Resenha: As Cientistas, 50 mulheres que mudaram o mundo, de Rachel Ignotofsky

Sabe aquele livro que você queria ter quando criança para que sua mãe lesse antes de você dormir? Então, é esse. Eu acompanhei o trabalho de Rachel pelas postagens no Tumblr e fiquei desejando o livro em inglês por um bom tempo, até descobrir que ele tinha saído em português pela Editora Blucher. Ricamente ilustrado e com muitas informações legais sobre ciência, é um livro que devia estar em cada biblioteca e sala de leitura de escola, nas universidades, nas casas, acessível para qualquer consulta.

O livro
Durante suas aulas na escola e até na faculdade, você deve ter ouvido vários nomes de cientistas famosos, certo? Cite uma cientista famosa que você ouviu em aula, especialmente na escola. Qualquer uma, de qualquer área e que não seja Marie Curie. Sei que não é fácil lembrar, porque a grande maioria delas teve seu nome apagado da história da ciência, propositalmente. E o único motivo foi pelo fato de serem mulheres. Mulheres que não se conformavam com as barreiras impostas, que queriam muito mais da vida.

Resenha: As Cientistas, 50 mulheres que mudaram o mundo, de Rachel Ignotofsky

Sabemos que a cultura pop pode inspirar muitas meninas a seguir carreira nas ciências. Por conta do sucesso do filme do livro Estrelas Além do Tempo, um programa educacional para mulheres foi criado nos Estados Unidos. Mas imagine aprender na escola, no dia a dia da sala de aula, que existiram mulheres engenheiras, programadoras, ativistas, médicas, que mudaram o mundo como conhecemos, com invenções que usamos e remédios que tomamos? É uma perspectiva completamente nova que se abre.

Lembro que nas minhas aulas de biologia, estudamos muito a genética humana e síntese de proteínas e acabamos decorando os nomes de Watson e Crick, como os descobridores da estrutura helicoidal do DNA. Somente vinte anos depois fui ouvir falar de Rosalind Franklin, cujo câncer que a vitimou aos 37 anos derivou de seu trabalho de obter imagens da estrutura helicoidal. E seu nome foi posto de lado, sua reputação jogada na lama pelos próprios colegas. Rosalind foi vítima da misoginia, do desrespeito e da ignorância dos colegas que quase conseguiram apagar seu nome. Quase.

Se as circunstâncias atuais da sociedade não admitem o desenvolvimento livre das mulheres, então a sociedade precisa ser remodelada.

Elizabeth Blackwell - página 18

Rachel fez um lindo trabalho resgatando a história de tantas mulheres, desde a época de Hipátia, na Alexandria da Antiguidade, passando pela China Imperial e pela sociedade moderna e contemporânea. As biografias são curtas, mas precisas, diretas ao ponto, contando a formação dessas mulheres, suas inspirações, conquistas e as dificuldades que muitas tiveram que enfrentar para concluir seus estudos, para conseguir financiamento, para conseguir crédito e respeito. Mulheres foram proibidas de estudar por muito tempo. Depois, a maioria das instituições superiores de ensino não as admitiam. Se ela quisesse seguir na pós-graduação, muitos lugares não as aceitavam. Algumas tiveram a pesquisa e a carreira interrompidas por causa da Segunda Guerra Mundial, outras eram consideradas apenas técnicas de laboratório e assistentes, sendo que tinham a mesma formação de seus colegas homens.

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Com um traço lindo, o livro traz essas biografias, uma linha do tempo com alguns obstáculos para as mulheres cientistas, algumas estatísticas da área das STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática), outras mulheres da ciência, com uma pequena biografia, fontes, glossário, um perfil da autora e um índice remissivo. É uma obra completa para consulta, além de vir em capa dura. É uma obra perfeita, mas devo pontuar que achei problemas de tradução e revisão em português. Num mesmo livro encontrei University of Chicago, Chicago University e Universidade de Chicago. Outras instituições também estão em inglês e para um não-fluente, isso certamente é um fator que atrapalha a leitura. Devia ter havido uma coerência na hora de traduzir essas instituições, para facilitar a compreensão.

[Meu pai] me fez entender que devo tomar minhas próprias decisões, moldar meu próprio caráter, pensar por mim mesma.

Hedy Lamarr - página 68

Obra e realidade
Eu estava na reta final do meu mestrado quando um professor de longa data lá da USP e eu sentamos para tomar um café. E em um determinado momento ele disse que gostava muito do fato de ver metade das salas da geologia sendo de mulheres, porque na época dele tinha uma, no máximo duas. Somos metade da população mundial. Países que não investem na educação de meninas e mulheres deixam de crescer, de se desenvolver, deixam de ter avanços e ciência de ponta, somente pelo fato de excluir metade de sua população de escolas, universidades, centros de pesquisa.

Livros e obras de entretenimento na cultura pop são ferramentas poderosas de inspiração. E quanto mais soubermos esses nomes, mulheres que tanto contribuíram para a humanidade, mais meninas e mulheres se sentirão inspiradas a seguir essas áreas. Não devemos podar a criatividade, a curiosidade, a inventividade das meninas, elas precisam ser incentivadas e, o principal, precisam de bons exemplos.

Rachel Ignotofsky

Rachel Ignotofsky é uma escritora e ilustradora norte-americana.

PONTOS POSITIVOS
Histórias reais
Bem escrito e ilustrado
Fontes, glossário e informações adicionais
PONTOS NEGATIVOS

Problemas de revisão e tradução


Título: As Cientistas, 50 mulheres que mudaram o mundo
Título original em inglês: Women in Science: 50 Fearless Pioneers Who Changed the World
Autora: Rachel Ignotofsky
Tradutora: Sonia Augusto
Editora: Blucher
Páginas: 128
Ano de lançamento: 2017
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
Desde que o livro chegou que eu não canso de folhear e voltar em algumas biografias, pois sempre parece que você deixou de ler alguma coisa. Rachel fez um trabalho brilhante e seu próximo livro fala de mulheres atletas e esportistas que marcaram a história. Livros que contam essas histórias estão surgindo cada vez mais e só tenho a agradecer às autoras e editoras por isso. Eram livros que eu queria ter quando criança e adolescente, acredito que teria sido uma um grande incentivo ter esses nomes no meu dia a dia. Leitura obrigatória para você.

Até mais!

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Comentários

  1. Coisa linda!
    Pensa que par maravilhoso com Histórias de Ninar para Garotas Rebeldes!
    Quero!
    *.*

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  2. Sybylla acredita se eu te disser que nem o nome da Marie eu ouvi? Ela foi citada como a mulher de homem que descobriu o Raio X e morreu de câncer por excesso de exposição em uma piada na qual ela achava que tava batendo foto enquanto ele fazia os testes.

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