O proibidão de Nova Hartz chegou! Enfim, Capivaras é o primeiro livro juvenil de Luisa e deu o que falar na imprensa depois que um vereador alegou que o livro era inadequado e o convite da autora para a feira do livro da cidade foi cancelado em cima da hora. Essa atitude deplorável diz muito sobre o momento que estamos vivendo.
O livro
Chapada do Pytuna é uma cidadezinha minúscula, com todas as características de cidades pequenas do interior e seus jovens entediados. Distante dos grandes centros urbanos, qualquer pessoa vindo de uma metrópole logo se sentiria deslocada num lugar desses. E é assim que Vanessa se sente, vindo de Porto Alegre para morar, praticamente, no fim do mundo.Léo, Nick, Zé Luís e Vanessa estão fartos da mentira de Binho (“é que Dênis soava muito como pênis”). Binho é um mentiroso de carteirinha e já inventou as mentiras mais cabeludas para contar vantagem no grupo de amigos. Até uma peça de carro imaginária, o hiperdroller, uma piada entre os amigos para pegá-lo na mentira, Binho sustenta que é verdade. Mas naquele dia eles estavam de saco cheio de verdade do amigo, que inventou de dizer que tem uma capivara. Os amigos então vão para a casa do sem vergonha do Binho que disse que ela fugiu. Ou melhor, foi roubada. Pois então o grupo sai à procura da bendita pelos arredores da cidade.
Esse ponto de partida praticamente banal é o que leva a narrativa a se desenrolar. Passando-se dez anos atrás, quando celular de flip ainda era moda e conseguir sinal do dito cujo era ainda um problema, esse grupo age como qualquer grupo de adolescentes em uma cidade pequena onde há pouco a se fazer. Rodando de carro, carro este do mais riquinho do grupo, eles vão virar a madrugada em busca da misteriosa e fujona capivara de Binho. Munidos de salgadinhos, cerveja quente, vodka e energéticos, eles se embrenham pelas estradas rurais.
Quem narra a história são Léo, Nick, Zé Luís e Vanessa. Gostaria que Binho também colocasse seu ponto de vista no livro, mas seria difícil saber o que é mentira e o que verdade vindo desse miolo mole. Conforme viramos as páginas, vamos entendendo melhor cada um desses jovens, suas motivações, seus medos, seus problemas, e como a situação gerada pela tal capivara vai fazer com que alguns segredos acabem expostos.
Mas a gente só precisa que o Dênis diga. Só diga uma vez pequerrucha que seja. Que diga logo que inventou a capivara pra se gabar mais uma vez.
Página 13
A primeira coisa a se apontar no livro é que eu não sou seu público alvo. O livro é curto, passa muito rápido na mão, portanto o desenvolvimento dos personagens acaba sofrendo com isso, deixando pontas soltas, em especial no final. O livro entrega, em grande parte o que promete, a escrita da Luisa é ótima e está bem antenada com o linguajar jovem. Escrevendo para adultos ou para adolescentes, Luisa tem total competência.
Infelizmente, não consegui me conectar, nem me importar com eles. Pode ser por eu não ser o público alvo? Pode. Pode ser por que o livro é muito corrido e não houve tempo para desenvolvê-los? Também. É uma pena, pois a cidadezinha age como um personagem no livro e ela está bem desenvolvida, enquanto os jovens acabam um tanto opacos. Entretanto, a forma como as diversas situações são discutidas ficou bem feita. São dilemas alimentares, dúvidas a respeito da sexualidade, opressão e pobreza que são temas sempre atuais para se discutir, ainda mais com o público jovem.
O livro da Seguinte vem com o já famoso marca página a ser destacado com estilete na orelha. Está bem revisado e diagramado, e nenhum problema de revisão. Destaque para a capa e para uma simpática capivarinha no começo.
Obra e realidade
O escândalo sem propósito do vereador de Nova Hartz com o "linguajar inapropriado" fez atiçar a curiosidade de muita gente a respeito do livro. Mas não há nada nessas páginas que qualquer um de nós, adolescente ou não, nunca tenha dito. Até no horário nobre da novela das 9 algumas dessas palavras aparecem. Essa preocupação excessiva de alguns políticos com o que os jovens veem ou leem não se sustenta. Proibir vai apenas estimular a curiosidade da galera, que vai procurar o livro até esgotar.Além disso, o livro trata de assuntos que também são pertinentes aos adolescentes de Nova Hartz. Há uma discussão no livro sobre monoculturas, sobre o modelo agrícola ineficiente e o monopólio da produção na mão de poucas pessoas. Será que os palavrões do livro foram apenas o bode expiatório para o vereador, que não queria ver os jovens da cidade questionando modelos econômicos e sociais? Será que a discussão sobre a sexualidade de Nick poderia levar os jovens a fazer perguntas que nenhum desses antiquados políticos censuradores tem capacidade de responder e discutir?
Será?
Luisa Geisler é uma escritora e tradutora brasileira. Vencedora do Prêmio Sesc de Literatura.
Pontos positivos
Capivaras!
Chapada do Pytuna
Já falei da capivara?
Pontos negativos
Acaba rápido
Personagens
Capivaras!
Chapada do Pytuna
Já falei da capivara?
Pontos negativos
Acaba rápido
Personagens
Avaliação do MS?
É um livro para se ler sem muito compromisso, para se imaginar como um adolescente em uma cidade pequena e pacata. Mas acho que, no geral, ele cumpre bem o que promete e entrega uma história que até pode pecar na conclusão em alguns pontos, mas que vai agradar ao público jovem. Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!Até mais!
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