Resenha: Lady Macbeth, de Ava Reid

Admito que sou fisgada facilmente por capas bonitas e esta capa aqui me pegou logo de cara, feita pela ilustradora Elizabeth Wakou e que não é creditada pela Rocco nas informações do livro. Esta é uma releitura de uma das personagens mais controversas da literatura, saída de uma das maiores peças de Shakespeare.

O livro
Roscille de Breizh faz uma longa viagem até chegar a Glammis, na selvagem Escócia. Seu pai, Alan Varvek, duque de Breizh, fez um acordo de casamento com o thane de Glammis, o temido lorde Macbeth. Glammis é o condado mais remoto e árido da Escócia e sua única vantagem é a invejável posição perto da água e as colinas que o cercam. O thane tem muitos inimigos, se o que Roscille ouviu na corte do pai é verdade.

Resenha: Lady Macbeth, de Ava Reid

Uma bruxa não precisa de convite, apenas de uma forma de atravessar a fechadura.

O fato de ser filha de um nobre, ainda que bastarda, garantiu a Roscille um casamento nobre, mas a jovem não é boba. Ela sabe o que a espera no leito conjugal, sabe da violência dos homens, sabe o que a aguarda em Glammis e não é amor. De cabelos loiros claríssimos, quase brancos e olhos penetrantes, seu pai a fez usar um véu sobre a cabeça para que seus olhos não enfeitiçassem os homens. E ainda ajudou a espalhar a história de que ela seria uma bruxa.

A cultura e os costumes de Breizh não são valorizados naquela terra estranha e fria, então Roscille se vê sozinha e desamparada. Sua única saída é usar de inteligência, algo que ela tem de sobra. Muitos podem se questionar sobre suas motivações, especialmente se conhecer a peça de Shakespeare, mas aqui temos uma jovem apavorada com seu futuro, obrigada a se casar com um estranho e tendo que navegar por uma sociedade instável e brutal. Não é uma tarefa fácil e Roscille sabe bem disso.

É difícil não simpatizar com Roscille, mesmo sabendo que ela tomará umas decisões fatais ao longo da leitura. Macbeth é um bruto, interessado apenas em poder, então Roscille verá essa característica como uma fraqueza a se explorar. Só não tinha ideia que chegaria ao ponto de vê-lo desejar a coroa escocesa. Por saber da história de que a esposa é uma bruxa, ele a vê como uma ferramenta útil em seus planos e assim ela se torna uma peça importante na conspiração para destronar o rei Duncane e tomar a coroa.

O mundo que a autora descreve é frio, desconfortável, extremamente vívido. Você consegue ouvir as ondas se chocando contra o castelo, consegue sentir o vento frio das montanhas e o aroma da floresta. Por ter descrições que nos jogam direto dentro do cenário, às vezes é difícil continuar a leitura, pois a violência está presente em várias páginas. A autora avisa logo no começo que tratará de temas sensíveis, então fica aí o alerta de que esta leitura não é leve. Ao contrário, senti um clima sufocante de mistério e violência desde o começo.

Por se tratar de uma personagem fictícia, Roscille tem pouca exatidão histórica, assim como outros personagens. A magia e a bruxaria são elementos centrais em Macbeth, de Shakespeare, então não tinha como a autora fugir disso aqui. No começo, estranhei sim a presença da magia em vários elementos do enredo, mas então me liguei que Roscille não é baseada na verdadeira lady Macbeth e sim em uma personagem. Reid apenas deu a ela uma voz que a personagem não tem na peça original. Esta Roscille não é louca, nem uma megera, mas sente remorso em vários momentos por suas ações.

É também um livro muito sensual, ainda que nenhuma cena de sexo seja descrita explicitamente, o que mostra que dá sim para se ter sexo e erotismo sem sair jogando na cara das pessoas. Então se você tem se incomodado com a maioria das romantasias por aí, saiba que este livro aqui está bem escrito. O clima gótico também está presente, ainda que não apareça na arquitetura ou nas roupas. É mais o ambiente em si e todo o seu mistério.

Todos os homens poderosos têm inimigos. Mesmo que seja apenas um criado da cozinha, açoitado por derramar a sopa. Mesmo que seja um fazendeiro, forçado a hospedar soldados que comeram toda a sua comida e levaram a esposa para a cama. Talvez um sobrinho ou primo, esquecido quando as honras foram dadas.

Por trazer termos arcaicos de vários locais, senti falta de um mapa para me localizar melhor. Toda hora eu tinha que lembrar que Breizh é a palavra em língua bretã para Bretanha, uma região cultural e administrativa no oeste da França, que Alba é a Escócia e por aí vai. Mas no começo há um glossário com os nomes dos personagens e das localidades, caso seja preciso consultar.

A tradução de Laura Pohl está ótima, mas a revisão da editora deixa a desejar em vários momentos, com letras faltando ou sobrando. Fora isso, está bem diagramado.

Obra e realidade
A verdadeira Lady Macbeth foi Gruoch da Escócia. Gruoch ingen Boite foi uma rainha escocesa, casada com MacBethad mac Findlaích (Macbeth), rei da Escócia de 1040 a 1057 d.C. A personagem de Shakespeare foi baseada nas Crônicas de Holinshed, publicada em 1577 e não é precisa historicamente. Pouco se sabe sobre a verdadeira Gruoch. Acredita-se que tenha nascido em 1015 e teria sido neta de Kenneth II ou Kenneth III, ambos reis da Escócia, e assim ela teria direito legítimo de reclamar o trono.

Ava Reid

Ava Reid é uma escritora norte-americana de fantasia.

PONTOS POSITIVOS
Lady Macbeth
Cenários
Suspense e magia
PONTOS NEGATIVOS
Violência contra mulher
Começa devagar

Título: Lady Macbeth
Título original: Lady Macbeth
Autora: Ava Reid
Tradutora: Laura Pohl
Editora: Galera Record
Ano de lançamento: 2025
Páginas: 265
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
Não pensei que fosse gostar tanto desse livro. Com menos de 300 páginas, é um livro que dá para devorar em um dia. Peca em algumas coisas, mas pode ser uma ótima porta de entrada para Shakespeare e para a história da Escócia. Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!

Muito bom!

Até mais! 🔪

Já que você chegou aqui...

Comentários

Form for Contact Page (Do not remove)