Apesar de vermos avanços no que se refere a uma condição mais igualitária de gênero para a mulher nas ciências, este ainda é um campo majoritariamente masculino. E como se não bastasse isso, mulheres ainda são assediadas, sua competência questionada, estereótipos ainda prejudicam sua atuação, como a de que mulheres são mais sensíveis e se apaixonam por seus colegas de laboratório e por aí vai. Precisamos de apoio, reconhecimento e, o principal, oportunidades.
Dados do Instituto Avon/Data Popular mostram que, no Brasil, metade das universitárias já sofreu assédio, sendo que quase 30% delas já passaram por violência sexual durante a vida acadêmica. Muitas mulheres chegam ao auge da carreira acadêmica e acabam tendo de escolher entre a maternidade e a academia e isso não é justo. Ações afirmativas deveriam ser feitas para garantir que esta cientista, ao voltar da licença maternidade, continue a produzir e a experimentar. Maternidade não pode ser um motivo para afastar pesquisadoras da pesquisa.
Muitas vezes, as alunas também são desencorajadas a seguir para a pós-graduação e se envolve, além do gênero, também raça, as negras são consideradas faxineiras, técnicas ou zeladoras das instituições universitárias e não estudantes e/ou pesquisadoras. Negar o direito ao trabalho e à pesquisa de metade da população mundial, sendo que já se sabe que garantir o acesso à educação de meninas é um dos fatores de crescimento das nações, é sabotar os próprios alicerces da democracia.
O Brasil não foge à regra do restante do mundo. Na classificação conferida pela bolsa de produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), as mulheres representavam, em 2005, pouco mais de um terço dos pesquisadores em todas as áreas. Já para os bolsistas considerados 1A, o topo da classificação, a taxa de mulheres cai para 23%. Nas ciências exatas, como na Física, as mulheres respondiam por apenas 3% das bolsas 1A em 2005.
É preciso fazer mais. Para começar, universidades devem ter canais acolhedores e abertos para receber denúncias de violência sexual e punir os agressores de acordo. Não adianta fazer palestras na universidade contra a violência de gênero e depois suspender um aluno estuprador e ainda lhe dar um diploma no final. Em seguida, reforçar que mulher não tem culpa das violências que sofre e garantir que rondas e polícias universitárias, funcionários e professores saibam disso.
Palestras, encontros e coletivos feministas dentro das universidades, realizando encontros que incluam alunos, funcionários e professores para discutir disparidade e violência de gênero, como garantir ambientes mais acolhedores para a mulher na universidade e combater estereótipos negativos, como o de competição entre mulheres ou de que mulheres são "naturalmente mais emotivas". Esses são passos para políticas afirmativas dentro dos ambientes universitários que podem, efetivamente, mudar posturas e atitudes. Garantir salários iguais e concessão de bolsas e renovação das mesmas baseando-se na competência e não no gênero.
Prêmio L'Oréal UNESCO ABC Para Mulheres na Ciência
No Brasil, existe apenas um único prêmio que reconhece pesquisas inovadoras de cientistas brasileiras. A edição nacional do prêmio For Women in Science já tem onze anos, distribuindo recursos e reconhecimento para a ciência brasileira. É preciso ações afirmativas como essa para abrir caminho para outras que agora estão na graduação, no mestrado, no doutorado. Ver a ciência sendo reconhecida desta maneira pode ajudar a essas jovens a encarar a ciência como uma carreira, como um objetivo.A premiação da edição nacional aconteceu no dia 20 de outubro, no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, onde mais uma vez reforçou-se o empenho e a perseverança destas mulheres que, além de lidarem com ambientes muitas vezes masculinos, também precisam encarar a falta de financiamento público e privado nas academias. A L'Oréal acaba mandando uma mensagem a outras grandes empresas do setor privado ao encabeçar o prêmio de que é possível sim que os dois setores trabalhem juntos. A própria empresa possui centros de pesquisa e desenvolvimento na criação de seus produtos, que envolvem uma ciência que não vemos ao levar um creme pronto e envasado para casa. Essa ciência precisa ser mais próxima da sociedade, já que é ela quem recebe os benefícios.
É a única iniciativa no Brasil, poderia avançar mais, como aumentar o valor do prêmio, pois alguns equipamentos e materiais são muito caros, mas já é um trabalho de grande importância. Anualmente, o L’Oréal-UNESCO For Women in Science também premia 5 cientistas, uma de cada continente e/ou região (África e países Árabes, Ásia-Pacífico, Europa, América Latina e América do Norte), com uma bolsa-auxílio de 100 mil dólares. Nas 18 edições, cinco brasileiras foram contempladas com essa bolsa. Também são oferecidas bolsas de estudo através de premiações locais para jovens promissoras pesquisadoras em momentos cruciais de suas carreiras.
Em parceria com a UNESCO, a Fundação L’Oréal já reconheceu, desde 1998, mais de duas mil mulheres em 115 países, com 92 cientistas premiadas no programa global e 2438 jovens mulheres que receberam bolsas-auxílio para prosseguir com seus promissores projetos de pesquisa.
Por mais mulheres na ciência, por mais trabalhos reconhecidos, por mais suporte e apoio, tanto do setor público quanto do setor privado. Investir na educação de mulheres é garantir o futuro das gerações seguintes e do próprio país. Parabéns às premiadas!
Até mais!
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Iniciativa excelente. O futuro científico mundial passa pela visão, discernimento e capacidades femininas. Muito já foi conquistado em direitos, representatividade, contribuições, mas torço por uma amplitude ainda maior, em novas ideias, pensamentos fora do sentido comum que atualmente se vê, descobertas advindas do sensorial feminino... Há muito a contribuir, indo aonde poucas já estiveram, audaciosamente indo ao infinito e além. Parabéns pelo post.
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