Resenha: Jogador Número 1, de Ernest Cline

Demorei muito para ler esse livro por um motivo bem simples: como o Jovem Nerd tinha indicado e disse que era maravilhoso, logo assumi que era o Tratado do Nerd Punheteiro e deixei de lado. Dito e feito. Li o livro e tudo o que eu imaginava que seria estava por lá. Existem altas referências à cultura pop, nerdices e games, um prato cheio de conhecimento e informação, mas é só também.



O livro
Em 2044, a vida no planeta se tornou ainda mais difícil. Guerras constantes, os recursos naturais foram exauridos, a vida é dura para as pessoas pobres, vivendo à margem, em favelas e casas comunitárias. Assim é a vida de Wade, um adolescente que consegue computadores e outros equipamentos retirando do lixão e consertando. Desde que sua mãe morreu, foi obrigado a morar com uma tia que só o tolerava por causa do cheque que vinha todo mês.

Resenha: Jogador Número 1, de Ernest Cline

A vida só é mais suportável por causa do OASIS, uma plataforma de jogos online onde as pessoas podem assumir os mais variados avatares e até estudar, como faz Wade. O OASIS foi criado por Jamie Halliday, um gênio da computação, nerd de carteirinha. Porém, Halliday faleceu, deixando um mundo atônito com um desafio deixado para qualquer pessoa que quisesse se tornar milionária: ele escondeu um ovo no OASIS. Quem o encontrar primeiro ficará com sua fortuna de 240 bilhões de dólares, mais o controle do OASIS. Começa uma corrida contra o tempo, a imprensa fica em polvorosa. Surgem especialistas em Halliday, em cultura nerd, mas depois de cinco anos a busca pelo ovo acabou virando uma piada.

Wade Watts é um dos caçadores de ovo. Garoto pobre, 17 anos, terminando a escola. O OASIS é sua forma de escapar do mundo cruel em que vive. Seus amigos, seus jogos, seus estudos, está tudo lá dentro. Como nunca tem dinheiro, não pode viajar para outros mundos dentro do OASIS. Ele passa o tempo lendo, jogando, vendo filmes, séries e ouvindo música que Halliday gostava, tudo na tentativa de encontrar o ovo.

Mas aí seu nome fica famoso. Ele encontra a primeira pista. Assim que o placar online mostra seu nome, uma corrida perigosa começa. Até amigos começam a desconfiar um do outro. Perigos tanto reais quanto virtuais se aproximam de Wade, que acaba tendo que fugir dos trailers onde mora quando tentam matá-lo. Surge então o inimigo número dos caçadores de ovos: a IOI, empresa concorrente que quer achar o ovo para controlar o OASIS e assim botar a mão na grana de Halliday.

Se você curte referências nerds sobre games, filmes, séries, e tudo o que se refira aos anos 80, se joga nesse livro. Eu me diverti com as informações coletadas na pesquisa do escritor e vários fatos e curiosidades sobre o período e sua cultura. Isso é o que tem de mais legal no livro. Foi um grande esforço para recolher tantas informações geniais sobre um período tão rico.

Agora vamos para as partes ruins. Houve momentos em que o autor discorria tanto, mas tanto sobre tecnologia, isso e aquilo, que eu fiz leitura dinâmica, passei os olhos por cima e prossegui para a próxima página. Wade sabe tudo, entende tudo, já jogou tudo e mesmo as mancadas que ele dá, ou as justificativas que dá para saber tudo aquilo não convencem. As mancadas não o prejudicam, ele tem plano para tudo. As longas explicações que dá para qualquer coisinha são profundamente irritantes, reforçando o estereótipo do nerd que tem que saber o número do seguro social do dublê de Patrick Stewart em Star Trek Nemesis. Se não souber isso, você não é nerd o suficiente, especialmente se for mulher.

