Ficção científica é um gênero enorme, em várias vertentes e formas. É possível ter apenas diversão em mundos alienígenas, mas também há cenários de emergência climática, política, social, que nos fornece novas formas de pensar e imaginar o futuro e influenciar o presente. É por isso que os jovens deveriam ler mais ficção científica.

Acredito que estudantes devam ler, ponto. Todos os anos de escola em que li Coleção Vaga-Lume foram muito importantes para minha formação, para o desenvolvimento da interpretação de texto e por me colocar em novos mundos e novos personagens. Mas ler ficção científica tira nossos pés do chão como poucos gêneros fazem. Encarada como apenas um escapismo bobo por muita gente, a FC deve ser o gênero mais importante dos dias de hoje.
Universos paralelos, robôs e androides, mundos alienígenas distantes, podem parecer insondáveis para algumas pessoas. Os termos complicados e a tecnobobagem nas explicações podem acabar afastando potenciais leitoras, o que é uma pena, pois as impede de analisar a sociedade e o mundo numa roupagem ficcional. A insatisfação dos jovens com o capitalismo, a preocupação com o futuro da tecnologia, do clima e da sustentabilidade, a preocupação com a COVID e a pandemia, tudo isso já foi trabalhado em maior ou menor grau em diversas obras.
Através da ficção, podemos colocar nossos heróis em dilemas morais e deixar que os leitores os acompanhem e os vivenciem, explorando questões sociais complexas de uma distância segura e fictícia. Esse grande laboratório mental nos faz exercer a resiliência, empatia e inovação, estimulando nossa imaginação para promover mudanças no presente e no futuro.
A capacidade do gênero de fazer as pessoas imaginarem realidades diferentes é importante para o progresso social. Se olharmos para O conto da aia, por exemplo, podemos analisar a misoginia da obra e comparar com a sociedade atual. As mulheres do livro foram destituídas de seus direitos em um governo teocrático que destruiu a democracia. Isso não está longe dos Estados Unidos de hoje, onde um secretário do governo Trump compartilhou um vídeo que defendia que mulheres não deveriam ter o direito de votar.
Em Vox, de Christina Dalcher, um governo totalitário também derrubou a democracia e os direitos das mulheres. Elas perderam seus empregos e até mesmo seu direito de falar. Autorizadas a falar apenas 100 palavras ao dia, a ideia é impedir o pleno desenvolvimento da linguagem para nos impedir de pedir por direitos ou de reclamar das injustiças. Ao viver estes universos ficcionais, nós podemos questionar as políticas atuais, podemos protestar, podemos exigir mudanças antes que tais cenários possam acontecer.
Outras obras podem nos fazer reavaliar nossa relação com a tecnologia. Her (2013), por exemplo, nos mostra a dependência da tecnologia levada ao extremo, onde um homem solitário se apaixona pela inteligência artificial de seu computador. Cada vez mais estamos testemunhando a invasão de todo tipo de gadget e equipamento em nossas casas, além do uso de inteligências artificiais em segmentos que vão desde nossos smartphones, até a atendimentos de empresas que dispensam a mão de obra humana em várias etapas.
Não precisamos abandonar o uso da tecnologia, mas sim entender a relação e nossa dependência delas. Precisamos questionar as consequências não intencionais que a tecnologia tem na sociedade e usar esse conhecimento para enfrentar os desafios e considerar soluções para prevenir potenciais problemas no futuro. E a ficção científica consegue discutir esses problemas de uma maneira muito mais didática do que apenas dados e fatos em um slide numa aula na escola.
Ao experimentar cenários terríveis, podemos ver além do presente, pensando sobre o mundo que queremos construir e as pessoais que queremos nos tornar. A ficção científica é uma grande aliada e deveria ser mais valorizada em sala de aula.
Até mais!
Já que você chegou aqui...

Comentários
Postar um comentário
ANTES DE COMENTAR:
Comentários anônimos, com Desconhecido ou Unknown no lugar do nome, em caixa alta, incompreensíveis ou com ofensas serão excluídos.
O mesmo vale para comentários:
- ofensivos e com ameaças;
- preconceituosos;
- misóginos;
- homo/lesbo/bi/transfóbicos;
- com palavrões e palavras de baixo calão;
- reaças.
A área de comentários não é a casa da mãe Joana, então tenha respeito, especialmente se for discordar do coleguinha. A autora não se responsabiliza por opiniões emitidas nos comentários. Essas opiniões não refletem necessariamente as da autoria do blog.