Que mundo pequeno!

Essa frase é muito clichê. Você está em um lugar onde jura que não conhece ninguém. Quando menos espera, dá de cara com um conhecido e ela sai na hora, sem que você queira. Tirando o fato que nem sempre você quer encontrar algum conhecido por aí, tenho notado que a ficção científica mostra os planetas como lugares pequenos, tacanhos, facilmente observáveis e sondados facilmente por avançados equipamentos. Por que será?

Que mundo pequeno!

Um primeiro e simples motivo para essa aparente diminuição do tamanho dos planetas é fácil de pensar: tempo. Uma série de TV, com 48 minutos de episódio precisa ser sucinta quando o assunto é mostrar seu enredo. Desta forma, o planeta não pode parecer imenso - como de fato é - para que se possa desenvolver a aventura. A nave fará uma varredura ou captará rapidamente o rádio-farol da colônia (ou da nave caída), desce, liberta todo mundo, a coisa explode, whatever, e depois vai todo mundo embora, salvando o dia mais uma vez. Papo reto mesmo.

Esse é um roteiro bem conhecido para os fãs de Star Trek e Stargate. Até posso imaginar que a tecnologia tenha avançado o suficiente para que possamos realizar uma extensa varredura em um corpo estelar imenso que é um planeta, mas ela é viável? Pode existir um tipo de tecnologia capaz de fazer isso, de uma vez? Em Stargate, uma coisa que sempre me irritou, era que todos os povos, em especial aqueles caçados (por Goa'uld ou por Wraith), continuavam vivendo perto do portal. Sim, eles realizavam comércio, muitas vezes, com outros planetas através dele, mas chega uma hora em que você tem que tentar ser mais esperto que os inimigos. E o resto do planeta? Será que seus inimigos teriam capacidade de sondar o planeta inteiro, cada caverna, baía, enseada, montanha, para encontrar míseros seres humanos? Fiquei imaginando a montagem de comboios, em datas específicas para que todo mundo fizesse comércio e depois todo mundo se escondia em suas cidades longe do portal.

Os planetas também sempre são mostrados de dia. Nenhum é mostrado pelo seu lado oculto nas séries de TV. E o horário é sempre igual, em qualquer parte do universo, dentro da nave, em tudo, tudo, tudo. Nem mesmo nosso planeta teve dias e noites iguais. No Paleozoico, nosso planeta girava mais rápido, a Lua era mais próxima e todo o nosso regime de marés e de luminosidade era diferente. Por que devemos sempre supor que o resto do universo estará em sincronia com o nosso? Não dá, certo? Mas de novo, acredito que por questão de tempo e dinheiro, tornar as coisas precisas na TV e no cinema custa caro.

Nem mesmo nossas estruturas são visíveis do espaço, de uma posição que uma nave teria que ter para nos observar. Essa história que é possível ver a Muralha da China de lá não procede. A menos que você se aproxime o suficiente, com as condições atmosféricas corretas, é possível identificar alguma coisa, mas como saber que aquilo é natural ou não? Como saber se essa construção é atual ou se é de uma civilização antiga? Teríamos que descer, certo? Mas se essa nave descer no meio do Saara? É o que eu falo, o planeta é grande demais. Aqui temos a vantagem de ocuparmos grandes áreas da superfície, mas um assentamento humano primitivo seria visto?

E aí chegamos à questão da exploração do espaço. Uma nave humana, em órbita de um planeta que julga ter vida, conseguiria ver sinais de vida inteligente lá embaixo, porém primitiva? Não conseguimos ver a nossa, sendo que já fomos à Lua. A menos, é claro, que a tecnologia para sondar planetas seja boa o suficiente para identificar construções artificiais em cada metro quadrado da superfície. Planetas são estruturas imensas, grandes demais para uma simples observação ou sondagem. O nosso próprio planeta é tão grande e diverso que temos pessoas vivendo ainda em isolamento, na mata, evitando contato conosco. Supor que um planeta com capacidade para sustentar vida e que contenha vida alienígena seja tão tacanho é um egocentrismo muito grande da raça humana. É bem provável que ele seja tão diverso quanto o nosso.

E enfim, por que temos essa noção de ter um mundo pequeno? A rapidez com a qual a velocidade navega hoje é muitas vezes superior àquela que tínhamos no Descobrimento do país. Temos o poder da informação no celular, nas redes sociais, na televisão, nos jornais, tudo muito rápido, tudo imediato, tudo ao toque do dedo. Mas este é um fenômeno novo. Essa globalização recente - pois tivemos muitas outras - está baseada na tecnologia que avança a galopes, tornado o mundo virtualmente pequeno, mas cujas distâncias ainda permanecem as mesmas. Mudamos apenas a nossa capacidade de cruzá-las.

Usamos o Skype para falar com as pessoas em outras localidades, usamos o celular, livres da ditadura dos orelhões, temos o mundo ao alcance. Mas não quer dizer que o conhecemos. Você lembra qual é o nome da rua atrás da sua casa? Fica ainda uma pergunta: conhecemos tão bem o mundo em que vivemos assim, ou essa velocidade de informações apenas nos faz vê-lo superficialmente, tal como uma nave em órbita de um planeta? Podemos ver que ele não é tão pequeno assim.

Até mais! 🪐

Já que você chegou aqui...

Comentários

Form for Contact Page (Do not remove)