O exemplo de fadas que eu tinha vinha principalmente da Sininho, seres fofinhos, iluminados, que fazem o bem, com pózinho de pirlimpimpim. Quando peguei o livro de Sarah para ler, demorei a ligar uma coisa na outra pela forma como mostrou as fadas, ou feéricos. Guerreiros orgulhosos, senhores poderosos e humanos apavorados demais para sequer se aproximar deles. Uma terra de magia, uma terra de sensualidade, mas com uma protagonista que poderia ter sido bem melhor trabalhada do que foi.
O livro
Feyre é uma jovem humana de 19 anos, responsável pelo sustento da família. Uma vez, esta foi uma rica família de comerciantes. Seu pai, porém, perdeu toda a fortuna, a esposa morreu e ele ficou com três filhas para criar. Feyre, vendo a inabilidade do pai de manter o sustento, aprendeu sozinha a caçar para não deixá-los morrer de fome. É assim que o livro começa, com Feyre caçando na floresta gelada, preocupada com a magreza das irmãs. Eis então que ela avista um imenso lobo, chegando a cogitar que ele fosse um feérico. Por isso usou uma flecha de teixo, apenas por garantia e matou a fera.- Porque sua alegria humana me fascina, o modo como vivencia as coisas em sua curta existência, tão selvagem e intensamente e tudo de uma vez, é… hipnotizante. Sou atraído por isso, mesmo quando sei que não deveria, mesmo quando tento não ser.
Página 182
Em um primeiro momento, a personagem de Feyre é bem interessante. Ela não é aquela dama virginal esperando um príncipe, ela na verdade tem um caso com um amigo da vila, com quem fica de vez em quando, não sabe ler nem escrever (um erro que lhe custa caro depois) e é muito boa em caçar. Suas irmãs são ricamente descritas e nos livros seguintes e tornam peças de extrema importância na narrativa, especialmente Nesta, de longe bem mais interessante que a própria irmã. Feyre é o arrimo da família.
Uma noite, o casebre miserável em que moram é invadido por uma fera descomunal. O cheiro de magia invade as narinas de todos, ele é um feérico. Exige saber quem matou seu amigo, o lobo e como pagamento pela morte exige que a pessoa se entregue. Feyre não tem escolha, ela precisa ir e é levada para o outro lado da muralha mágica que separa os territórios feéricos da estreita faixa de terra onde vivem os humanos. Uma guerra feroz separou os territórios há 500 anos, deixando humanos apavorados pela simples menção da palavra feérico.
Do lado de lá a vida de Feyre muda completamente. Ainda se borrando de medo, ela é levada para a mansão daquela fera horrorosa, que se mostra na verdade um feérico muito bonito, chamado Tamlin, mas com uma máscara grudada no rosto. Aliás, todos os que vivem e trabalham na casa a possuem. Feyre sabe apenas que uma praga se apoderou daquelas terras há quase 50 anos, uma praga mágica, que foi a responsável pela máscara que nunca saía. É aqui que a história começa a dar uma caída, pois Feyre fica tão deslumbrada com tudo o que vê depois que perde o medo que às vezes ela perde a inteligência.
Apesar de lembrar A Bela e a Fera, sem dúvida uma referência para o livro, a autora não se manteve só na lenda. Perto do final, o livro dá uma guinada totalmente inesperada e termina com uma Feyre que tinha desaparecido lá pelo miolo. Onde ela estava? Por que ficou tão apagada? Sarah podia ter tornado essa personagem muito mais interessante, como ela era no começo. Neste momento, Feyre será testada e rapidamente julgada como fraca pelos feéricos apenas por ser humana. Uma discussão bem interessante sobre preconceito, aliás. E guarde este nome: Rhysand.
O livro tem cenas de sexo, às vezes com palavras que só podem ser repetidas entre quatro paredes, então não recomendo para adolescentes com menos de 16 anos. A Corte Primaveril, que é para onde Feyre foi levada é ricamente descrita. Aliás, os personagens da corte e depois de Sob A Montanha também o são. Feyre, que sem sal volta a ser interessante nas últimas páginas, assume a ação e luta para libertar seu amor das garras de uma criatura poderosa. O livro acaba valendo por esse final, pois se seu disser que lembro de alguma coisa do miolo, estou mentindo.
Obra e realidade
Um ponto a se destacar em obras de fantasia em que mundos colidem é o preconceito. Aqui não é diferente. Humanos odeiam feéricos, feéricos odeiam humanos. Mas as coisas não são assim tão simples. Qual é a origem desse ódio, como que surgiu o preconceito? A personagem de Feyre, mesmo sendo humana, mostra aos feéricos que pode ser forte de outras maneiras, não apenas fisicamente. Essas são qualidades - perseverança, ousadia, coragem - que vemos nos heróis, mas sempre que entra uma mulher como heroína, muita gente torce o nariz. Por que? Uma mulher não pode lutar pelo o que acredita?O livro também é sobre erros. Os erros que o pai de Feyre cometeu que deixou a família daquele jeito, os erros que a própria Feyre comete, os erros dos feéricos, longe de ser aquelas criaturas perfeitas e etéreas. Erros que precisam ser corrigidos, mas que podem custar muito caro. Nesse sentido, a protagonista certamente tem valor.
Sarah J. Maas é uma escritora americana de fantasia e young adult, best-seller, com livros publicados em vários países. Seu primeiro livro, Trono de Vidro, foi escrito em capítulos separados e publicados na internet quando Sarah tinha apenas 16 anos.
PONTOS POSITIVOS
Feéricos
Rhysand
Bem descrito
PONTOS NEGATIVOS
Se arrasta no meio
Feyre
Violência
Feéricos
Rhysand
Bem descrito
PONTOS NEGATIVOS
Se arrasta no meio
Feyre
Violência
1. Corte de Espinhos e Rosas
2. Corte de Névoa e Fúria
3. Corte de Asas e Ruína
Avaliação do MS?
Pena que Feyre perde a graça e a história se arrasta no meio do livro. Com um começo e fim muito bons, sua trajetória poderia ter rendido muito mais do que rendeu. Feyre certamente não é perfeita, é uma humana que comete erros como todas nós, mas Sarah pareceu não saber o que fazer com ela aqui, o que muda muito no próximo livro, onde os personagens simplesmente se transformam, todos eles. Três aliens para o livro.Até mais!
Comentários
Postar um comentário
ANTES DE COMENTAR:
Comentários anônimos, com Desconhecido ou Unknown no lugar do nome, em caixa alta, incompreensíveis ou com ofensas serão excluídos.
O mesmo vale para comentários:
- ofensivos e com ameaças;
- preconceituosos;
- misóginos;
- homo/lesbo/bi/transfóbicos;
- com palavrões e palavras de baixo calão;
- reaças.
A área de comentários não é a casa da mãe Joana, então tenha respeito, especialmente se for discordar do coleguinha. A autora não se responsabiliza por opiniões emitidas nos comentários. Essas opiniões não refletem necessariamente as da autoria do blog.