Resenha: Britt-Marie esteve aqui, de Fredrik Backman

Eu não sabia bem o que esperar desse livro, confesso. A indicação da Rocco de que era uma das melhores leituras do ano me fisgou. E devo dizer que fui pega de surpresa pela metódica protagonista e pelo enredo. Aposto que você vai se surpreender também!

Parceria Momentum Saga e
editora Rocco

O livro

Britt-Marie é uma senhora de 63 anos em busca de um emprego. É uma segunda-feira de janeiro e ela está em uma agência de empregos. Precisa trabalhar, precisa se sustentar de alguma forma. A moça super paciente tenta fazer Britt-Marie preencher a ficha e assim poder lhe indicar vagas em aberto, mas quem disse que Britt-Marie vai facilitar para ela?

Britt-Marie é toda cheia de manias. Ela quase perde o controle ao ver que lhe foi oferecido café em um copinho de plástico e não em uma xícara e quase cai da cadeira ao ver que não há porta-copos. Qualquer pessoa civilizada saberia que se usa porta-copos para não manchar a madeira! Essa é Britt-Marie, mordaz em suas frases, sempre com uma observação a ser feita.

Em um primeiro momento, eu a achei cômica e intragável. Britt-Marie foi casada com Kent por 40 anos, seu mundo se resumia ao seu marido, sua casa e suas palavras-cruzadas. O que ela conhece do mundo? O que ela sabe sobre as pessoas? Quando a vemos em ação, é óbvio que ela tenta fazer o seu melhor. Ouviu o marido que ela era "socialmente inepta" por todos aqueles anos. Os filhos de Kent - de um casamento anterior - também riam da ínfima interação social de Britt-Marie.

Mas o que realmente a assombra é que se esqueçam dela. Ter um emprego é uma forma de ser notada, pois se ela não aparecer para trabalhar, vão atrás dela, certo? E é aí que a gente entende o título e entende sua obsessão com limpeza e como bicarbonato de sódio, sua arma secreta para deixar qualquer coisa, quase superfície, colchão ou tapete, totalmente limpos. Ela teme o esquecimento. Teme não existir, pois foram 40 anos se anulando por um marido controlador e traidor. E suas vontades? E sua vida? Seus gostos? É hora de descobrir.

Hoje em dia exigem uma quantidade irracional de papelada só para ser humana. Uma quantidade absurda de administração para a sociedade permitir que alguém participe.

Página 11

Depois de atormentar a paciente moça da agência de empregos, ela consegue uma vaga! Borg é uma comunidade minúscula construída ao longo de uma estrada. Com a crise - que o marido de Britt-Marie disse que acabou - a pequena cidade está em uma profunda recessão. A pizzaria também é a agência dos Correios e o mercado. Britt-Marie terá a função de cuidar do centro comunitário da cidade, que por um acidente orçamentário agora necessita de alguém. Só que ela não esperava se envolver nas vidas das pessoas.

E que vidas. Cada personagem é intenso, bem escrito, apaixonante. Fiquei envolvida com suas histórias, seus sonhos, seus desejos e tragédias. Foi até difícil conter as lágrimas perto do final, pois muitas coisas acontecem, tanto com Britt-Marie quanto com a pequena população de Borg. Se Britt-Marie teme o esquecimento, é em Borg que ela se sentirá importante e necessária, querida de uma maneira que ela nunca foi. Não é algo que todas queremos? Que se lembrem da gente, que nos queiram bem?

O fato de a protagonista ter 63 anos também foi um alento em tantos livros com jovens millenials de corpo escultural. Dizem que os 60 são nos novos 40, e talvez para o caso de Britt-Marie isso seja verdade, pois ela fará coisas que nunca fez antes, como amizade com um rato e vai começar a pensar em futebol. Você vai passar muita raiva com várias passagens, mas vá em frente, pois vale à pena! Em outras tudo o que você quer é abraçá-la.

O livro está bem traduzido por Maria Parula, bem diagramado e com poucos errinhos de revisão, nada que atrapalhe a leitura. Capa macia e páginas amarelas no miolo.

Ficção e realidade

Ainda que Borg e o enredo sejam fictícios, o tema não é. A solidão tem se tornado um problema crônico em vários países, em especial na população mais idosa, justamente aquela que não consegue mais colocação formal, que muitas vezes fica sem família, pois foi esquecida por ela ou porque não tem mais ninguém. Como lidar com uma população que está envelhecendo? Como nos preparar para o futuro? Como impedir que nossas existências caiam no esquecimento?

Além disso, quantas mulheres se anularam para se dedicar ao marido e à casa? Quantas chegaram à terceira idade com a sensação de que nunca viveram, que nunca foram impulsivas e seguiram um caminho totalmente inesperado? Quantas mulheres como Britt-Marie estão agora olhando pela janela, pensando em voar e se perder no mundo? São tantas coisas a se discutir neste livro que em uma resenha apenas não comportaria.

Fredrik Backman é um escritor, blogueiro e colunista sueco.

Pontos positivos

Vega
Britt-Marie
Bem escrito

Pontos negativos

Probleminhas de revisão

Título: Britt-Marie esteve aqui
Título original em inglês: Britt-Marie was here
Autor: Fredrik Backman
Tradutora: Maira Parula
Editora: Fábrica 231 (Rocco)
Ano: 2019
Páginas: 304
Onde comprar: na Amazon

Avaliação do MS?

Foi uma leitura ótima! Ser pega de surpresa pelos enredos dessa forma é sempre maravilhoso. É capaz que você sinta antipatia por Britt-Marie em vários momentos, mas confia em mim e se joga na leitura. As lágrimas teimaram a cair em vários momentos. Bem capaz que eu vá atrás dos outros livros do autor. Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!

Até mais! 🐀

Chega uma certa idade em que quase todas as perguntas que uma pessoa faz a si mesma giram em torno de uma só coisa: como se deve viver a vida?

Página 244

Já que você chegou aqui...