Um mistério assolou Horace-Bénédict de Saussure no século XVIII. O cientista suíço era um aventureiro, tendo se tornado professor da Academia de Genebra com apenas 22 anos. Depois de escalar o Mont Blanc, nos Alpes, não só ele como outros montanhistas perceberam que o céu fica mais azul quanto mais alto você vai.
Esse fenômeno deixou Horace incomodado e curioso sobre o que deixava o azul do céu mais profundo quanto mais alto você vai. Isso o levou a se questionar se seria possível criar uma escala de medida do azul do céu. Nos anos seguintes, Horace refinou essa ideia e criou o chamado cianômetro.
Um cianômetro é um círculo de papel com vários tons de azul pintados, indo do mais claro ao mais escuro. Com essa ferramenta, ele conseguia ver a gradação de azul conforme ele subia mais alto no Mont Blanc. Em sua versão mais moderna, existem 52 tons de azul na escala. No alto do Mont Blanc, segundo sua medição, o tom de azul equivale ao 39.
Alexandre Von Humboldt, o famoso geógrafo alemão, levou um cianômetro em suas viagens pelas Américas e em 1802 ele levou a escala para o monte Chimborazo onde registou um novo número, o de 46, o tom mais escuro jamais medido.
A dúvida de Horace gerou uma teoria de como essas gradações ocorriam. Ele acreditava que a cor do céu estava relacionada com a cor das partículas de umidade (vapor d'água) encontradas na atmosfera e que essas medidas de cores poderiam mostrar que isso é verdade. O cianômetro caiu em desuso quando a verdadeira causa da cor do céu - a dispersão da luz - foi descoberta.
A ciência é feita de erros, mas de erros benéficos, já que conduzem pouco a pouco à verdade.
Júlio Verne.
Ainda que Horace não tivesse descoberto a verdadeira causa da cor azul do céu ou por que ele fica mais escuro em maiores altitudes e ainda que seu cianômetro tenha caído em desuso, o dispositivo simples de papel colorido de azul foi redescoberto em um contexto muito mais poético, que é o de simplesmente parar e olhar para o céu sobre a sua cabeça. Quantas vezes por dia você faz isso? Quantas vezes por semana você apenas pega uma caneca de chá ou café e fica na janela, olhando o céu, apenas admirando o grande espaço azulado sobre nossas cabeças? Há muita poesia no céu se nos permitirmos ver.
Em 2009, o artista plástico alemão, Martin Bricelj Baraga, levou um moderno cianômetro para a praça central de Liubliana, capital da Eslovênia. O dispositivo não apenas mede a cor do céu como também mede a poluição do ar, mas faz o que Horace o criou para fazer, o de olhar para o céu e comparar sua cor em um determinado momento do dia. Isso faz os eslovenos pararem uns minutinhos do seu dia para olharem o céu e assim tentar achar a cor certa na escala. Um instante que seja na rotina, um momento para erguer o olhar para o firmamento.
Você inclusive pode ver imagens captadas de tempos em tempos em dois cianômetros que Martin instalou: o de Liubliana e outro em Braslávia, na Polônia. Só acessar!
Agora... quanto à dúvida de Horace, sobre o fato de o céu ser mais escuro em altas altitutes... Em baixa altitude você vê o céu "mais claro" porque a luz solar precisa atravessar mais atmosfera e é mais espalhada pelo caminho, meio que diluindo o tom. Quanto mais alto você for, menos a luz do sol se espalha, pois a atmosfera é mais rarefeita, dando a impressão de que o tom é mais escuro, ou menos diluído.
Neste link você encontra uma versão mais moderna do cianômetro e até instruções para observar e anotar os tons de azul. Uma ótima dica pra se trabalhar em escolas!
Até mais!
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