Alien: Earth - um balanço

Estava bem ansiosa pela estreia de Alien: Earth já que sou fã incondicional da franquia e de sua principal estrela, Ellen Ripley. E sabendo que ela se passaria na Terra, fiquei ainda mais tentada a maratonar quando estreasse. Em uma Terra do futuro dividida não mais em países mas em empresas, uma nave vinda do espaço profundo se choca contra uma metrópole. O que pode dar errado??

Alien: Earth - um balanço

Com efeitos especiais de dar inveja e cenários muito familiares aos fãs de Alien, a série em oito episódios acompanha os desdobramentos na Terra após a queda da nave USCSS Maginot, uma nave comercial da Weyland-Yutani que transportava formas de vida extraterrestres hostis, incluindo o Xenomorfo. Não sabemos no começo como ou porque a nave caiu, apenas que sua carga era valiosa demais para a companhia. Logo vemos que um xenomorfo está à solta e sendo caçado pelo chefe de segurança da Maginot, Kumi Morrow (Babou Ceesay).

A Maginot, porém, caiu numa cidade da Prodigy, empresa concorrente da Weyland-Yutani que se apossa da valiosa carga de seres alienígenas e se recusa a devolver. Então além dos aliens esquisitos no laboratório da nave e de um xenomorfo correndo por aí, há também a questão da ganância empresarial movendo seus funcionários pelo vasto tabuleiro do capitalismo. E paralelo a tudo isso (tem mais??) a Prodigy e seu CEO, o irritante Boy Kavalier (Samuel Blenkin), gênio trilionário que fundou a Prodigy quando criança e construiu um império que revolucionou a tecnologia, mas que não passa de um rico que age por capricho.

Um dos pontos fortes da franquia Alien, além de seu xenomorfo, sempre foi a crítica severa ao capitalismo e a capacidade das grandes empresas de sacrificar seu próprio pessoal quando fosse conveniente. Vimos em todos os filmes como a Weyland-Yutani sacrificou seus funcionários, presidiários, cientistas e colonos civis para colocar as mãos em um espécime do xenomorfo, sempre sem sucesso, graças a Ellen Ripley. Então foi uma surpresa bem desagradável ver pouco ou quase nenhum conflito entre as empresas. Mesmo aquilo que foi posto em tela foi insuficiente e deixou a desejar.

A série prefere focar nos androides construídos pela Prodigy em boa parte dos episódios. São protótipos bilionários para onde foram baixadas as consciências e memórias de seis crianças em estado terminal. Elas deixam de ser humanas para se tornarem uma propriedade industrial da Prodigy. Os episódios, em geral, focam na mais velha, Wendy (Sydney Chandler), que acaba descobrindo ser fluente na forma de comunicação com o xenomorfo (sem qualquer explicação). Quem cuida dessas crianças é o monocórdico androide Kirsh (Timothy Oliphant).

Slightly, Kirsh e Smee
Slightly, Kirsh e Smee

Segundo o próprio criador da série, a ideia por trás das crianças-androides prodígios era discutir consciência, tecnologia e o futuro da humanidade diante das ameaças, além de falar do futuro da inteligência artificial. Mas tudo o que vi passou longe dessas discussões. Quando Wendy reclama que correr é esquisito porque agora ela tem peitos, sinceramente... quem achou que essa linha de diálogo era legal de se pôr no ar??

Também questiono a inteligência de se levar crianças - porque é o que elas são, não importa a forma de seus corpos adultos - para uma zona de desastre repleta de formas de vida alienígenas extremamente perigosas. Elas são impressionáveis e ficam traumatizadas, o que era de se esperar e também são manipuláveis, pois que criança nesta situação não seria? Sei que a ganância corporativa não tem limites, mas nenhum CEO deixaria 36 bilhões de dólares saírem por aí a esmo, arriscando um investimento desses numa zona de desastre. Para mim é questão de roteiro mesmo.

Se o criador da série queria lidar com inteligência artificial e seus limites, aplicações e conflitos, ele já possuía os personagens perfeitos para isso: Burrow e Kirsh. Burrow, com uma brilhante atuação de Babou Ceesay, é um ciborgue, tendo partes artificiais como seu braço mecânico. Seus movimentos e motivações são alinhados àqueles de sua empregadora, a Weyland-Yutani, e ele está mais que motivado. Kirsh, por sua vez, é frio e calmo, mas extremamente observador, com trejeitos que lembram o de Ash, do saudoso Ian Holm, no primeiro filme de Alien. Os dois atores dão um banho de atuação mesmo com roteiros sofríveis.

Por fim, o protagonismo da Weyland-Yutani é mínimo em Alien: Earth, sendo que ela é a verdadeira vilã da franquia desde sempre. Esperava ver mais de seus bastidores, mais de seus esquemas e planos, mas ela é relegada a uma posição secundária no grande esquema das coisas. Mesmo a divisão do planeta em empresas e não mais em países é pouco explorado. É uma realidade que não está tão longe de acontecer; basta lembrar da presença dos bilionários na posse de Trump e todo o poder que elas exalam. Por que a série não falou a respeito? Por que deixaram tudo no ar sem explicação ou desenvolvimento? 

Yutani, por Sandra Yi Sencindiver
Yutani, por Sandra Yi Sencindiver

Por não focar na empresa, não sabemos muito sobre a CEO Yutani, interpretada por Sandra Yi Sencindiver. É algo que se destaca em Alien: Earth; tudo na série é tratado com superficialidade porque ela não tem tempo de focar em nada. São apenas 8 episódios para falar das crianças-robôs, dos aliens, do xenomorfo, das empresas, dos conflitos de consciência e tecnologia, de seus CEOs gananciosos. E esta foi uma escolha feita por alguém, que poderia ter escolhido um tema para tratar bem, para depois trabalhar os outros aos poucos.

Ainda não há respostas sobre os dilemas mal trabalhados de Alien: Earth, nem se haverá uma segunda temporada capaz de responder a todas as perguntas. No fim, ficou um gosto amargo após oito episódios caóticos e que se esforçaram bem pouco em honrar a franquia da qual é derivada.

Até mais!

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