É claro que esse nerd é gordo, é claro que é antissocial, é claro que é punheteiro e que tem um crush mal resolvido. Como eu disse no começo da resenha, este livro é o Tratado do Nerd Punheteiro, com direito a todos os estereótipos já conhecidos. O nerd era mal visto, concordo. Talvez 15 anos atrás este livro fosse endeusado como sendo o momento da vitória. Mas não. As pessoas podem ser nerds, podem não ser, podem gostar do que quiser. Ao menos um ponto positivo foi a de não ver Wade se lamentando de ter ficado na ~~~~friendzone~~~~ ideia esta tão ridícula e fantasiosa quanto a de exigir carteirinha de milhas de moça nerd.

Por mais assustadora e dolorosa que a realidade possa ser, é também o único lugar onde se pode encontrar felicidade de verdade. Porque a realidade é real. Entendeu?


Ficção e realidade
Um mundo distópico com exaurimento de recursos naturais não é tão absurdo quanto parece. Já temos visto o que a falta d'água tem feito em algumas cidades tanto pelo mundo quanto no Brasil. É um risco real.

A forma com que os personagens se utilizam do OASIS para fugir dessa realidade terrível não é tão diferente dos nossos perfis nas redes sociais e nas conversas, tuítes, curtidas e check ins que damos nelas. A diferença é que a imersão ainda não é total como no caso do OASIS. Tirando o resto temos nossos amigos virtuais, salas de bate-papo, perfis e fotos para compartilhar.

Ouvimos música, vemos filmes e séries, relembramos os tempos da infância e adolescência através da rede. Não é tão diferente do mundo de Wade, certo? Mas tem uma coisa que o próprio Wade percebe. Ele se isolou tanto da sociedade em um determinado momento que chegou ao extremo de ter uma roupa especial que recolhia seus excrementos só para não sair do OASIS. E sabemos que existem pessoas já viciadas em smartphone, redes sociais e games.

Ernest Cline

Ernest Christy Cline é um escritor, poeta e roteirista norte-americano.

Pontos positivos
Nerdismo
OASIS
Cultura pop

Pontos negativos

Nerd punheteiro
Deus ex machina

Título: Jogador Número 1
Título original: Ready Player One
Autor: Ernest Cline
Tradutora: Carolina Caires Coelho
Editora: Leya
Páginas: 464
Ano de lançamento: 2011
Onde comprar: na Amazon


Avaliação do MS?
O livro tem suas partes legais. As referências à cultura pop, aos anos 80. Nota-se que foi uma pesquisa bem feita. Só que o personagem não apresenta nada de novo. Ao contrário, tem mais do mesmo no que se refere a estereótipos e reforça uma cultura do nerd obcecado sem vida social que tem paixão platônica. É algo tão previsível quanto o final. Se quiser ler, fique à vontade.




Até mais!

Comentários

  1. Olá! Eu ouvi o livro como audiobook, e realmente tive essa impressão o Wayde/Parzival também. Eu comecei a desgostar dele que nem a gente desgosta de um fã fanático de star wars que vive, respira, e gira em torno do fanatismo e decidiu que o mundo não criou nada mais de bom desde 1990. Mas eu gostei muito dos outros personagens, a Art3mis é sempre mais inteligente ( e nerd ) que todo mundo, e ela tenta bastante não se deixar levar pelas nerdices e ideias pré-concebidas do Wade. Eu curto ter o japones mesmo sendo esteriotipádo e eu vi o final do "H" vindo de longe, e foi o mais legal pra mim. Eu gostei de ver que ninguém era perfeito, e que ninguém era "normal". Tinham personagens heteros, homosexuais, novos e velhos. Eu só não acreditei muito no mundo estagnado deles dominado por uma corporação maligna. Pra mim sempre evoluiremos de um jeito ou de outro, sempre vai ter um filme/livro/jogo independente muito legal que explode de tempos em tempos, e ver que o mundo deles simplismente se estagnou na criatividade só mostra pra mim como o Wade é realmente um nerdão esteriótipo chato que não olha ao seu redor.

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