For the Love of Spock, o melhor documentário que você verá hoje

For the Love of Spock, o melhor documentário que você verá hoje

A ideia original do documentário era de ser uma homenagem aos 50 anos de Star Trek, completados agora em 2016. Adam, filho de Nimoy, juntou-se com o pai para rascunhar o documentário em 2014, mas Leonard, fragilizado por uma doença pulmonar causada pelo cigarro, lamentavelmente faleceu antes do projeto se concretizar, em 27 de fevereiro de 2015. Sabemos bem como o fandom de Star Trek é atuante e ele convenceu Adam a continuar o documentário, por financiamento coletivo, mas dessa vez no formato de uma homenagem ao pai, sua carreira e, sobretudo, Spock.

O documentário - que já está disponível na Netflix - não é o que eu esperava. Claro, eu imaginava que teria várias referências à Star Trek e à criação do personagem icônico e mais famoso da franquia, mas na verdade o que temos é uma mistura de narrativas. As de Adam, de sua irmã, dos atores que trabalharam com Leonard, tanto os mais novos, quanto os veteranos, imagens da vida privada e dos bastidores de Star Trek, declarações pessoais do próprio Leonard, como a criação da saudação vulcana. E é assim que podemos ver o ser humano por trás do ator, por trás do personagem.

Spock é uma unanimidade dentro da ficção científica. Você pode nunca ter assistido a um episódio de Star Trek antes, mas conhece a saudação, a frase icônica, as orelhas pontudas. Poucos personagens alçaram tal reconhecimento. Poucos personagens ficaram tão gravados no imaginário popular quanto Spock. E claro que toda essa fama trouxe consequências para a família Nimoy.

Leonard conta sobre a concepção de Spock e como ele passou a funcionar com a entrada de Shatner no elenco. Assim ele pode fazer um personagem muito mais centrado, frio e lógico como exigia sua origem vulcana. E como na época ele trabalhava com qualquer coisa, até mesmo de marceneiro, para sustentar a família, qualquer oportunidade que pintava para aparecer de Spock, ele ia. E era exaustivo trabalhar a semana inteira no estúdio, dez, doze horas por dia e no final de semana sair voando pelo país. Foram várias as vezes em que ele chegou de madrugada, foi direto para o estúdio, dormiu no sofá do camarim para de manhã interpretar Spock novamente.

Adam e o pai

Isso teve um custo para a família. Se inicialmente eles topavam aparecer em sessões de fotos, com o tempo elas se tornaram invasivas. Sem querer, uma revista divulgou o endereço da família, ao invés do endereço do estúdio, e eles começaram a receber toneladas de cartas. As pessoas tocavam a campainha e pediam para falar com Nimoy, pediam que ele fizesse a saudação vulcana e que falasse Vida Longa e Próspera. Leonard se afastou cada vez mais da família devido às longas horas no estúdio, começou a beber e isso teve um alto custo em sua vida familiar.

Leonard era um artista completo. Não era apenas um ator. Era escritor, tendo escrito dois livros famosos I am Spock e I Am Not Spock, onde ele explica sua relação com o personagem. Houve críticas, claro, pois muitos fãs entenderam que Leonard rejeitava o personagem que o levou à fama absoluta. Longe disso. Sua relação com Spock era como qualquer relação humana, conflituosa, com emoções e sentimentos muito humanos.

Passei por uma grande crise de identidade. A questão era se abraçava o Sr. Spock ou se lutava contra as investidas do público. Percebo agora que eu realmente não tinha escolha no assunto. Spock e Star Trek estavam muito vivos e não havia nada que eu pudesse fazer para mudar isso.

Leonard Nimoy

Era também um fotógrafo talentoso. Seu trabalho The Full Body Project visava desafiar os padrões de beleza que exigem mulheres magras, algumas ao extremo, e enalteceu a beleza da mulher gorda com fotos de corpo inteiro. Para ele, as mulheres ouvem uma vida inteira como elas devem ser, como devem ser vestir, como devem seus corpos e o importante é ser quem você quiser ser.

E não vamos esquecer o cantor, não é mesmo? Quem nunca se divertiu com The Ballad Of Bilbo Baggins? Leonard também era produtor e diretor, tendo dirigido vários filmes de Star Trek.

O documentário traz depoimentos do casal de filhos e Adam comenta sobre a difícil relação que teve com o pai. No entanto, uma coisa é inegável: o amor entre eles. For the Love of Spock é um tributo, mas também uma declaração de amor a uma personalidade incrível, um artista completo, um pai que tentou, sempre querendo acertar, um ser humano complicado, profundo, com defeitos e qualidades como todos nós.

Título: For the Love of Spock
Direção: Adam Nimoy
Lançamento: 16 de abril no Festival de Tribeca
Duração: 1h51m
Idioma: inglês
Onde ver: disponível na Netflix

Vida longa e próspera! 🖖

Já que você chegou aqui...

Comentários

  1. Faltou a Estela da morte no final, pq esse documentário é essencial! ;-)

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  2. Assisti ainda ontem e foi diferente do que eu esperava, também. Gostei muito de conhecer a pessoa por trás do personagem e não me decepcionar com ela (a gente sempre assiste a documentários biográficos com um medinho, né?). Mas Nimoy foi um cara incrível e o admiro ainda mais, agora.

    Você já chegou a assistir The Captains, do Shatner? Tem na Netflix, também. Gostei de ouvir os atores falando sobre sua relação com seus capitães, mas acabou girando mais em torno de Shatner, como era o esperado...

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    Respostas
    1. Shatner se dá muito valor, sabe? Capitão Kirk é mais um capitão, não é O Capitão, como ele acha que é. Tanto que Spock ficou eternamente marcado na cultura pop e ele se morde por isso. =D

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  3. O engraçado é que o trekker da casa sou eu, mas foi minha esposa quem me pegou pelo braço para assistir ao documentário, com muito medo de ver a imagem que eu tinha do Nimoy ser destruída. Mas não. Só ficou claro que o meio-vulcano que vemos na tela é no mínimo, tão complexo, intenso e - por que não - fascinante quanto o ator que lhe deu vida.

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