Perspectivas para a alimentação do futuro

A escola nos ensina que a produção de alimentos mudou radicalmente com a Revolução Verde. Se para uma efetiva ocupação do espaço e seu uso como moradia fixa do ser humano no futuro uma das principais demandas é por geração de energia, a segunda maior demanda será com certeza por alimentos. A energia é vital para manter todos os sistemas de suporte à vida funcionando, mas de que adianta energia sem alimentos? Além do mais, suplementos de vitaminas não são eficientes e sintetizadores de comida no estilo Jornada nas Estrelas não são possíveis (pelo menos ainda).




Revolução verde é a disseminação de novas práticas agrícolas, disseminação de sementes no mercado, que permitiram um aumento vertiginoso na produção agrícola, com o uso intensivo da mecanização, insumos (fertilizantes, agrotóxicos), o que acabou criando grandes campos de monocultura, em especial no Brasil, vide o exemplo da soja. Apesar de esta expressão - Revolução Verde - ter surgido nos anos 60, a mecanização já vinha acontecendo nos países desenvolvidos pelo menos desde os anos 40.

Muitos pregam que esta revolução traria a solução para a fome do mundo. Ledo engano. A fome não só persiste em vários lugares como as más práticas alimentares se espalharam em especial nos países desenvolvidos, com a junk food, comida de fast food altamente calórica. A insegurança alimentar aumentou e colocou em risco gerações de famílias devido à má alimentação. Se vamos mesmo estabelecer residência no espaço, vamos ter uma série de problemas.

E eles começam com os rebanhos. A alimentação baseada em abates de animais é uma das maneiras de degradar o meio ambiente devido ao custo e de complicar o acesso à comida para muita gente. Por exemplo, para produzir um quilo de soja, são necessários cerca de 10 metros quadrados de terras aráveis. Para produzir um quilo de carne vermelha, são necessários duzentos metros quadrados de pastagem, em geral, floresta derrubada. Então para simplificar: o padrão alimentar dos países ricos e desenvolvidos não está acessível para todos. Eles ignoram, por exemplo, as tradições regionais e implantam sistemas que são incompatíveis com o modelo já vigente.

Que tipo de alimentação é essa dos países desenvolvidos? Bem, ela tem algumas características e você vai ver que o Brasil se encaixa muito bem nelas:

  • agricultura que utiliza grandes quantidades de insumos agrícolas, pesticidas e fertilizantes;
  • indústria agroalimentar que oferece produtos processados, prontos para o consumo e com muitos aditivos químicos;
  • hábitos alimentares tradicionais radicalmente modificados;
  • oferta muito diversificada, que ignora as estações do ano nem a origem geográfica.

Além disso, houve uma inversão de valores. As proteínas vegetais foram trocadas pelas animais, enquanto o consumo de cerais e leguminosas despencou. Como se não bastasse essa troca, subiram os índices de doenças como diabetes, obesidade e problemas cardíacos. Aí sempre vem aquele crítico dizendo: "mas no passado, as pessoas consumiam manteiga e muita gordura e não tinham problemas".

De fato não tinham, mas elas não eram sedentárias, não tinham controle remoto, nem carros, elas gastavam a gordura em atividades físicas, em atividades que as faziam gastar essas calorias extras. No entanto, a Revolução Verde, por conta da mecanização, expulsou a população do campo para as cidades, visto que perderam seus empregos e a revolução tecnológica gerou todos os conforto sedentários que temos hoje. Alie isso à junk food e os problemas que já conhecemos aparecem.


Aí tem outros partidários da RV, dizendo que ela aumentou a expectativa de vida das pessoas. Outra abobrinha das feias. O que aumentou a longevidade foram os antibióticos, vacinas e investimentos em saúde pública, que bem ou mal ainda cuidam da população. O Boletim da Organização Mundial de Saúde, em 2002, disse:

Estima-se que, de hoje até 2020, dois terços da taxa mundial de mortalidade serão imputáveis às doenças não-transmissíveis crônicas, puramente associadas ao regime alimentar. A passagem para uma alimentação baseada acima de tudo em gêneros alimentícios refinados, alimentos de origem animal e gorduras desempenha papel primordial na atual epidemia de obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares, entre outras afecções não-transmissíveis.

Imagine uma população no futuro, vivendo longe da Terra, tendo que produzir alimentos para se sustentar. Mandar daqui será necessário para a primeira parte da missão, mas e depois? Terão que produzir lá mesmo. Como? Gado? Não é possível colocar animais numa nave ou tentar criá-los num ambiente alienígena, em especial dentro de uma base. O jeito será apelar para proteínas vegetais, tubérculos, legumes, tudo o que a população consumia em maior quantidade antes da RV.

Ou seja, é um caminho longo e que vai precisar de uma mudança significativa no contexto alimentar das nações desenvolvidas e em desenvolvimento, especialmente o Brasil. Acredito que mudanças no consumo devam ser incentivadas como escolher produtos regionais e orgânicos, dentro da estação, comer menos carne - no Brasil, maior exportador de carne bovina algo bem difícil, mas não impossível - e menos junk food.


Claro que ninguém precisa voltar à Idade Média ou seguir a dieta de Henrique IV, que se permitia um frango ensopado aos domingos. Até porque comida dita saudável costuma ser cara demais para as populações mais pobres. Mas usar o bom senso, pois alimentação é um investimento a longo prazo em você mesmo. Quem sabe no futuro distante as populações fora do planeta agradeçam aos antepassados por uma nova revolução verde.

Leia mais:
Deveríamos parar de comer carne? - Revista Superinteressante, Abril/2002;
Guias do Consumidor do Greenpeace - Transgênicos - Greenpeace;
Dez passos para uma alimentação Saudável
Como será a alimentação dos humanos no futuro?
Insetos na alimentação: Eles podem ser comida do futuro e ajudar a reduzir a fome no mundo?

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