Leia.Seja. Cultive o amor pela leitura

A Leia.Seja. é uma campanha realizada pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros para valorizar o livro e seu papel transformador na sociedade. A campanha foi lançada na Bienal do Rio de 2017, contando com as participações de Bernardinho, Washington Olivetto, Baby do Brasil, Bela Gil, Cauã Reymond e Pedro Bial nas peças publicitárias, cujo conceito parte da ideia de que, quando lemos, nos tornamos parte da história – ler estimula a imaginação, a criatividade e a inspiração; faz rir e chorar, refletir e viajar. #LeiaSeja




A leitura é uma fonte inesgotável de prazer, mas por incrível que pareça, a quase totalidade, não sente esta sede.

Carlos Drummond de Andrade

Eu tive o enorme privilégio de estudar em um colégio de freiras que valorizam a leitura e a escrita. Desde a 1ª série, nós éramos incentivados a visitar a biblioteca, primeiro uma acanhada sala com piso de madeira e iluminação fraca e depois um andar inteiro com ar climatizado e grandes estantes de metal. Uma vez lá, a bibliotecária nos explicava o que era aquele espaço, para que servia, como devíamos fazer para pegar livros e como usá-los para estudar ou apenas se divertir.

Também recebíamos da professora uma lista com leituras indicadas para o ano, fosse para nota ou pelo simples prazer de ler. Um desses livrinhos eu tenho até hoje, 30 anos depois (entreguei a idade): Cavalgando o Arco-Íris, de Pedro Bandeira. Tínhamos também uma carteirinha e para isso precisávamos de uma foto 3X4 e ela nos era entregue uma semana depois, em sala de aula. Se você atrasasse na entrega do livro, a bibliotecária ia de sala em sala chamando a atenção dos faltantes.

As aulas de redação começaram na 5ª série. Eram aulas regulares, duas vezes por semana, além das aulas obrigatórias de Língua Portuguesa. Por volta dessa época, já tínhamos o costume de visitar a biblioteca para fazer pesquisa e íamos a bibliotecas fora do colégio para fazer trabalhos. Começamos então a compôr redações, peças de teatro, revistas que fazíamos manualmente e quadrinhos. Eu, como fã de ficção científica, por volta dessa época, já compunha enredos sobre viagens para fora do Sistema Solar e contatos alienígenas.

Sei que tive um privilégio imenso por ter tido acesso não apenas aos livros e às aulas de redação, mas a todo o conhecimento acumulado em tantas leituras. Ler é como abrir uma janela para a mente de outra pessoa. É uma Matrix pessoal, onde um mesmo livro será lido e interpretado de maneiras diferentes por leitores diferentes. Quando o escritor bate o ponto final e entrega sua obra para outras pessoas lerem, recebemos não apenas papel, cola e tinta, recebemos uma realidade alternativa, da qual faremos parte, ativa ou passivamente.

É uma tristeza saber que boa parte da população brasileira não tem acesso aos livros e, portanto, não pode saborear o imenso prazer de mergulhar em universos diferentes, de conhecer, de saber. Apenas 8% de nossa população tem plenas condições de compreender e se expressar. Boa parte da população é analfabeta funcional, ou seja, não tem condições de compreender e interpretar um texto simples, fruto de um ensino público caótico e pouco valorizado. Se você é incapaz de compreender textos longos, será incapaz de se deliciar com um livro. E um povo que não busca conhecimento, nem o absorve, é um povo fácil de manobrar.

Émile Zola dizia que os governos suspeitam da literatura, pois é uma força que lhes escapa. Tanto que governos ditatoriais costumam, em um primeiro movimento, fazer fogueiras com livros que considerem subversivos, que ataquem o status quo, que desafiem o poder vigente. É a chamada Literatura Danosa, de Zamiátin, onde o livro fere o tempo em que foi confeccionado e contribui para sua queda.

Um povo que não lê não tem acesso a esse imenso repositório de ideias e dados que poderia mudar suas vidas. Presos nos dilemas cotidianos, às vezes é a ficção que nos leva para continentes e planetas distantes, que nos faz deixar de lado as mazelas para poder voltar para a realidade mais descansados, mais preparados. Quanto mais acesso e amor pela leitura tivermos, mais condições teremos de enfrentar as desigualdades.

É preciso democratizar a leitura, oferecer ensino de qualidade, valorizar a literatura brasileira e nossos autores, é um caminho muito longo. Que possamos seguir por essa estrada.

29 de Outubro, Dia Nacional do Livro, uma homenagem à Biblioteca Nacional, fundada no Brasil em 1810 pela coroa portuguesa.

Até mais!


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