Resenha: Dorothy tem que morrer, de Danielle Paige

Admito que não conhecia mais que o básico sobre O Mágico de Oz quando comecei a ler esse livro. Tirando as imagens que eu já tinha visto, nunca me interessei pelo clássico filme, nem sei bem porque, acho que porque não é da minha época. Os livros de Danielle Paige, porém, nos contam a história de uma outra Oz, uma Oz em que Dorothy, a doce garotinha do Kansas, se tornou uma ditadora cruel que vem drenando a magia das terras de Oz e oprimindo seus habitantes. Poderá Amy Gumm impedi-la?

Parceria Momentum Saga e editora Rocco

O livro
O Mágico de Oz foi publicado originalmente em 1900, por L. Frank Baum e é considerado o primeiro contos de fada genuinamente norte-americano. É o primeiro de uma série de catorze livros que fala das aventuras na fantástica terra de Oz, onde Dorothy chegou através de um tornado. O que Danielle Paige nos conta é o depois. Depois que Dorothy foi embora, ela acaba voltando para Oz e, inebriada pela magia e o poder que vem com ela, Dorothy toma o trono na Cidade das Esmeraldas e se torna uma ditadora cruel que oprime a população.

Resenha: Dorothy tem que morrer, de Danielle Paige

Amy Gumm também vive no Kansas. Sua vida, porém não é das melhores nem das mais fáceis. Seu pai abandonou a família, sua mãe é viciada em álcool e drogas e na escola Amy sofre com o bullying de uma patricinha chamada Madison. Suspensa depois de uma armação de Madison, Amy fica sozinha em casa numa noite de tempestade e um tornado acaba levando seu trailer pelos ares. Esperando nada mais que a morte, Amy é resgata dos destroços por um rapaz estranho e ao observar os arredores, Amy percebe que não está mais no Kansas.

Qual não é a sua surpresa quando ela e Star, a ratinha de estimação de sua mãe, se encontram em Oz? Só que esta Oz é diferente de tudo o que ela já viu. As terras parecem calcinadas, arrasadas, sem a exuberância que ela lembrava de ver no filme. E quando começa a andar pela estrada de tijolos amarelos, percebe que tem algo horrível drenando as maravilhas daquelas terras. Em pouco tempo, Amy descobre que a culpada por tudo isso é Dorothy, que vem drenando a magia de Oz para o palácio. Não só isso, ela oprime o povo, persegue, mutila, bagunça com o tempo e exige uma fidelidade impossível de todos eles.

— Acho que percebemos um pouco tarde demais que a única felicidade que importa é a de Dorothy.

Página 68

Nesta Oz corrompida pela ambição de Dorothy, o Leão Covarde é uma fera cruel e sanguinária. O Homem de Lata um soldado fiel a Dorothy que cumpre suas ordens cegamente e o Espantalho é um gênio do mal, que faz experiências com os cidadãos de Oz. E Amy, desconhecendo como a banda toca assim que chega, acaba parando numa cela no palácio, prestes a ser executada. Dorothy não aceita competição e sabe o perigo que uma nova moradora do Kansas representa. Eis então que a bruxa Mombi a resgata da prisão e pede sua ajuda para combater a longa tirania de Dorothy.

Amy é uma personagem bem construída e é fácil entender como ela acaba se sentindo mais em casa em Oz do que no Kansas, onde ela era "Amy Esmola", por ser pobre e viver em um estacionamento de trailers com a mãe viciada. Em meio a macacos voadores e bruxas, ela não se sente uma estranha, ainda que precise treinar e aprender a usar magia, pois as bruxas querem que Amy mate Dorothy. Ninguém disse, porém que seria fácil e Amy não sabe em quem confiar. Amy é jovem e comete erros, como é de se esperar para alguém com 16 anos, ainda que ela julgue e chame de vagabunda outras pessoas com certa frequência.

Admito que lá pelo meio o livro fica devagar. Mas quando chegamos perto do final, onde as ações ocorrem no palácio na Cidade das Esmeraldas, vemos que a trama cresce e fica mais complexa. Achei que ela me levaria para um lugar e me levou para outro, o que me agradou bastante. Não só neste, mas nos outros livros seguintes, a autora muda de rumo constantemente, mudando a fórmula que um livro para jovens adultos normalmente seguiria. Isso foi bem positivo.

