Resenha: Bom Dia, Verônica, de Andrea Killmore

Peguei este livro sem muita expectativa, intrigada com a apresentação dele, em uma caixinha personalizada e bizarra, com o meu nome escrito. Na capa, o adesivo diz que ele é para fãs de Hannibal e True Detective. Foi uma grata surpresa ler este livro que se passa em São Paulo, que traz uma protagonista complexa e intensa, crimes bizarros e necrofilia. Tem muita coisa nele para discutir.



Parceria Momentum Saga e
editora DarkSide

TW: violência contra a mulher

O livro
Verônica, ou Verô, é secretária. Seu chefe é um delegado veterano e mala do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa, da Polícia Civil. Verônica acha seu trabalho chato, está presa na rotina de um casamento e sente que a vida poderia ser mais intensa do que é. Eis então que algo acontece: ela chega ao trabalho e da sala do delegado Carvana, seu chefe, sai uma moça com uma infecção bizarra na boca, abatida e triste. Ela se joga da janela do 11º andar do DHPP em seguida.


Verônica se compadece da situação da vítima, Marta. Ela foi enganada por um aproveitador que a dopou, no estilo "Boa-noite Cinderela", a estuprou e a roubou. Assim, Verô decide investigar por conta própria. Verô, no entanto, é escrivã de polícia, filha de delegado, não é uma investigadora. Paralelamente a isso, temos a história de Janete, que casou nova, ingênua e totalmente apaixonada por um policial militar. Mas ele a controlava, oprimia, impedia que mantivesse contato com a família e ainda por cima é um assassino, obrigando a esposa a ser sua cúmplice. Quando ela vê Verônica dando uma entrevista no jornal da noite, decide ligar para ela e acabar com seu tormento. Mas falta coragem para continuar.

Tanto Janete quanto Verônica foram muito bem construídas. Elas têm virtudes, têm defeitos, têm desejos e medos, me pareceram pessoas muito reais. E Janete, uma mulher que vive violência doméstica e opressão dentro de casa, acaba passando uma mensagem para todos aqueles que não entendem porque tantas mulheres acabam não denunciando maridos ou saindo dessa situação de abuso. A própria Verônica comenta em um determinado momento sobre os problemas que as mulheres enfrentam ao buscar a justiça:

Forcei um sorriso, concordando com ele. Mais do que um soco, o velho merecia umas porradas. Machista de merda. Eu sabia quanto era difícil para qualquer mulher vir até uma delegacia prestar queixa, ter que vencer a vergonha e explicar como foi feita de trouxa por um galã que lhe fez juras de amor via internet.

Página 16

Janete tem a esperança de que o marido mude, que se ela o amar o suficiente, ele nunca mais fará algo errado. E sabemos bem que isso não é verdade. Brandão, o marido de Janete, tem todas as características do abusador e psicopata que ela se recusa a ver. E muitas vezes eu quis sacudir Janete para que ela acordasse da hipnose. Porém, alguém que nunca conheceu outro homem na vida, que é totalmente dependente dele e que o ama de verdade não consegue perceber o abuso que sofre.

A mente de Verô funciona de tal maneira que você termina o livro e fica de queixo caído de como duas histórias que não têm ligação se transformam para funcionar a seu favor. E ela não é aquela Mary Sue que muitas vezes lemos, Verô faz burradas, coloca a vida dos outros em risco, mas corre para tentar arrumar a bagunça. Isso foi o que mais gostei nela, ela é crível, é alguém real.

A história da autora talvez nos ajude a entender um pouco a obra. Andrea Killmore é um pseudônimo e nada se sabe sobre a autora, que era da polícia e após uma tragédia pessoal, mudança de vida e de lutar contra a depressão viu a literatura como uma forma de dar vazão às ideias e emoções. Isso explica porque Verô é tão real. Ela critica a polícia, critica governo, tenta ser justa e fazer justiça mesmo que por meio não-ortodoxos e tendo que lidar com dois psicopatas, um deles necrófilo.

A edição da DarkSide está muito bonita, em capa dura, detalhe em roxo na contra-capa lembrando uma caixa de madeira, cujo significado é bem intenso no enredo. Há desenhos de roldanas, correntes e polias, o que já deixa um recado sobre o destino de algumas das vítimas. Há críticas ao machismo, à ineficiência da justiça e às instituições.

Ficção e realidade
Lembro que quando li os livros sobre serial killers, da Ilana Casoy, uma passagem da autora me assustou bastante. Ela disse que no Brasil a polícia demora muito a acreditar que haja um serial killer em ação e que, quando finalmente começa a investigar sob esta perspectiva, o número de vítimas já cresceu muito. Essa ineficiência e incapacidade de interligar casos e modus operandi acaba custando vidas e dilacerando famílias.

Há vários momentos em que Verônica pede a ajuda do delegado para o qual trabalha e ele desdenha de seus pedidos, assim como desdenhou de Marta, que acabou se matando. Isso também uma amostra de como as autoridades tratam mulheres vítimas de aproveitadores, estupradores e maridos violentos. Ela no fim fica com vergonha de contar tudo o que aconteceu, sentindo-se culpada e mesmo aquelas que denunciam, conseguem medidas protetivas, acabam não tendo a tão esperada proteção que precisam. Enquanto isso, o número de vítimas cresce.


Pontos positivos
Thriller e suspense
Verônica
Bem detalhado e vívido
Pontos negativos
Violência contra a mulher
Pode ser meio nojento


Título: Bom Dia, Verônica
Autora: Andrea Killmore
Editora: DarkSide
Páginas: 256
Ano de lançamento: 2016
Onde comprar: Amazon

Avaliação do MS?
Acredito que Bom Dia, Verônica seja o novo clássico da literatura policial brasileira, uma leitura intensa e recheada de surpresas e caminhos tortuosos. É também um livro com informações técnicas e críticas pertinentes à nossa polícia e ao tratamento dado às vítimas quando buscam justiça. Não é um livro longo, eu consegui ler em um dia apenas. Há momentos em que é bem difícil ler as passagens violentas, mas a forma como a autora o fez foi na tentativa de mostrar a cabeça do assassino em funcionamento. Cinco aliens para Verô e uma recomendação para você ler também.


Até mais!


Já que você chegou aqui...

Comentários

  1. Depois dessa sua resenha maravilhosa, entrei no site e tou comprando o livro AGORA hahahaha <3

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  2. Adicionando no carrinho da Amazon em 3, 2, 1! Em geral não gosto de romances policiais pq se localizam muito fora do tipo de realidade de violência que frequento então não me prendem. Mas, pelo o que foi dito em sua resenha "Bom Dia, Verônica" diz respeito a algo mais próximo do que vivo, consequentemente me interessa demais.

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  3. Recentemente retomei meu gosto por policiais com Eu Vejo Kate (eu não lia nada do gênero há anos), então esse livro me deixou muitíssimo interessada! É compra certa!

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  4. Já foi para lista! Amei a resenha que você fez, e o fato da escritora ter uma relação íntima com o assunto que aborda. Entrando grana eu compro! Amo seu trabalho.

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