Dia 31 de outubro e não poderia haver outra resenha, poderia?? História da bruxaria é daqueles livros de referência para sempre ter a mão quando precisar tirar uma dúvida ou para se aprofundar no tema. Recheado de história e fatos, o livro é uma das obras definitivas para se compreender a bruxaria, tanto no passado quanto no presente.
O livro
Publicado originalmente em 1980, esta segunda edição já é uma versão revisada da original que a Aleph publicou pela primeira vez em 2008. Além de nova introdução e novo prefácio, conta com dois capítulos novos, escritos com Brooks Alexander, que falam da bruxaria moderna. Há também uma bibliografia reformulada e uma conclusão revisada, dando um ar de livro novo. É uma das maiores pesquisas sobre o assunto.
A primeira coisa que os autores querem que a gente faça é enxergar a bruxaria além dos filmes e do senso comum. A história da bruxaria é marcada pela intolerância, pelo medo, pela perseguição e pela falta de entendimento. Pelo uso da bruxaria para fins políticos, interesses de certos grupos, cultos e religiões. O livro já começa definindo termos e a origem da palavra bruxa em inglês, witch e as funções sociais da feitiçaria.
Na primeira parte, os autores falam do passado e as características gerais da feitiçaria e seus mecanismos. Fala da tenebrosa Inquisição e sua implacável caça às bruxas, onde milhares de pessoas foram torturadas e obrigadas as confessas crimes que nunca cometeram. Sob tortura era possível obter qualquer declaração e com isso os inquisidores se deleitaram.
A semelhança universal das crenças na feitiçaria constitui um dos mais curiosos e importantes dilemas no estudo da bruxaria. Quando nos deparamos, a séculos e continentes de distância, com a mesma ideia de um(a) bruxa noturna seduzindo homens e matando crianças, ou de uma feiticeira cavalgando uma vassoura pelos ares, não temos o direito de rejeitar ou de desprezar a questão de como tais semelhanças surgiram.
Página 32
Ao contrário do que muita gente pensa, a Inquisição, por sua vez, não é ligada exclusivamente à Igreja Católica, nem mesmo começou na Idade Média, mas está relacionada com a Renascença e com a Reforma, além do resgate ao Direito Romano, totalmente intolerante com as bruxas. Os imperadores romanos acreditavam ser vulneráveis às maquinações das bruxas e nas tábuas do Direito Romano já havia provisões contra encantamentos e feitiços.
Misturando-se com o folclore local e as religiões pagãs, a feitiçaria acabou perdendo seu sentido original conforme passa a ser vista como herética apenas por não estar em conformidade com o paradigma da época. Cristãos que viam sua religião de outra forma ou ousavam fazer sua própria interpretação foram condenados à morte só por isso. Desta forma, todo tipo de perseguição, opressão, abuso psicológico e físico foi cometido, ainda mais se considerarmos que as mulheres eram as vítimas preferenciais.
A caça às bruxas é um crime contra a humanidade como qualquer genocídio que se tenha notícia, como o genocídio Armênio ou o Holocausto. Com o florescimento do pensamento cartesiano, ao menos entre os intelectuais e nas cidades, o medo da bruxaria começou a declinar, persistindo por sua vez nas áreas rurais e nos países protestantes.
Na segunda parte, o livro discorre sobre a bruxaria moderna. Com o ressurgimento do interesse no período romântico, a bruxaria começa a adotar o ar de religião natural. O romantismo glorificava o passado e era preciso resgatar o que houvesse de bom e que interessasse ao momento. Entra em jogo então a Wicca, construída sobre o que se pensa ser uma herança pagã pré-cristã, tonando-se o que hoje se convém chamar de religião neopagã. Porém, muito desse discurso se vale dos relatos feitos pelos inquisidores e bem sabemos que sob tortura pode-se declarar tudo e qualquer coisa.
O livro tem muitas imagens em preto e branco para enriquecer a leitura, que confesso pode ser bem devagar em alguns momentos. Encontrei errinhos de revisão, como letras faltando aqui e ali (como na citação ali em cima). A tradução ficou na mão de Álvaro Cabral e William Lagos e está ótima. A edição vem em capa dura e papel amarelinho.
Obra e realidade
Ainda que os autores comentem sobre a colagem que resultou na Wicca moderna, o neopaganismo evoluiu de maneira a ser visto como uma religião consolidada e não não vale menos do que qualquer outra. Quem disse que as outras também não resultaram de colagens de cultos, lendas e livros? A abordagem do livro, por sua vez, reforça o caráter da bruxaria como um sistema ordenado de crenças e ritos, apenas mostrando a quem lê as injustiças, a história e sua nova forma. É um livro tanto para os curiosos a respeito quanto para os praticantes.
Jeffrey B. Russell é escritor professor de história na Universidade da Califórnia em Santa Bárbara. Brooks Alexander é escritor, autor de Witchcraft Goes Mainstream, além de vários artigos sobre bruxaria e neopaganismo.
Pontos positivos
Bem pesquisadoImagens
Bem escrito
Pontos negativos
Pode ser meio devagar
Foco quase total no Ocidente
Avaliação do MS?
Foi uma leitura muito proveitosa. Percebi o quão desinformada eu era a respeito e o livro definitivamente me deu um novo olhar sobre a bruxaria e sua longa tradição. A leitura pode ser meio lenta às vezes, mas não peca nas informações, nem nas fontes ou na forma como nos apresenta o assunto. Uma edição primorosa. Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!
Até mais! 🧙♀️
Obrigado pela resenha, vai ajudar na minha decisão de comprar o livro!
ResponderExcluirComecei hoje, no começo pensei que era crítica fiquei até bolada haha.
ResponderExcluirMas estou vendo que conta como era vista antigamente e está sendo bastante interessante, vou continuar a ler para entender melhor! ☺️