Publicada em português pela primeira vez em 1981 pela Publicações Europa-América, foi só em 2025 que este clássico da ficção especulativa chegou ao Brasil com uma tradução primorosa de Fábio Fernandes. Muitos livros do gênero dying earth ou de fantasias épicas que vieram depois se inspiraram nesta obra.
O livro
Severian é um aprendiz de torturador com uma carreira bastante promissora à sua frente. Seu mundo, Urth, é uma Terra decadente, da qual o autor não nos dá muitas informações, habitada por animais estranhos e uma vez visitada por alienígenas. A maneira como Wolfe narra nos indica uma obra de fantasia medieval no começo, mas ele pincela aqui e ali palavras e termos que indicam uma ficção científica tão distante no futuro que ela reverteu para um estado quase feudal.
Nós acreditamos que inventamos símbolos. A verdade é que eles nos inventam; nós somos criaturas deles, moldadas por suas arestas duras e definidoras.
Sem saber sua origem, a guilda é tudo o que ele conhece. Seus amigos também são aprendizes, Severian confia em seus professores, mas tudo muda quando uma cliente (leia-se 'alguém que passará por tortura') chega à torre da guilda. Castelã Thecla logo encanta o jovem e ele se apaixona por ela. Aliás, tenho que destacar a quantidade de vezes que esse cara se apaixona ao longo da leitura. Tudo bem que ele é jovem, mas é demais. Também é demais como as mulheres aparecem na vida desse cara totalmente dispostas a dar pra ele. Sério.
Severian tem um começo bastante promissor e gostei da narrativa logo nesse começo. Ele de fato parece um sujeito promissor, mas que ainda não chegou lá, curioso e inteligente, mas que ao longo da leitura se transforma num sujeito chato, amante de mulheres, que domina a luta de espadas do nada e segue o caminho do seu Super Destino.
Algumas resenhas sobre o livro diziam que ele é difícil de ler. Não é. Existem sim palavras mais arcaicas que podem parecer neologismos, mas um dicionário resolve o problema rapidamente, já que não há glossário. Mas as resenhas também diziam que era um livro maravilhoso, com uma escrita brilhante. E não achei nada disso. O começo me pareceu bem escrito, mas depois a narrativa descamba, com um enredo que nunca vai parar algum lugar e não conseguiu me cativar.
Não vou dizer que não tem partes boas. Gostei da construção da guilda dos torturadores e dos mistérios envolvidos na profissão. A introdução escrita por Fábio Fernandes nos dá várias informações interessantes sobre a construção de mundo e admito que me cativou logo de cara, ainda que apareça pouco ao longo da leitura. Há todo um mistério sobre o Autarca, seu governo e o que levou Castelã Thecla para lá. Mas o autor não fornece respostas, assim como também não indica caminhos possíveis para você chegar a alguma conclusão. Sei que Severian não é um narrador confiável, mas achei sua construção tão fraca perto do fim que terminei o livro na força do ódio.
O autor sofre daquele mesmo desconforto com a sexualidade e com o corpo das mulheres que outros autores do gênero sofriam em seus livros. E preciso dizer, que diacho de obsessão é essa do autor com peitos femininos?? Sério, foi irritante demais ler sobre os peitos e quadris das diversas mulheres que perdem a razão diante de Severian. O autor usou umas palavras difíceis, criou um personagem não confiável e meteu descrições de peitos em cada capítulo e o livro é chamado de clássico da ficção especulativa. Uma mulher em 400 páginas, descrevendo picas num mundo semelhante, não teria esse reconhecimento.
O que mais me incomodou, além de todo o machismo recreativo do livro, foi que não temos certeza do motivo de Severian contar sua história. Ele é um mentiroso, sabemos disso, e sabemos também que Wolfe seria o tradutor do manuscrito original. Mas não sabemos a intenção de sua mentira porque não temos o contexto completo. Algum contexto deveria ser dado, por mais continuações que o livro tenha. E ele não o fez aqui. O enredo acaba ficando instável feito um castelo de cartas.
(...) quando um presente é merecido, não é um presente, mas um pagamento.
O destaque vai para a tradução de Fábio Fernandes, que está excelente, bem como sua introdução no começo do livro. A revisão da editora deixa a desejar, algo que espero seja corrigido numa próxima edição do livro.
Obra e realidade
O subgênero dying earth é um tema bastante trabalhado lá fora, onde a obra de ficção ocorre em um futuro distante onde o planeta Terra passou por muitas mudanças ambientais ou então o universo vê suas leis fundamentais falharem. Os temas trabalhados costumam ser a entropia, o idealismo, a sobrevivência, o fim dos recursos naturais e a esperança.O livro de H. G. Wells, de 1895, ''A Máquina do Tempo'', utiliza esse cenário da Terra moribunda. No final do romance, o viajante do tempo sem nome viaja 30 milhões de anos para um futuro distante, onde apenas caranguejos, borboletas e líquens gigantescos existem em uma Terra árida, e então viaja ainda mais para o futuro para ver o Sol se apagar e a Terra congelar.

Gene Wolfe foi um escritor norte-americano de ficção científica e fantasia. Conhecido por sua prosa densa, bem como pela forte influência de sua fé católica, Wolfe foi um prolífico escritor de contos e romancista.
PONTOS POSITIVOS
Fantasia científica
Cenários
Batalhas
PONTOS NEGATIVOS
Muito lenga-lenga
Misoginia
Sexualização feminina
Fantasia científica
Cenários
Batalhas
PONTOS NEGATIVOS
Muito lenga-lenga
Misoginia
Sexualização feminina
Avaliação do MS?
Pelo tamanho e pela complexidade do enredo, eu esperava bem mais. Achei que a leitura até começou bem, mas o autora não conseguiu me dar um desenvolvimento da protagonista que me cativasse. Terminei meio que à força apenas para saber o que já sabia lá pelo meio do livro. É improvável que eu continue a ler os próximos livros da saga de Severian. Três livros para o livro.
Até mais!
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