Dorothy é descrita pela própria Amy como uma "fascista acumuladora de magia". E foi bem interessante a mudança drástica da personagem. O que poderia ter acontecido? O que a corrompeu daquela forma? Será que Amy poderia sofrer o mesmo destino, já que ambas são do Kansas? Poderia Oz corromper as pessoas que vieram das outras terras? Amy sente que tem emoções e pensamentos malignos com alguma frequência e essa dualidade da personagem foi bem construída.

Questiono a revisão do livro. Há palavras e termos que estão soltos no texto sem qualquer explicação ou nota de rodapé, por mais simples que fosse. E durante a leitura temos o termo tornado e ciclone usados como sinônimos. Pedi ajuda da minha colega meteorologista, a Samantha, do blog Meteorópole, que disse que, em um sentido geral, o termo em inglês, cyclone, pode ser usado num contexto genérico para designar qualquer fenômeno que gira. Provavelmente, na época em que o autor escreveu o livro, o termo designasse também um tornado. Hoje, porém, ciclone designa um fenômeno como um ciclone extratropical ou um furacão que aconteça no Pacífico Sul. Cyclone deveria estar em português como tornado mesmo. Ou deveria haver uma nota de rodapé explicando o porque da escolha em usar ciclone no português.

Pode parecer bobagem, mas muita gente ainda confunde os termos, usando-os em contextos errados e ajudaria muito se no entretenimento as palavras viessem de maneira correta. Fora isso o livro não tem problemas de digitação ou diagramação. A capa é macia, seguindo a capa original, com folhas amarelas e a tradução ficou por conta da Cláudia Mello Belhassof.

Eu não sabia mais o que era Bondade ou Maldade. Eu só sabia o que era certo.

Página 222

Obra e realidade
O que é mais legal do livro é ver essa dualidade. Se no livro original o Bem e o Mal são bem definidos, Amy duvida constantemente de si, pensando se poderia cair para o lado do Mal. Ela certamente tem várias oportunidades de ser má e sua moralidade a questiona com frequência se deve mesmo prosseguir. Não somos todos assim? Bons, maus e indiferentes, capazes de ator de crueldade e bondade, dependendo a situação? Amy é nova, inexperiente, em uma situação adversa, que vai exigir tudo de si e ainda não sabe se pode confiar em seus aliados. Ela precisa seguir pela estrada sem ter muitas orientações, tal como nós fazemos pela vida também.

Danielle Paige

Danielle Paige é uma escritora norte-americana de livros para jovens adultos. Formada pela Universidade Columbia, ela já trabalhou na televisão, onde recebeu o pêmio Writers Guild of America e foi indicada a vários Emmys por seu trabalho em séries.

PONTOS POSITIVOS
Star
As bruxas
Construção de mundo
PONTOS NEGATIVOS
Revisão
Final em aberto
Se alonga demais em algumas partes


Título: Dorothy tem que morrer
Título original em inglês: Dorothy must die
Série Dorothy
1. Dorothy tem que morrer
2. A Ascensão do Mal
3. Tijolos amarelos em guerra
4. The End of Oz
Autora: Danielle Paige
Tradutora: Cláudia Mello Belhassof
Editora: Rocco (selo Jovens Leitores)
Páginas: 384
Ano de lançamento: 2016
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
Todos os personagens que vemos no livro original estão de volta na série de Danielle Paige. Glinda, o Leão, o Espantalho, os Munchkins, a estrada de tijolos amarelos. Mas a Oz de Dorothy é feia, em pedaços, onde a magia não mais reina livre. O começo pode ter sido devagar, mas o final fez a leitura vale à pena. Quatro aliens para o livro e uma recomendação para você ler também!


Até mais! 👠

Com toda a magia em oz, com toda a magia que as bruxas tinham me ensinado, havia um truque que eu ainda não dominara: como fazer as pessoas ficarem.

Página 328


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