Resenha: Em Algum Lugar nas Estrelas, de Clare Vanderpool

Eu não sabia bem o que esperar desse livro. Um garoto vai para um colégio interno, sentido-se sozinho e vazio, tendo que lidar com a morte repentina da mãe, enquanto o pai volta para a guerra. É difícil fazer amizades, é difícil ficar longe do pai, é difícil crescer.


Parceria Momentum Saga e editora DarkSide


O livro
Anos 40. Jack está de luto. Sua mãe morreu e seu pai, militar, o tirou do quente Texas e o colocou em um internato no Maine. Distante do mundo que conheceu, tendo que lidar sozinho com a morte da mãe e com um pai distante, Jack se sente deslocado na escola. O clima do Maine, a paisagem, o mar, tudo lhe é estranho, alheio. Sente saudades da mãe e do pai, mas ele também não consegue lidar com a morte da esposa.

Resenha: Em Algum Lugar nas Estrelas, de Clare Vanderpool

Conforme os dias passam, Jack conhece Early, um garoto peculiar, que vive em um mundo próprio, com suas regras e costumes. Uma amizade improvável surge entre os dois, talvez porque ambos se sintam sozinhos na escola. Early, provavelmente, é autista, pela forma como se comporta e pelo comportamento, mas a autora não define se é ou não, talvez por causa da época em que a história se passa.

Minha mãe era como a areia. Do tipo que o esquenta na praia quando você sai da água tremendo de frio. Do tipo que gruda no corpo, deixando uma impressão na pele para fazer você se lembrar de onde esteve e de onde veio. Do tipo que você continua achando nos sapatos e nos bolsos muito tempo depois de ter ido embora da praia.

Página 26

Early é obcecado pelo número irracional Pi, que começa com 3,14 e segue até o infinito. É em volta do Pi que o enredo se desenrola, sobre um rapaz em uma jornada relacionada ao Pi e à constelação da Ursa Maior. Jack acha que as fábulas de Early a respeito do Pi são apenas uma historinha boba, mas os dois se põem em uma jornada em busca do Pi. Eles entram na floresta do Maine, onde se encontram em situações insólitas, que acabam condizendo com a narrativa de Pi.

Clare tem um jeito muito sensível de descrever as situações em que Jack e Early se encontram. A representatividade feminina nesse livro é bem baixa, o que me decepcionou. Ainda assim temos dois garotos sensíveis, com seus jeitos de ver o mundo, cada um com sua dor e sua busca. E ambos estão com dificuldades para crescer. Ninguém disse que seria fácil e se não é fácil para nós, para eles também não é.

O cenário é ricamente descrito. Somos inseridos na floresta do Maine de forma muito intensa. Conhecemos personagens ricos em vivência e que perambulam pela jornada dos dois amigos, entrando e saindo dela. Jack, que inicialmente tem pouca paciência para as fábulas do amigo, começa a perceber que a história do Pi e a própria história de Early possuem uma concordância e talvez ele não seja assim tão estranho quanto parece.

O livro da DarkSide é um show à parte. O livro não é bonito, ele é LINDO. Lindo, lindo de viver, de reler, de folhear. Não só a capa é muito bonita, mas nas contra-capas temos ricas ilustrações das constelações e cada capítulo é aberto pelo diagrama de uma constelação. O miolo é repleto de ilustrações ricas das constelações, com uma nota da autora no final e perguntas respostas sobre o número Pi. A tradução foi de Débora Isidoro e está muito boa.


Ficção e realidade
Lidar com o luto é bem complicado. Algumas pessoas podem nem conseguir lidar com ele ou o enterram bem fundo para que não possam sentir a dor da perda de um ente querido. Os dois garotos do livro perderam alguém recentemente e é interessante ver a forma como cada um está tentando lidar com isso. Jack chega a perder a paciência com Early várias vezes, por saber que é inútil discutir com ele, ou dissuadi-lo de sua missão para resgatar Pi. Early parece viver em um mundo próprio, com regras para ouvir música, com regras para a busca de Pi, com sua discussão com o professor de Matemática sobre o assunto.

Jack também tenta entender o pai, chegando a ficar com raiva dele, pois ele parece lidar muito bem com a morte da esposa a ponto de deixar o garoto em uma escola e voltar rapidamente ao trabalho. Somente depois Jack compreende que essa era uma forma de lidar com a morte, uma forma equivocada e que causou sofrimento a ambos. Fica evidente pelo livro o quanto os mundos internos das pessoas podem ser complicados.


Clare Vanderpool é uma escritora norte-americana de livros juvenis e para jovens adultos.

Olhamos para as estrelas com admiração e fascínio, mas o fascínio não é consequência só da veneração. É fruto também de uma pergunta: por quê?

Página 272

Pontos positivos
Amizade
Arte do livro
Personagens bem descritos
Pontos negativos
Bem devagar em algumas partes
A história sobre Pi pode ser confusa
Baixa representatividade feminina

Título: Em Algum Lugar nas Estrelas
Título original: Navigating Early
Autora: Clare Vanderpool
Tradutora: Débora Isidoro
Editora: DarkSide
Páginas: 272
Ano de lançamento: 2016
Onde comprar: na Amazon!


Avaliação do MS?
Um livro sensível, muito bonito, que trata de morte, busca e redenção em todos os seus personagens, até os coadjuvantes. Amadurecer nunca é fácil e para alguns pode ser uma tarefa muito difícil. São situações assim que nos fazem compreender melhor o mundo e as pessoas, mesmo que naquele instante não pareça. Quatro estrelas para o livro e uma recomendação para você ler também.




Até mais! ⭐


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Comentários

  1. Realmente é um livro bem sensível, cheio de sentimento. Faz jus ao selo DarkLove.

    Gostei bastante de como as fantasias de Early iam permeando a realidade e como a autora fecha toda essa história.
    Um livro bem interessante mesmo.

    Abraços
    naciadelivros.blogspot.com.br

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