Resenha: Aniquilação, de Jeff VanderMeer

Botei ontem uma enquete no Twitter para que a tripulação escolhesse uma resenha para esta sexta-feira e para minha surpresa Aniquilação venceu. Com a estreia do longa se aproximando, achei que era hora de saber de que se tratava o livro e o que tem de diferente nele. E confesso que não foi uma leitura fácil. Em alguns momentos achei que o autor não tinha ideia do que estava fazendo.

O livro
Este o primeiro livro da trilogia Comando Sul e que inspirou o filme de mesmo nome que vai estrear com Natalie Portman e Oscar Isaac como protagonistas. Ele sofre da Maldição do Primeiro Livro de uma Trilogia que acomete muitas obras por aí, onde o livro não pode contar demais para não estragar o enredo dos outros livros e fico pensando se não teria sido melhor trazer os três livros em uma edição única. Este livro nos apresenta a Área X, onde um evento biológico estranho transformou uma região tão profundamente que quem vai para lá dificilmente volta.

Resenha: Aniquilação, de Jeff VanderMeer

Sem dar nomes, nosso ponto de vista é regido pela narrativa da bióloga, que junto de uma psicóloga, uma topógrafa e uma antropóloga, entram na Área X após um intenso treinamento e condicionamento mental. O grupo não pode carregar nada que seja eletrônico, tudo é antigo, usado, ultrapassado. Seus nomes não importam e a psicóloga usa de intenso condicionamento hipnótico para manter o grupo, o que logo vemos que não parece surtir o efeito desejado.

A bióloga tem suas razões para adentrar a Área X e ficamos sabendo disso aos poucos, enquanto o autor desfia o enredo. O grupo logo encontra uma construção que não consta do mapa, uma torre que desce pelo subsolo, onde estranhas frases estão escritas nas paredes com material biológico. Apesar da cautela em mexer no desconhecido, a bióloga comete um erro ao investigar tal lugar e coisas estranhas passam a acontecer com ela.

Eu lhes diria os nomes das outras três, se isso tivesse alguma importância, mas apenas a topógrafa vai durar mais um ou dois dias. Além disso, nos recomendaram com insistência que não usássemos nossos nomes: ali, deveríamos estar focadas na missão e 'tudo que fosse pessoal deveria ser deixado para trás'. Os nomes pertenciam ao lugar de onde viéramos, e não a quem nos tornamos quando transplantadas para a Área X.

Sei que ao ler esta resenha vai parecer tudo muito vago. E é mesmo. E aqui que entra meu problema com o livro. Eu adoro obras em que posso preencher as lacunas, tentando adivinhar o final, com as migalhas deixadas pelo autor. Mas o autor tem que deixar as migalhas! E Jeff não faz isso. Tentei imaginar vários cenários para o que estava acontecendo e nenhum deles se confirmou. Um livro com menos de duzentas páginas, sendo o primeiro de uma trilogia, me parece ser apenas caça-níquel.

Se a intenção do autor era deixar um mistério para prender seus leitores para o segundo livro, sinto muito, comigo não rolou. Já foi difícil chegar ao final desse aqui sem revirar os olhos com a falta de explicações. E nem seriam explicações muito longas, uma duas frases para situar o leitor já seriam suficientes. Em Piquenique na Estrada, os autores somente falam que houve uma visita alienígena e desenrolam o livro depois desse evento. Jeff nem isso fez, além de parecer que Piquenique foi uma referência bem óbvia para ele.

A bióloga, sem dúvida, é uma personagem bem construída e mesmo sem saber seu nome, sabemos sobre seu passado, sua solidão, o casamento falido, sua inaptidão para relações sociais. Ela é quem me segurou lendo quando quase larguei de mão. Mas infelizmente, a bióloga sozinha não consegue segurar tudo. Cheguei a final com uma sensação refinada de "ué" e sem saber ao certo o que o autor quis passar. Se este e os outros livros formassem todos apenas um volume, com boas explicações e migalhas para o leitor catar, certamente teríamos uma obra incrível de ficção especulativa, onde o fantástico anda de mãos dadas com a psique da bióloga. Aqui temos o fantástico largado sem nenhuma explicação suficiente para nos fazer andar ao seu lado.

A tradução foi de Braulio Tavares e está ótima. Não encontrei problemas de revisão ou tradução no livro.

Obra e realidade
Enquanto lia, fiquei pensando em lugares da Terra que também apresentam suas configurações fantásticas e perigosas e em como isso atrai o fascínio do ser humano desde muito cedo. De um oráculo grego onde as sacerdotisas tinham alucinações causadas por gases tóxicos ao Triângulo das Bermudas, nós nunca nos cansamos do estranho, do bizarro, do diferente, mesmo que na sociedade alguns ainda lutem contra isso.

Jeff VanderMeer
Jeff VanderMeer

Jeff VanderMeer é um escritor, editor e crítico literário norte-americano. Inicialmente associada ao gênero literário New Weird.

Pontos positivos
A bióloga
Área X

Pontos negativos

O resto

Título: Aniquilação
Título original em inglês: Annihilation
Trilogia Comando Sul
1: Aniquilação
2: Autoridade
3: Aceitação
Autor: Jeff VanderMeer
Tradutor: Braulio Tavares
Editora: Intrínseca
Ano: 2014
Páginas: 199
Onde comprar: na Amazon

Avaliação do MS?
Bem, o que posso dizer mais além de "não gostei"? E olha que tinha muito potencial, mas senti que Jeff errou ao segurar demais o mistério. Ele não nos dá nada para continuar a jornada e devorar os livros seguintes e sinto que minha experiência com autor morre aqui. Dois aliens apenas e só porque a bióloga merece.


Até mais.

Já que você chegou aqui...

Comentários

  1. Tipo, o autor usou o primeiro livro para ser motivo para as pessoas lerem o segundo, mas dar motivos para a gente LER o primeiro, parece que ele não deu.

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  2. bem, já o nome do livro não chama muito atenção...

    pelo sua resenha e outras (nem cheguei perto do livro), essa ideia de uma porção do espaço com as regras da natureza "distorcidas" lembra o filme Stalker (1979).

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    1. Stalker é baseado em Piquenique na Estrada, que foi citado no texto. Jeff certamente bebeu dessa fonte.

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  3. Esse eu detestei com força. Nem quis saber do resto... E nem do chamado "new weird"! rsrsrs

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  4. Jesus amado! 2 aliens?! Hahaha! Pra mim, foi o melhor livro de FC do ano em que o li… hehe.

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  5. Me lembrei muito do conto do Lovecraft chamado "A Cidade Sem Nome", quando vi que os personagens não teriam seus nomes mencionados achei que fosse até uma singela referência.
    Porém, buscando no google, não encontrei nenhum texto apontando essa referência, e ainda descobri que o autor, Jeff Verdermeer nega qualquer inspiração na obra de Lovecraft, o que achei estranho.

    Parabéns pelo site!!!

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  6. Quase comprei, mas como não sabia nada sobre ...daí vim aqui dar uma conferida, pois ninguém merece comprar livro ruim....Nem vou tentar! Valeu mesmo!

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  7. Eu concordo em quase tudo, mas a bióloga não me segurou. Teve momentos em que eu desejei que ela fosse menos
    Mas realmente a sensação de que ele não sabia o que estava fazendo é forte. Parece que ele criou um mistério tão grande que nem ele mesmo desvendou.

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    1. Rapaz, a minha sensação foi exatamente essa! De que nem ele desvendou o mistério. E olha que li os 3!

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