Resenha: Os Pássaros, de Frank Baker

Apesar de vender essa ideia com o título, este livro não é a novelização do filme de Hitchcock, nem mesmo é o livro que inspirou o filme. Podemos reconhecer uma cena ou outra, como o ataque da cabine telefônica, mas esqueça o filme de 1963, este livro foi escrito em 1936. E segundo conta a história, o filme foi baseado no conto de mesmo nome de Daphne du Maurier, de 1952.



Parceria Momentum Saga e
editora DarkSide

O livro
Quem abre o livro é Anna. No prefácio ela conta sobre o pai e de como ele repetia constantemente "antes da chegada dos pássaros". Curiosa sobre este mundo que ele conheceu e ela não, Anna lhe pede que conte um dia o que viu, ouviu, viveu e quando ele aceita, seu pai senta com a filha, todas as noites, enquanto ela anota as passagens narradas por ele.

Resenha: Os Pássaros, de Frank Baker

É a Londres de 1935 que se observa nestas páginas - o mundo anterior à chegada dos pássaros; um mundo que não tinham televisão, aviões a jato ou bombas atômicas. Ainda assim, é um mundo que difere pouco do atual, exceto que agora há muito mais pessoas e a correria cotidiana é mais veloz. Mas os pássaros também estão mais ligeiros. Se eles viessem hoje em dia, estariam ainda mais atentos aos horrores que infernizam a sociedade contemporânea.

Frank Baker

Baker é bem detalhista ao nos mostrar como era a Londres em que vivia, nos anos 30. E mesmo sem dar muitos nomes, nos fala de como os pássaros começaram a atormentar diversas pessoas, como um certo estadista alemão da época. Os pássaros surgem de forma misteriosa, pairando sobre as pessoas, sem comer, apenas observando, analisando as pessoas. Movendo-se como se fossem um só, a imensa massa de pássaros mata e faz pessoas desaparecer, afastando até mesmo os pássaros típicos de Londres.

O narrador, um alter ego do próprio autor, fala de suas angústias, sua bissexualidade, sua relação com a mãe, seu emprego enfadonho com um chefe chato e, principalmente, suas impressões sobre os pássaros. Quando ele percebe o que precisa fazer para vencer a massa da natureza que aterroriza o mundo e o quão inúteis são os esforços das autoridades para se livrar deles, decide convencer quem pode a sair de Londres.

Admito que houve momentos na leitura em que bocejei e não foi pouco. O narrador viaja na maionese em vários momentos, fazendo análises minuciosas demais de coisas sem importância. Mas há momentos em que ele analisa a sociedade em que vive e aí vemos como o livro de Baker envelheceu bem, pois é possível encontrar diversas similaridades com os dias atuais. A mídia e sua falta de moral, as pessoas que temem enfrentar seus medos e seus demônios pessoais, a hipocrisia da sociedade que prefere se esconder a lutar por seus ideais. O poder da religião sobre os mais desesperados, sem poder fornecer ajuda real a eles.

Essas divagações todas também deixam pontas soltas pelo caminho. Personagens que gostaria de ter conhecido melhor ficaram esquecidos e até mesmo a esposa dele tem uma aparição rápida demais. Apesar disso, o autor conseguiu captar nuances muito pertinentes da sociedade que, se analisarmos bem, não mudou tanto assim, por mais que hoje tenhamos internet, smartphone e televisão à vontade.

Este é um dos livros mais bonitos já feitos pela DarkSide. Não apenas a capa é muito bonita, como a arte interna do livro e a diagramação, com pássaros passando pelas páginas. A capa é dura e com uma fitinha para marcar a página. Não é só um livro, é uma obra de arte.

Ficção e realidade
Enfrentar seus próprios medos não é tarefa fácil. Nem todos conseguem e passam a ser dominados por eles. No livro, temos os pássaros para representar o demônio particular de cada um e essa manifestação física deles apavora demais, a ponto de deixar as pessoas incapazes de agir contra eles. Ao se deixar dominar pelos pássaros, a materialização dos medos e dos demônios pessoais, muitos pereceram.


O que Frank Baker pode nos dizer com isso? Que tipo de ensinamentos podemos ter uma obra de 80 anos? O que é preciso fazer para superarmos nossos medos e assim começar a viver? Frank foi ator, músico, escritor e roteirista. Escrevia, principalmente, temas sobrenaturais e de ficção especulativa.

Pontos positivos
Os pássaros
Análise histórica e social
Sua crítica permanece atual
Pontos negativos
Poucos dados sobre outros personagens
Leitura flui devagar

Título: Os Pássaros
Título original: The Birds
Autor: Frank Baker
Tradutor: Bruno Dorigatti
Editora: DarkSide
Páginas: 300
Ano de lançamento: 2016
Onde comprar: Amazon

Avaliação do MS?
Não é um livro fácil. Enfrentá-lo é como enfrentar nossos pássaros pessoais. Suas divagações e críticas podem ser longas algumas vezes, deixando a leitura arrastada e cansativa em algumas partes, mas é um relato vívido e rico de uma sociedade que se nega a ver seus medos, a enfrentá-los, até mesmo a reconhecê-los. E se sucumbirmos ao medo, a sociedade não terá chance. Quatro aliens para Os Pássaros e uma recomendação para você ler também.


Até mais!

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Comentários

  1. Eu não gosto muito de expressões como "envelheceu bem" ou "envelheceu mau", sou do clube dos que acham que a história é feita de continuidades e rupturas e quando a gente para e analisa um tempo com mais de 50 anos pode perceber o que continuou e o que mudou. Confesso que me assustou como muitas coisas que Baker percebeu no inicio do século XX continuam no inicio do século XXI ou até pioraram, as criticas que ele fez se aplicam a nossa sociedade. A força influenciadora da mídia vem se construindo da forma que é há um bom tempo, assim como desequilíbrios ecológicos causados por nossas ações já eram percebidos e problematizados. Também achei a narrativa lenta em alguns momentos, esperava um livro mais agitado, mas no final como sou afeita a observar e divagar sobre tudo e nada acabei gostando da leitura e concordo com você, a edição da Dark é uma obra de arte!

    Jaci
    O Que Tem Na Nossa Estante

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    Respostas
    1. Eu já disse isso antes, mas vou repetir: a visão que a História tem do tempo é diferente da visão da Geografia.

      Nisso teremos que concordar em discordar.

      Excluir

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