Resenha: O que aconteceu com Annie, de C.J. Tudor

O que aconteceu com Annie é o sexto livro enviado pelo Clube Intrínsecos. Tem sido uma maravilha ler os livros do clube, pois estão me tirando da zona de conforto e me entregando grandes histórias e personagens. Você já deve conhecer a CJ Tudor pelo sucesso O homem de giz, também da Intrínseca. O que aconteceu com Annie vem na mesma esteira do livro anterior: sombrio, bizarro e com eventos de difícil explicação.



Este livro foi uma cortesia da Editora Intrínseca


O livro
Começamos a jornada com um crime brutal. Dois policiais entram num chalé e encontram uma sangrenta cena de crime. Ao que tudo indica, a mãe atirou no próprio filho e depois se matou. Mas na parede, uma frase escrita em sangue, perturba até o mais calejado policial: "não é meu filho". O crime ocorreu na pequena e provinciana cidade inglesa de Arnhill, para onde Joe Thorne está retornando. E ele faz isso bem contrariado, pois tinha jurado nunca mais voltar.

Resenha: O que aconteceu com Annie, de C.J. Tudor

Joe Thorne, percebemos logo de cara, não é um sujeito simpático. Ele na verdade é viciado em jogo e que está fugindo de seus cobradores que ferraram com seu joelho como uma lembrança de que ele ainda tem uma dívida a pagar. Mas a vida de Joe foi marcada por uma tragédia quando ele era ainda adolescente: sua irmã, Annie, desapareceu. O problema foi que ela voltou, cerca de 48 horas depois.

O que seria o alívio para qualquer família não foi para a família Thorne. Mas vamos descobrindo isso aos poucos, com uma narrativa angustiante da parte de Tudor, que nos leva pelos piores caminhos da mente humana para conhecer uma cidade e uma vizinhança cheia de segredos. Joe, por exemplo, é um personagem que tem atitudes compreensíveis, porém é bem difícil simpatizar com ele pela forma genial com a qual foi construído. Tem horas que você sente pena, tem horas que quer mais é que ele se ferre mesmo.

Joe volta para uma cidade marcada pela tragédia, marcada pela mina de carvão que foi a principal geradora de empregos da região. Mas as coisas mudaram com o fechamento dela. Um dos ex-amigos de Joe, um valentão chamado Steven Hurst, é hoje o manda-chuva da cidade e seu filho, um babaca valentão igual ao pai, segue os mesmos passos. Joe logo arranja problemas com o garoto ao tentar defender outro de um bullying. Joe é professor e mente para conseguir um emprego na única escola da área e seus problemas começam logo aí.

Existem mais fatos envolvidos no retorno de Joe a Arnhill, como o misterioso email que ele recebeu, contando que o que tinha acontecido com Annie estava acontecendo de novo. Então o mistério aumenta, pois não sabemos o que houve com Annie nem o que está acontecendo na cidade. Annie era a caçula, a alegria da casa, filha favorita dos pais de Joe, mas ele admite que adorava a garota. Os dois se davam super bem, apesar da vida difícil numa cidade pequena e pobre. Annie era a única pessoa com quem Joe podia ser ele mesmo e a perda da irmã acabou com a família.

O ritmo de Tudor cai em alguns momentos, mas os momentos bizarros, os momentos de tensão são impressionantes. Sabe quando você não consegue largar, ao mesmo tempo que não pode ver o que vai acontecer na página seguinte? E aí você lê de madrugada e os estalos normais que ocorrem na casa se tornam apavorantes. É esse o tipo de leitura que você terá com este livro.

A autora criou uma galeria de personagens complexos, estupidamente humanos, daqueles que você quer estapear de raiva, mas ao mesmo tempo quer entender o que os levou a ficar daquele jeito. A explicação para os eventos que ocorrem em Arnhill é bem mais bizarra do que eu imaginava e apesar de a autora não dar todas as respostas, o que ela descreveu foi o suficiente para mim.

Minha edição da caixa do Clube Intrínsecos veio cheia de mimos, como um baralho semelhante ao que Joe carrega consigo. Tanto a edição do clube quanto a edição à venda estão em capa dura. O papel é amarelo e não encontrei grandes problemas de revisão, diagramação e tradução, que ficou por conta de Flávia Rössler. Reforço o pedido mais uma vez: por favor, Intrínseca, coloque o nome dos tradutores junto ao nome do autor nas lojas!

Sombras são apenas sombras. Exceto que sombras nunca são apenas sombras. Elas são a parte mais profunda da escuridão. E a parte mais profunda da escuridão é onde os monstros se escondem.

Página 236


Ficção e realidade
Uma vez eu perguntei pra Jéssica, do Fright Like a Girl, porque existe um fascínio por crianças monstruosas. Veja quantas crianças sinistras nós temos na literatura, na TV e no cinema, quantos casos de guris demoníacos, meninas possuídas, crianças assassinas, filhas de alienígenas, crianças fantasmas. E o que ela me disse é que basicamente as crianças representam a esperança, a bondade. A criança é um projeto a longo prazo para criarmos seres humanos melhores e colocar uma criança como o foco da maldade, como um ser aterrador, é colocar por terra qualquer esperança de um futuro melhor. Basicamente é isso o que Tudor fez com a história de Annie e seu irmão Joe, que nunca se recuperou do que aconteceu.

C.J. Tudor

C.J. Tudor é uma escritora inglesa, que morra em Nottingham. O estilo sombrio de escrita surgiu logo cedo, enquanto devorava obras de Stephen King e James Herbert. O Homem de Giz foi seu romance de estreia. Já trabalhou como repórter, redatora, roteirista para rádio, apresentadora de televisão, dubladora, passeadora de cães e agora escritora.


Pontos positivos
Bem escrito
Annie
Mina de carvão
Pontos negativos

Violência
Pode ser lento em algumas partes

Título: O que aconteceu com Annie
Título original em inglês: The Taking of Annie Thorne
Autora: C.J. Tudor
Tradutora: Flávia Rössler
Editora: Intrínseca
Páginas: 318
Ano de lançamento: 2019
Onde comprar: na Amazon


Avaliação do MS?
Não sabia o que esperar dessa leitura e ela acabou me surpreendendo! Agora vou correr para ler O homem de giz, pois o estilo da autora me agradou muito. Se você curte enredos com mistérios sobrenaturais e thrillers psicológicos com personagens de moral duvidosa, pode se jogar neste livro. Quatro aliens e uma forte indicação para você ler também!


Até mais! 💀

Conhecemos apenas a superfície desta terra. Mas ela tem muitas camadas. E às vezes não se deve cavar muito fundo.

Página 233


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Comentários

  1. Terminei de ler esta semana, e achei excelente, a história realmente nos prende e nos faz querer tudo em um só dia. É possível notar que a autora deve ser fã do Stephen King, pois a certa similaridade com o Cemitério Maldito, mas isso não a torna menos original.... o final é muito bom, não explica tudo mas o suficiente, e o último ato me deixou de boca aberta.......

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  2. Por favor alguém me explica o finaaaal, eu achei que deixou mtas pontas soltas

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