Lock In foi o primeiro livro do Scalzi que li. Lembro que ele me divertiu tanto que eu li nada menos que mais três na sequência, da saga de Guerra do Velho. Foi uma grata surpresa ver o livro traduzido, pois adoro o enredo, além de, é claro, nossos queridos agentes Vann e Shane.
O livro
Os eventos de Encarcerados acontecem após o início de uma epidemia de uma doença que parece quase inofensiva. Começa com os sintomas típicos da gripe, tanto que ela foi apelidada de a Grande Gripe. Semelhante à gripe comum, ela matou mais de 400 milhões de pessoas pelo mundo que deixou muitas cicatrizes. Mas a Grande Gripe tinha sequelas incomuns.Alguns sobreviventes desenvolviam a chamada Síndrome de Haden, onde suas mentes ficaram encarceradas em seus corpos. A pessoa está consciente de tudo a sua volta, mas não conseguem se mexer, interagir com outras pessoas, comer, andar, falar. Além de todas as mortes causadas pela doença, as sequelas eram inéditas, algo para o qual o sistema de saúde de qualquer país não tem preparo para lidar.
Como muita gente famosa tinha ficado encarcerada em seu próprio corpo, muito dinheiro foi investido na ciência básica. Surgem pesquisas e muito financiamento para se estudar maneiras de ajudar as vítimas de encarceramento - uma doença do mundo real. Assim surgem os C3, robôs avançados que, por meio de uma sofisticada interface neural, permite os encarcerados a viver, estudar e trabalhar.
Esse é um dos pontos que mais gosto neste livro. Sim, tivemos uma pandemia horrível, muita gente morreu e ela ainda se desdobrou para uma complicação terrível, deixando pessoas presas dentro de seus corpos. Mas através da ciência e da robótica, muita gente foi beneficiada, como o agente Chris Shane, do FBI. Filho do bilionário e ex-jogador de basquete, Marcus Shane, ele foi uma criança famosa, por simbolizar a luta dos Hadens e depois que cresceu, tentou fugir disso tudo, levando uma vida normal.
Em seu primeiro dia, um dia de caos e de protesto contra uma nova lei que vai retirar os subsídios para os Hadens, o agente Shane conhece sua parceira, a agente Leslie Vann (sou fã dela) e ambos se envolvem com um complicado caso de assassinato que envolverá espionagem industrial, preconceito contra Hadens, Hadens inescrupulosos e muita tecnologia robótica. Além, é claro, ver Chris detonar mais C3 do que ele poderia arcar.
O livro voa na sua mão, porque a narrativa de Scalzi é rápida e a tradução do Petê está muito boa. Não é só um livro de uma investigação policial ou um thriller tecnológico, é também um livro que critica o capacitismo e o preconceito contra pessoas com deficiência.
(...) Fazer as pessoas mudarem porque você não pode lidar com quem elas são não é o caminho. O que precisa ser feito é que as pessoas parem de olhar apenas o próprio rabo. Você diz ❝Cura❞. Eu ouço ❝Você não é humano o bastante❞.
Página 97
Com o auxílio da tecnologia, Shane e Vann conseguem desvendar uma intrincada conspiração que envolve até a Nação Navajo. Aliás, um dos pontos positivos do livro é o de ter bastante representatividade, ser divertido e também o de ser uma leitura prazerosa. Você não se perde nas explicações tecnológicas sobre os C3 e as interfaces neurais. A edição teve tradução de Petê Rissatti, que está ótima, mas merece uma revisão mais cuidadosa, encontrei alguns probleminhas como palavras com letras faltando ou sobrando, não que realmente atrapalhe a leitura.
Obra e realidade
Bato nessa tecla há muito tempo: quero ver mais livros em que humanidade resolva problemas. Este livro é um exemplo disso: a humanidade foi assolada por uma doença mortal, mas nós podemos ajudar, através da tecnologia, aqueles que ficaram presos em seus corpos. Como podemos fazer isso? O que a tecnologia pode nos ensinar a respeito?A síndrome do encarceramento é uma condição rara, onde os movimentos do corpo inteiro são paralisados com exceção dos olhos, mas as faculdades mentais se mantém perfeitas. Algumas doenças podem levar a pessoa a ficar encarcerada como AVCs, trauma cerebral, doenças do sistema circulatório, danos ao sistema nervoso e até overdose de alguns medicamentos. Atualmente, existem softwares que rastreiam o movimento dos olhos para a pessoa poder interagir com o ambiente. Ainda falta uma tecnologia como os robôs de Scalzi.
John Scalzi |
John Scalzi é um escritor norte-americano de ficção científica.
Pontos positivos
C3Shane e Vann
Divertido e bem escrito
Pontos negativos
Problemas de revisão e tradução
Pode ser lento em algumas partes
Avaliação do MS?
Sou suspeita para falar do Scalzi, sou fã incondicional. Se ele escrever bula de remédio é capaz que eu leia. Se você nunca leu nada do Scalzi, comece por este livro aqui. Lá fora, a continuação acabou de ser lançada, Head On e logo mais tem resenha por aqui! Quatro aliens para Encarcerados e uma forte recomendação para você ler também.Até mais!
Legal. Gostei da resenha e, por conta dela, Encarcerados vai ser minha próxima leitura. Obrigado.
ResponderExcluirOlá. Não sou tão fã de livros policiais, são todos muito parecidos. Mesmo os muito bons, ainda sim seguem a mesma linha de roteiro, ganchos, e personagens clichês...
ResponderExcluirMas como era Scalzi, fiquei curioso.
No fundo esse também é assim, mas a adição da escrita fluída do Scalzi mais o seu dom com Ficção Científica, fez o livro ser engolido!
É legal ter partes mais ficção (aqueles diálogos explicando para o leitor, rsrs), suspense, humor, ação, e aqueles momentos de vingança... rsrs
Isso faz o livro ser mais comercial, e quase um filme. Na verdade, acho que ele escreveu o livro pensando em ser adaptado para um de hollywood. Seria fácil!
E seria bom, porque a crítica social no meio do livro é sem dúvida, a melhor parte e a novidade no estilo. É incrível o paralelo do que estamos inclusive vivendo agora, sobre desigualdades e subsídios!
imagina entao agora com essa epoca de Covid19. O livro se torna mais real pois conseguimos avaliar como seria... Num mundo desses acho que nao sairia mais de casa...
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