Por que você deve ler O Homem Bicentenário?

Muita gente me pergunta se eu indico algum livro inicial para quem nunca pegou em ficção científica, mas quer começar a ler, se aventurar por este universo. Eu já fiz várias listas obrigatórios, tanto de filmes como de livros aqui no Saga, mas não cheguei e disse, "olha, lê esse porque acho que é o melhor pontapé inicial que você pode ter". Como o post sobre Jogos Vorazes fez sucesso, achei que uma obra introdutória para a FC merecia ser comentada.





Por que O Homem Bicentenário? Tem sim um componente bem pessoal aqui. Foi o primeiro livro clássico de ficção científica que li, com 19 anos, e suas implicações foram muito profundas na minha cabeça de então. Lembro de vê-lo na estante de pocket books numa pequena livraria, o título me interessou, puxei e vi o preço, menos de 10 reais e acabei levando. Admito que naquele momento, o preço foi o que mais atraiu. Li em questão de um dia, se não me engano, mas o livro me fez refletir muito sobre a humanidade em si. O que é um ser humano? O que define um ser humano?

O Homem Bicentenário é ganhador dos cobiçados prêmios Hugo e Nebula, a novela ficou bastante conhecida depois da (desastrosa) adaptação para o cinema de 1999, que reduziu um bocado as reflexões que o livro traz.

O livro é curto
Para quem tem medo de livros grandes, taí a primeira coisa boa desta obra clássica de Isaac Asimov. Ele é um livro pequeno, 118 páginas na versão pocket, de narrativa simples e acessível, qualquer um consegue ler, mesmo que seu ritmo de leitura seja vagaroso. Ele não tem termos muito rebuscados, Asimov consegue conduzir o enredo sem se debruçar em longos detalhes técnicos que enchem o saco em muitos livros de ficção científica. As explicações são simples, precisas, sem mais, nem menos, o suficiente para você entender quem é Andrew e qual é a sua busca.


Talvez o mais emocionante de tudo seja o fato de ver um robô, um dispositivo robótico, independente, que possui mais alma humana do que muitos humanos orgânicos do livro inteiro.

O enredo não é complicado
Andrew é comprado por uma família e logo se torna o robô da casa, executando as mais diversas tarefas domésticas. A filha mais nova dos mestres se afeiçoa ao robô rapidamente e o chefe da família logo percebe que Andrew tem um Q a mais. Ele tem uma sensibilidade, uma percepção, algo que nenhum outro robô que ele conheceu tinha. Andrew foi capaz de esculpir um cavalo em madeira não apenas com perfeição, mas também com emoção. Não era algo frio e estático, era algo com vida.


Andrew demonstra prazer em tal tarefa e por isso o mestre resolve levá-lo à US Robotics and Mechanical Men, Inc. para tentar entender as impressionantes aptidões de seu robô, mas não recebe uma resposta para aquilo, além de poder ser uma "anomalia". Interessante notar isso. A própria empresa que criou Andrew considerou suas capacidades como uma anomalia, como se o espírito humano fosse algo provocado por um problema sistêmico.

Uma profunda reflexão sobre o que é o ser humano
Os produtos criados por Andrew são vendidos pelo chefe da família em nome de seu robô. São peças magníficas e bem feitas, que valem um bom preço no mercado. O tempo passa, as crianças crescem, o robô passa por reparos, sem que seu cérebro positrônico sofra qualquer alteração e ele passa a demonstrar sentimentos de se libertar da posição servil que as três leis da robótica lhe impunham. Taí a primeira grande ação humana de Andrew: ele quer ser livre, direito esse inalienável a qualquer ser humano.


Este é o primeiro grande momento para nos fazer entender que Andrew, assim como Data, de Star Trek, não precisa necessariamente ser orgânico para ser considerado um ser humano. Entender e almejar a liberdade é talvez o principal motivador da vida das pessoas e nós sabemos que, em pleno século XXI, ainda temos gente vivendo em regime de escravidão, sem direito de ir e vir, sem poder buscar sua própria felicidade e realização pessoal. Não interessa de quantas partes orgânicas ou sintéticas você é feito, O Homem Bicentenário mostra que o espírito humano é muito mais que um traço biológico.

A busca de Andrew nos ensina a olhar a humanidade por um outro viés
É bastante interessante perceber que um robô o faz pensar sobre sua própria humanidade. Lembro de parar a leitura várias vezes, pensando sobre os debates interessantes do Parlamento Mundial sobre a condição de Andrew. Na busca para ser o mais humano possível, ele começa a trocar partes de seu corpo por réplicas orgânicas, mas seus pedidos de reconhecimento de humanidade junto ao Parlamento são sempre negadas. Seu cérebro ainda era positrônico, ele ainda era uma máquina com partes orgânicas, o que lhe garantiria uma imortalidade sobre os demais humanos. E ele rebate que seus órgãos e invenções mecânicas deram vida a muitas pessoas doentes e elas não deixavam de ser humanas por causa disso.


Isaac Asimov tirou um medo inconsciente que surgiu na literatura e no cinema com a ascensão dos robôs na ficção. E O Homem Bicentenário é um grande exemplo de que nossas criações não são, necessariamente, estes seres horríveis, desprovidos de paixão e sentimentos, que querem escravizar a raça humana ou exterminá-la completamente. Temos aqui uma visão positiva de mundo e de humanidade ao vermos um debate tão prolífico sobre o que é ser um humano. E também temos uma visão otimista da raça humana para quem está cansado das distopias dos dias atuais.


É uma obra de Asimov
Se alguém tem preconceito com o autor, e até posso entender que o nome pode assustar algumas pessoas, vai descobrir que o livro é uma delícia de ler. Mesmo que nem tudo o que Asimov publicou seja uma obra-prima essencial para a literatura, temos aqui um enredo que traz implicações profundas em diversas áreas: robótica, tecnológica, antropológica, sociológica, biológica e quem sabe até teológica, se posso dizer assim, já que mexe com o espírito humano, essa centelha tão misteriosa que nos anima e nos dá forma.


Portanto, leia, encante-se, reflita e depois volte para me contar o que achou.

Até mais!

Comentários

  1. Olá,
    Adorei sua resenha sobre o livro.
    Gostei muito do filme,mas tenho certeza que o livro deve ser muito melhor. É sempre assim.
    Um abraço.

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