A ficção científica já nos mostrou muitas civilizações espaciais. Star Trek e Star Wars possuem centenas delas, algumas amigáveis, outras não, mas todas com capacidade de viajar velozmente pelo universo, fixando moradia em planetas absolutamente iguais à Terra. Entendo perfeitamente as questões de orçamento que impediam as produções de elaborar melhor essas civilizações e entendo também que elas nada mais são do que representações de nossa própria humanidade. Mas temos que ser realistas: é improvável que nos tornemos uma civilização espacial.

Podemos explorar a galáxia sim, apenas não faremos isso pessoalmente. As sondas Voyager estão rodando por aí depois de tantos anos e enviando dados valiosos sobre o espaço interestelar. Mas mandar pessoas é muito mais complicado do que a ficção científica nos mostra. Existem duas questões importantes puramente biológicas que pouca gente pensa a respeito.
O primeiro problema: a gravidade. Desde que o primeiro animal complexo surgiu nos mares quentes da Terra primitiva, até os dias de hoje, todos os organismos no planeta evoluíram para viver em uma gravidade específica, cuja aceleração é de 9,8 m/s². A forma como o coração bombeia o sangue pelo corpo desafia a gravidade todos os dias. O acúmulo de líquidos nos membros inferiores - professores sabem bem disso - se deve à gravidade. Nossos músculos e ossos se constituem dessa maneira pela forma como lida com a gravidade a todo instante, desde nossa concepção. Nosso equilíbrio, como nos orientamos espacialmente, tudo isso depende da força da gravidade sobre nossos corpos.
Sem a gravidade ou em ambiente de microgravidade, se preferir, coisas estranhas começam a acontecer. O coração bombeia mais sangue do que deveria para a cabeça, o que leva a dores de cabeça horríveis, náuseas, distorções oculares e perda da sensação de em cima e embaixo. Nossos músculos e ossos atrofiam, mesmo que astronautas dediquem várias horas ao dia a exercícios físicos. Ainda não sabemos o que aconteceria a uma gestante em ambiente de microgravidade ou em uma gravidade menor que a da Terra, mas poderiam existir danos ao feto, o que levariam a uma gestação inviável.
A gravidade é uma força que não dá para simplesmente criar ou ligar à vontade. A ficção científica nos mostra a tal da gravidade artificial em vários enredos, ainda que a maioria deles nunca explique como ela é gerada. E as duas maneiras de se criar gravidade artificial que existem são inviáveis a longo prazo. Gravidade é algo que nem pensamos quando estamos na Terra, mas imagine viajar para outra estrela ao longo de anos vivendo nessa condição e já dá para imaginar o problema que vai ser.
O segundo problema: a psicologia. Tal como nossos corpos, nosso cérebro evoluiu para viver neste planeta; ele é resultado da seleção natural e de uma longa evolução de um sistema nervoso primitivo para um refinado e específico como o nosso. Nossa espécie evoluiu de animais acostumados a forragear e não para viverem confinados. Se ficarmos confinados teremos todo tipo de problema tanto físico quanto mental. A falta de um ambiente natural nos estressa e sendo forçados a interagir com o mesmo grupo de pessoas por anos a fio em um ambiente confinado, tendemos a nos tornar furiosos, retraídos e deprimidos.
É bem possível que também nos tornemos competitivos, paranoicos, desafiando posições de poder. Isso levaria a vários conflitos internos em uma hipotética tripulação que viajasse para a estrela mais próxima. A Enterprise tem acomodações confortáveis, jardins e bares, além de uma psicóloga à bordo, com várias colônias e estações espaciais no entorno para onde sempre se pode correr em busca de auxílio, mas nossa realidade é bem mais perturbadora.
Acredito que devemos sim investir na exploração do espaço, mas com robôs e sondas cada vez mais avançadas. Enviar seres humanos, mesmo que para Marte, que é aqui do lado, ainda é inviável e extremamente perigoso. Melhor aproveitarmos os filmes e as séries de TV mesmo do que apostar em uma civilização espacial humana.
Até mais! 🚀
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