Resenha: Nossos Dias Infinitos, de Claire Fuller

Sabe quando você lê o livro que te imerge na vida dos personagens e depois chega um momento em que a ficha cai sobre o que realmente aconteceu e você perde o chão completamente? Então, este é Nossos Dias Infinitos, de Claire Fuller, livro da Editora Morro Branco.


Parceria Momentum Saga e Editora Morro Branco

O livro
Peggy tem apenas 8 anos e mora com a mãe, uma famosa pianista alemã, chamada Ute e seu pai, James, que aparentemente não tem trabalho e apenas se reúne com seus amigos em casa para falar do fim do mundo no subúrbio de Londres. James é um sobrevivencialista que participa de um grupo conhecido como Refugiados do Norte de Londres e nas conversas que vão e vem com os amigos, ele resolve construir um abrigo antinuclear no porão para proteger a família, aproveitando para estocar comida, água e ainda treinar a filha para correr caso o ataque comece.

Resenha: Nossos Dias Infinitos, de Claire Fuller

Peggy é sozinha, sem irmãos e volta e meia tenta chamar a atenção dos pais. Como é ela quem narra o livro, nós oscilamos em suas lembranças em 1976 e em 1985, que é quando ela retorna para casa. Você já é fisgada pelo mistério logo aí, sobre o que aconteceu com ela durante aquele período. Ute e James parecem ter uma relação tensa, mesmo que uma grande história de amor tenha surgido entre eles, o rapaz adolescente e a pianista mais velha e famosa.

O problema começa quando Ute parte para uma turnê na Alemanha e deixa pai e filha sozinhos em casa. Ele se muda com a menina para o jardim, onde eles vivem da natureza, sem usar nada de dentro da casa, comendo esquilos que caçam atrás do terreno. Peggy para de ir à escola e a chegada do estranho amigo de seu pai muda a rotina dos dois. Então um dia, ele parte com a menina de Londres, atravessam o canal, vão para o continente, trocando de trem, de ônibus o tempo todo, até que passam a andar pela floresta, chegando à uma cabana no meio do nada.

Fiquei pensando nessa mudança drástica para a cabeça de uma criança que não quer desapontar o pai. Ela se revolta, diz que quer voltar para casa, que não aguenta viver daquele jeito, já que a casa está caindo aos pedaços, mas o pai lhe solta a bomba: o mundo acabou. Só existem eles dois e ambos precisam um do outro para sobreviver. Sabemos que é cascata dele porque o livro já começa em 1985, quando ela volta. Então, o que aconteceu?

Foi isso o que havia acontecido, era assim que eu me lembrava. Mas os médicos dizem que meu cérebro está me enganando, que passei muito tempo com deficiência de vitamina B e minha memória já não funciona como deveria. Diagnosticaram síndrome de Korsakoff e prescreveram grandes cápsulas laranjas que Ute me faz tomar com o primeiro gole de chá preto de manhã. Eles acham que me esqueci de coisas que realmente aconteceram e inventei outras.

Página 99

A vida dos dois é puxada, pois eles dependem da floresta para tudo. Peggy pegou trauma do rio depois da travessia em que quase se afogou por não saber nadar e não se arrisca a chegar perto. Além da floresta existe apenas a Grande Divisa, onde o mundo acaba. Em casa, de volta para a mãe, ela se pega pensando no pai e sabemos que ela está com deficiências minerais e de vitaminas, com os dentes podres, e falhas de memória pela desnutrição. É aí que temos que enxergar algumas de suas memórias por outro viés. Se eu falar mais, entrego o spoiler.

O livro é pequeno, mas cheio de significado, cheio de memórias e traumas, vidas partidas e mentiras. Você termina pensando no que acabou de ler, em como uma pessoa precisa conviver com o trauma e até em nossos próprios traumas. O livro tem uma capa linda, porém triste. Bem diagramado e com poucos erros de digitação ou revisão.

Obra e realidade
Assim que virei a última página, fiquei sem saber se eu odiava a autora pelo o que fez ou se a aplaudia pela genialidade na condução do enredo. Ela nos leva por caminhos tortuosos, mostrando uma visão da realidade e quando a realidade se desnuda diante de nós a vontade é de querer gritar, espernear e chorar pelo o que aconteceu. Claire, meus parabéns pela forma como conduziu a vida de Peggy. Te odeio\amo.

A mente humana é plástica, maleável e facilmente influenciável. Pense no tamanho da influência do pai de Peggy em sua personalidade, em como ele enganou essa criança de 8 anos, na atrocidade de fazer a vida dessa criança parar no tempo para voltar de maneira tão traumática ao mundo real. Pais mentem por diversas razões para seus filhos, mas o crime cometido por James é ignóbil e revoltante.

Claire Fuller

Claire Fuller é uma autora inglesa que ganhou o Prémio Desmond Elliott 2015 pelo seu romance de estreia Nossos Dias Infinitos.

PONTOS POSITIVOS
Thriller psicológico
Bem escrito
Personagens irritantemente bem descritos
PONTOS NEGATIVOS

Trigger warning
Pode ser lento em algumas partes

Título: Nossos Dias Infinitos
Título original em inglês: Our Endless Numbered Days
Autora: Claire Fuller
Tradutora: Carolina Selvatici
Editora: Morro Branco
Páginas: 330
Ano de lançamento: 2016
Onde comprar: Amazon

Avaliação do MS?
Não vou dizer que será uma leitura fácil, porque você vai querer chegar até a última página rapidamente. Porém, quando você chegar, é provável que tenha a mesma reação que eu, querendo chorar e gritar pelo o que acabou de ler e pela forma como a autora te conduziu. No final, ainda tem algumas perguntas para um potencial clube do livro, para poder discutir sobre o que foi lido e tentar aceitar os fatos traumáticos da vida de Peggy. Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também.


Até mais!

Já que você chegou aqui...

Comentários

  1. Que babado!!!
    Fiquei instigada agora.
    Adoro triller psicológico, nunca mais li nada nesse gênero.
    Vou favoritar pra ler posteriormente.
    Fiquei tensa ÓÓ

    xoxo
    http://rascunhosehistorias.blogspot.com.br/

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  2. Confesso que fui leviano e ao juntar uma capa comum com uma editora que está começando agora fiquei desconfiado, mesmo sabe que ela trará Octavia Butler.
    Eis que leio esse review e fico animado pra ler a obra
    Desculpa Morro Brancos. Vocês realmente começaram bem.

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