Resenha: Crueldade, de Scott Bergstrom

Esse é daqueles livros que você dá uma subestimada quando lê a sinopse. Errei rude ao fazer isso! O autor conseguiu criar um thriller de espionagem e ação em que o protagonista não é um super bem treinado agente que se mete em uma conspiração e sai incólume de todas as situações de perigo, e sim uma adolescente, apenas 17 anos, que ao ver a falta de interesse do governo no sumiço do pai, resolve sair à procura dele.

Este livro foi uma cortesia da Seguinte

O livro
Gwendolyn morou em vários países devido ao trabalho do pai no departamento de estado. Fala vários idiomas fluentemente, mas nunca odiou tanto um lugar quando Nova York. Obrigada a estudar em uma escola da elite devido ao emprego dele, Gwen sofre bullying com os colegas ricos e chega a ser suspensa ao xingar uma garota que lhe deu um tapa na cara. Mas tudo o que Gwen quer é poder curtir o aniversário do pai com um pouco de paz. Ele tem que viajar no dia seguinte, então jantam juntos, ela lhe dá seu presente - uma linda caneta tinteiro - e ficará sob os cuidados dos donos da loja onde fica seu apartamento nos andares acima, Bela e Lili.

Resenha: Crueldade, de Scott Bergstrom

Então, a notícia chega: seu pai desapareceu em Paris. Ela é levada e interrogada, como se pudesse contribuir em alguma coisa para a investigação, porém não sabe nada que pudesse trazer seu pai para casa. As perguntas dos chefes dele não fazem sentido, algumas perguntas sugerem que ele traiu seu país e desertou, quem sabe até levando informações vitais. Ao notar o descaso deles com o retorno seguro de seu pai, Gwen se desespera. Sua tia, que nunca viu, já que sua mãe morreu quando Gwen era ainda uma criança, tenta lhe dar amor e atenção em um momento difícil, mas ela não consegue parar de pensar no pai.

Bela sobreviveu à guerra e tenta mostrar à Gwen um pouco do mundo que ele conheceu. Eis então que ele lhe diz algumas coisas feitas e ditas por seu pai. Gwen já sacou que ele não é só um funcionário do departamento do estado e que há muito mais em sua carreira do que ele lhe diz. E lhe dá a primeira pista, um de seus livros preferidos, o que lança Gwen em uma jornada extremamente perigosa. Se ninguém vai salvar seu pai, ela vai.

Meu maior medo em ler esse livro era ver uma protagonista que ficasse dependendo dos outros o tempo todo, sofrendo de paixonite aguda e sem sentido. Ela é adolescente, em uma situação de perigo e com medo, um medo absolutamente natural pelo tipo de perigos que vai enfrentar. O que temos é uma Gwen extremamente focada, que aprende rápido, que tem sim um sentimento por um amigo de escola que a ajuda em momentos difíceis, porém não vai sair de seu curso, nem colocar ninguém em perigo de maneira desnecessária.

Bela, seu vizinho que parece inofensivo, consegue arrumar um contato em Paris para ajudá-la, que é quando o livro dá uma desacelerada que Gwen precisa para entender que sua vida em Nova York ficou para trás. Ao entrar na rota que seu pai seguiu para poder resgatá-lo, quando todos pensam que ele seja um traidor ou esteja morto, ela precisa entender que não é brincadeira. Haverá momentos em que precisará usar armas, se defender, e Gwen aprende tudo isso com uma agente israelense. E como Gwen apanha! Ela é uma adolescente que precisou amadurecer e crescer na marra, endurecida pelas situações. Há momentos em que você jura que ela não vai conseguir e em outros em que você esperaria que ela chorasse, se sentisse desamparada, desnorteada e nenhuma lágrima cai.

O mundo que ele descreveu é aterrorizante. Mas, se ninguém mais vai agir por mim, então tenho que tomar uma decisão: continuar sendo uma criança e não fazer nada ou me transformar em adulta e fazer sozinha o que tem que ser feito. Essa, me parece, é a diferença entre a criança e o adulto, entre a menina caçada por lobos e a caçadora.

Página 95

O autor cai em alguns clichês idiotas, como de competitividade feminina. Mais uma vez uma mulher morta na história de uma protagonista. Seria bem legal uma filha indo atrás da mãe, uma espiã. Gwen aprende tanto e apanha, engana e joga as pessoas umas contra as outras durante o livro que fiquei com a impressão de ler a infância de Lorraine, em Atômica, interpretada por Charlize Theron.

Encontrei alguns erros bobos de revisão. Mas o que mais me incomodou mesmo foi o final em aberto do livro. Provavelmente é uma trilogia, mas o ciclo iniciado neste livro não se fecha. Parece que o autor interrompeu a escrita, esqueceu de continuar e entregou assim para a editora.

Obra e realidade
Eu tentei me imaginar com 17 anos no lugar de Gwen e nem precisei pensar muito para saber que não conseguiria fazer tudo o que ela fez. Claro, temos vidas e idades diferentes, ela teve treinamento com armas e defesa pessoal, eu não. Falava uns cinco idiomas e o principal: ela é ficcional e eu não. Licenças poéticas e suspensão da descrença são necessários em alguns momentos para entendermos a jornada de Gwen e em como ela se transforma durante a narrativa.

Aquela adolescente apavorada, hesitante, dá lugar à uma mulher inteligente e muitas vezes cruel. E crueldade, dificilmente, é associada às personagens femininas na ficção. Crueldade mostra que é possível ter uma grande personagem associada à bravura, inteligência, perspicácia e sim, se é necessário, à extrema crueldade.

Scott Bergstrom

Scott Bergstrom é um escritor, viajante e fotógrafo norte-americano. Mora no Colorado, Estados Unidos, com a esposa e as duas filhas.

Pontos positivos
Gwen
Espionagem
Yael
Pontos negativos

Violência
Final em aberto

Título: Crueldade
Título original: The Cruelty
1. Crueldade
2. Ganância
Autor: Scott Bergstrom
Tradutor: Álvaro Hattnher
Editora: Seguinte
Ano: 2017
Páginas: 376
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Avaliação do MS?
Por ter subestimado o livro, acabei demorando para ler. Por isso não pude embarcar na jornada de Gwen, que mesmo não tendo uma finalização neste primeiro livro, é impossível de largar. Você sua, você tem medo, Gwen te carrega pelos becos de Paris, de Berlim, de Praga, determinada a cumprir sua missão, a trazer seu pai de volta e limpar seu nome. Quatro aliens para o livro e uma recomendação para você ler também.


Até mais!

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