E se um dia você chegasse em casa depois de uma festa e descobrisse dois grandes buracos no teto e que seus pais estão desaparecidos? Pesado, né? Este é o princípio do livro Vivian Contra o Apocalipse, de Katie Coyle, que faz contundentes críticas ao fundamentalismo religioso. E vindo dos Estados Unidos, me espanta o livro não ter tanto reconhecimento quanto deveria.
O livro
Vivian chega de uma baladinha na madrugada. Sua melhor amiga, Harper, resolveu comemorar e chutar o pau da barraca no dia pré-arrebatamento. A Igreja Americana vinha prometendo que os fiéis justos e corretos, aqueles puros seguidores, seriam arrebatados numa determinada data e que os infiéis morreriam nas chamas do inferno. Assim, vários adolescentes não-Crentes se reúnem em uma festinha para comemorar o evento e, quem sabe, começar os preparativos.Mas para a surpresa de Vivian, tudo o que ela encontra no quarto dos pais pela manhã são dois buracos no teto. Eles simplesmente sumiram. E não só eles. Pouco tempo depois de descobrir isso, sua melhor amiga chega em sua casa, alarmada com a situação lá fora. Os crentes que não foram arrebatados estão pirando com isso. Se eles fizeram tudo certo, como puderam ser deixados para trás? Começa uma histeria pelas ruas, gente dizendo que o apocalipse estava próximo e gente que até começa a duvidar que a Igreja Americana estivesse mesmo certa. Mas se eles acertaram o arrebatamento, por que não acertariam o fim do mundo, certo?
Vivian vê o mundo virar de cabeça para baixo. De repente, a Igreja Americana explode de tantos adeptos. E isso ela não vê com bons olhos, já que todo o tipo de preconceitos, em especial com os gays, começa a se tornar uma política comum. Isso foi bem interessante do livro, de como a autora usou de fatos que, para nossa tristeza, infelizmente acontecem porque tem gente que não respeita o semelhante. A autora faz críticas poderosas contra a indústria clerical e o fundamentalismo religioso. Nos Estados Unidos existem algumas feridas, como o suicídio coletivo da igreja de Jim Jones onde, em novembro de 1978, 918 de seus membros em Jonestown, na Guiana, se mataram. Aliás, a autora coloca vários paralelos entre a Igreja Americana e o Templo dos Povos, de Jim Jones.
A autora também foi cuidadosa ao tratar do assunto com os adolescentes, que são o alvo do livro. Ao invés de apontar o dedo para uma igreja específica, ela criou outra, inclusive com um livro novo, de onde as pessoas tiravam trechos para justificar atrocidades, assim como muita gente faz com a Bíblia e com o Alcorão. O Livro de Frick se torna a nova bíblia desse povo, os Crentes, que abominam tudo o que os não-Crentes fazem e são. A sociedade começa a se dividir e milhões passam a se converter e contribuir para a Igreja Americana.
Não acredito em ódio. Não acredito em dinheiro. Não acredito em Deus. Não acredito que seja tarde demais.
Uma coisa que me agradou é como o núcleo do enredo é feminino. É Vivian, sua melhor amiga, sua mãe, sua professora mais querida (de longe a pessoa mais sensata do livro todo) e mesmo os personagens masculinos foram bem construídos. Vivian amadurece muito durante a narrativa e precisa aprender que nem tudo é tão estanque como ela acha que é. O mundo não é dividido apenas entre Crentes e não-Crentes e ela não pode usar sua experiência negativa com a Igreja Americana como um gradiente de valor com todo mundo.
O ebook está bem diagramado, a tradução de Flora Pinheiro ficou boa, mas existem alguns erros de digitação e de revisão. Você pensa em todo o tipo de situação para o arrebatamento, até que quando você realmente sabe até parece meio sem graça, sabe?
Obra e realidade
Em tempos de Escola Sem Partido e política da mordaça em sala de aula, ver um livro tratar do tema com tamanha propriedade foi muito bom. Já venho dizendo tem algum tempo de como nossos jovens estão lendo sobre política, ditadura, opressão, perda de direitos civis em livros que muito adulto rechaça apenas por ser juvenil. Em Harry Potter, os alunos também defenderam sua escola, assim como os adolescentes vêm fazendo ao ocupar as escolas públicas contra a PEC do Fim do Mundo e contra o Escola Sem Partido e a reforma do ensino médio. Em algum momento, essas leituras os atingem e os inspira.Vivian tem as dúvidas que todo adolescente tem enquanto cresce. E é saudável tê-la, é saudável questionar seu mundo. O problema é guardar tudo isso para si, não ter com quem dividir, não ter com quem partilhar das mesmas neuras, não ser compreendido. E pelo menos na literatura, esse jovens estão em pé de igualdade com muitos protagonistas com os quais podem ser identificar.
Katie Coyle é uma escritora norte-americana, autora de livros para jovens adultos.
Pontos positivos
AmizadeCríticas ao fundamentalismo
Personagens bem descritos
Pontos negativos
Bem devagar e confuso em algumas partesO arrebatamento não impressiona
Avaliação do MS?
Fiquei na dúvida se esse livro chega a ser uma distopia ou não. Pois o lugar onde acontece, as críticas, os personagens, são muito próximos de nossa realidade. É um mundo que de fato acontece, onde gays são mortos por serem gays, onde igrejas inescrupulosas estão dilapidando seus fiéis com falsas promessas. Essa é a principal crítica e o mérito do livro. Quatro estrelas para o livro e uma recomendação para você ler também.Até mais!
Consegui despertar minha curiosidade! Gostei muito da resenha e da tônica da história, vai entrar na minha lista de desejados.
ResponderExcluirAmei a resenha, esse livro é perfeito
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