
A rainha-bruxa em A Branca de Neve, a velhinha canibal de João e Maria, a bruxa de A Pequena Sereia que corta fora a língua de Ariel. Todas elas são mulheres poderosas, aquelas que podem fazer magia e lidam com forças ocultas, mas que causam repulsa quando são comparadas com as pobres mocinhas perseguidas dos contos de fadas.
As velhas vilãs são assustadoras porque, historicamente, a pessoa mais poderosa na vida de uma criança era a mãe. As crianças dividem a figura materna em a mãe má - que está sempre impondo regras e regulamentos, policiando seu comportamento, ficando com raiva de você - e então a educadora benevolente - aquela que provê e protege sua criança, garantindo sua sobrevivência.
A noção da bruxa má em sua essência mostra como, pelo menos em muitas culturas, as mulheres mais velhas são figuras de repulsa. Talvez a personagem mais assustadora da velha má, que vem da mitologia eslava, seja a monstruosa Baba Yaga. Ela é ossuda com nariz adunco e dentes longos de ferro. Sua cabana fica sobre pernas de frango e ela sequestra crianças e as come. A Baba Yaga tem causado insônia às crianças do Leste Europeu por séculos.
Em uma interpretação do mito, uma madrasta malvada envia a jovem Vasilisa à cabana de Baba Yaga na floresta para pegar uma vela. A garota tem certeza de que está sendo enviada para a morte. Baba Yaga a força a cozinhar e limpar, e Vasilisa faz tudo o que ela manda. No final, a velha dá a ela o que ela precisa e a manda para casa. Algumas bruxas possuem essa dualidade. Por um lado: canibal, agressivo, ameaçador. E por outro: às vezes intervindo para garantir que haja um felizes para sempre.
No folclore japonês, a Yama Uba é uma velha igualmente ambígua. Ela é uma bruxa da montanha que, tal como Baba Yaga, atrai as pessoas para sua cabana e as come. Mas ela também ajudará um viajante perdido. Ela traz fortuna e felicidade, mas também pode trazer morte e destruição para aqueles que não são muito bons. Há uma teoria de que o Yama Uba - ou Yamauba como às vezes é chamada - foi inspirada por uma terrível fome no Japão. Os pais idosos foram levados para as montanhas para morrer, para que os outros da família tivessem mais para comer. O Yama Uba é o demônio faminto nascido dessa prática.
No cinema de terror existe um gênero específico chamado de Hagsploitation, que explodiu após a adaptação de O Que Terá Acontecido a Baby Jane? (1962) e em todos os filmes que ele gerou. Os longas empregavam atrizes mais velhas, atrizes fora do circuito porque passaram dos 40 anos, onde adotavam o papel de vilã. Eram mulheres amargas, decepcionadas com a vida, que exerciam uma feminilidade destrutiva conforme envelheciam sobre as pessoas à sua volta, como se o amadurecimento provocasse loucura.
Ainda que atrizes mais velhas tenham encontrado trabalho em uma indústria que idolatra a juventude, esses eram papéis humilhantes que transmitiam estereótipos problemáticos sobre corpos femininos envelhecidos e as chances de vida que podem ser oferecidas a mulheres mais velhas. Elas eram comumente chamadas de bruxas nos enredos, pois a identificação com o estereótipo da mulher má e mais velha era imediata.
Talvez a forma como as mulheres mais velhas se voltaram para o lado sombrio da Força seja uma resposta a uma sociedade que as ostracizou em um primeiro momento. Tal como o mito da Yama Uba, elas enlouqueceram por causa da maldade dos outros, pela forma como foram tratadas agora que seus rostos apresentaram rugas e seus corpos envelhereceram. Talvez assim possamos olhar para essas figuras com um pouco mais de compaixão.
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