Resenha: Através do Universo, de Beth Revis

Tenho percebido que as distopias adolescentes estão adotando uma nova visão de mundo: ao invés de estados totalitários em um mundo pós-guerra que precisou se reconstruir, os enredos estão migrando para naves espaciais gigantescas, viagens pelo espaço, colônias precisando sobreviver. É um cenário incrível, ainda mais quando é bem trabalhado, como é o caso de Através do Universo.

O livro
A cena de abertura do livro já é de arrepiar. Amy está com os pais na nave Godspeed, programada para partir rumo ao sistema Alfa Centauro, para um novo planeta, em uma viagem que vai levar 300 anos. Seu pai queria que ela estivesse presente para ver o processo e assim decidir se iria ou não com seus pais, que eram membros da expedição. Sua mãe vai primeiro, nua, em um esquife. Seu sangue é trocado por uma solução gelada, tubos são inseridos em sua garganta, um colírio especial colocado nos olhos para impedir danos. A ideia era mostrar para Amy o que ela enfrentaria e se decidisse ficar na Terra, eles não a condenariam.

Resenha: Através do Universo, de Beth Revis

Mas Amy resolve partir com eles. Ela deixa os parentes, os amigos e o namorado e se submete ao procedimento extremamente doloroso de congelamento, enquanto ouve o papo dos técnicos falando sobre a partida da nave, que parece ter sido atrasada. Ela permanece em um eterno agora, sonhando em seu esquife de gelo, desejando ardentemente rever os pais e sair ao ar livre, andar pela superfície de Terra-Centauri, o planeta que será colonizado pelos tripulantes da Godspeed.

No entanto, a nave é governada por um sujeito chamado Eldest (ou Ancião, o que aliás teria ficado bem melhor). Já reparei que em vários livros os tradutores deixam alguns termos em inglês, sendo que caberia perfeitamente uma tradução deles. No caso de Eldest, ele é facilmente confundido com Elder, seu futuro sucessor e líder da nave. Enfim. Eldest é um tirano impulsivo. Ele comanda a nave e espera que nada mude. Treina Elder, seu sucessor, para que siga seus passos rígidos para proteger a nave e seus pouco mais de 2100 tripulantes.

Mas um dia, Elder estava no salão dos registros históricos e descobre que o hospital possui um nível secreto. Decidido a explorar este local que Eldest nunca disse existir, ele encontra a ala da criogenia, onde estão 100 tripulantes adormecidos, esperando a nave chegar a seu destino. Ele então vê Amy, congelada e fica encantado com ela. A nave Godspeed é monoética, ou seja, são todos com a mesma cor de pele morena, cabelos e olhos castanhos. De acordo com Eldest, depois da Peste, que assolou a antiga tripulação e reduziu seus números, a população eliminou as diferenças tornando-se monoética. Para Elder, a moça de cabelos ruivos e pele branca de porcelana é uma novidade encantadora.

Esquema da nave Godspeed. 

Logo em seguida, a câmara de Amy é desligada e seu esquife de gelo derrete. O Doutor não tem outra opção além de retirá-la da estase, ou ela morreria. Eldest fica furioso de ver um dos congelados acordado e manda confiná-la em um quarto do hospital, até decidir o que fazer com ela. Elder acaba se tornando amigo de Amy e tenta situá-la no contexto da Godspeed. Mas saber que a nave não chegou ao seu destino e que seus pais continuam congelados a transtorna. Ela se desespera por pensar que está confinada em uma nave e chega a ser bem imprudente em alguns momentos.

Existem várias críticas sociais e situações neste livro e a intercalação na narrativa, ora com Amy, ora com Elder, ficou bem bacana. Amy é vista pela população como uma anomalia, afinal quem nasceu na nave nunca viu diferenças físicas e culturais. Eldest é uma ameaça constante, tendo sugerido colocá-la para fora da nave por uma escotilha caso Amy se tornasse um problema maior ainda. Amy também percebe que a população da nave é estranha. Eles são passivos, obedecem cegamente às ordens de Eldest, não questionam nada. O que há com eles?, ela pensa. Temos também um misterioso assassino que vem abrindo as câmaras na criogenia, matando os tripulantes congelados, o que é uma constante ameaça para os pais de Amy, que ainda estão em seus esquifes.

Esse é o segredo das estrelas, eu digo à mim mesma. No final, nós estamos sozinhos.

Ficção e realidade
O bacana de livros como esse é ver que coisas banais para nós que vivemos ao ar livre tornam-se absolutamente estranhos para uma população que vive há séculos confinada em uma nave. Fica bem claro esse conflito com Amy, que se vê presa, engaiolada, sem ter para onde fugir, enquanto para os outros a nave é o lar e tudo o que eles conhecem. Ela sente que aquela nave não é um ambiente de verdade com sua terra perfeitamente arada e plana, suas chuvas regulares vindas dos chuveiros, mas ela é uma verdade para todos que nasceram ali. É tudo o que eles conhecem. Também é de se imaginar que eles entrem em pânico caso estejam num ambiente aberto de um planeta.

Também imaginei que a viagem de 300 anos da Godspeed pode ter sido inútil, afinal em 300 anos será que a Terra não conseguiu desenvolver nada mais rápido? Você fica com aquela sensação de que todo o esforço da população foi inútil, uma vez que há tantos mistérios a respeito de seu funcionamento e de sua posição atual. A autora conseguiu retratar muito bem o ambiente da nave. Ela conseguiu imaginar uma população isolada em uma nave-mundo e conseguiu pensar nos medos e problemas que poderiam surgir neste tipo de viagem espacial de longa duração.

Beth Revis

Beth Revis é uma escritora norte-americana de fantasia e ficção científica, principalmente para o público jovem adulto.

Pontos positivos
Nave-mundo
Protagonista feminina
Viagem para outro planeta
Pontos negativos

Algumas cenas longas demais

Título: Através do Universo
Título original: Across the Universe
Série: Através do Universo
1. Através do Universo (2012)
2. Um Milhão de Sóis (2013)
3. Vestígios da Terra (2014)
Autora: Beth Revis
Tradutora: Sonia Strong
Editora: Novo Século
Páginas: 408
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Avaliação do MS?
Mesmo tendo um certo affair entre Amy e Elder, ele não toma conta da narrativa, ele não é o mais importante. Entender as dinâmicas da nave e como aquele povo ficou daquele jeito, qual é a posição da nave é o mais importante. Os personagens são verdadeiros, são irritantes e adoráveis, podem ser egoístas ou altruístas, podem fazer bobagens ou coisas boas. Não é como Starters e Enders, onde todo o cenário não importa enquanto o amor toma conta. No livro de Beth, o amor é mais uma característica humana e pode ser tanto entre um casal, como entre pais e filhos. Quatro aliens e uma recomendação para que você leia.



Até mais!


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