC nada mais é do que um gênero literário e cinematográfico, não é nenhuma cartomante que vai adivinhar o que vem por aí.Arthur C. Clarke foi um dos grandes nomes da ficção científica. Britânico britânico radicado no Sri Lanka, foi também inventor e futurista.
Pontos positivos
Senhores supremos
Ficção científica
Bem escrito
Pontos negativos
O final
"Nova Era"
Senhores supremos
Ficção científica
Bem escrito
Pontos negativos
O final
"Nova Era"
Avaliação do MS?
Posso até não gostar da forma como o romance termina, mas gosto do desenvolvimento dele e das questões que levanta sobre nossa sociedade e nossa capacidade de autodestruição. Na época em que foi escrito, era o auge da Guerra Fria, a ameaça nuclear, o medo presente de que o fim do mundo estava perto. Era natural que essas questões transpirassem para a literatura. Foi uma ótima releitura. Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!Até mais! 👽
Li quando era adolescente... E os alienígenas me impactaram bastante. Bem surpreendente.
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