Resenha: Mar da tranquilidade, de Emily St. John Mandel

Não tinha lido nada dessa autora, ainda que Estação Onze me olhe enviesado lá da estante. Em um romance sobre viagem no tempo, amor e pandemia, Mandel vai revelando uma história da humanidade através dos séculos e do espaço. Unindo vários de seus estilos anteriores, tanto literário quanto especulativo, este livro é uma fusão entre a ficção histórica e a ficção científica, com ares muito próximos da nossa realidade.

O livro
Quando começamos a leitura, não sabemos bem o que esperar de um livro de ficção científica que começa em 1912. Um jovem imigrante britânico, Edwin St John St Andrew, embarca em uma nova vida no Canadá. Filho de uma família britânica abastada, ele é enviado às colônias para mantê-lo longe de problemas em sua terra natal. Mas um dia, ao caminhar pelas florestas do oeste do Canadá, Edwin tem uma experiência sobrenatural que ele nem sabe como explicar.

Resenha: Mar da tranquilidade, de Emily St. John Mandel
Não é preciso ser uma pessoa horrível para tentar deliberadamente mudar a linha do tempo. Basta ter um momento de fraqueza. Um único momento e nada mais. E quando digo fraqueza talvez eu queira dizer humanidade.

Somos arremessadas, algumas páginas adiante, para o presente. Em uma apresentação em Nova York, um compositor toca um vídeo antigo que parece mostrar uma versão do que quer que Edwin tenha encontrado na floresta. É quando Mandel começa a inserir a ficção científica no enredo, pois percebemos que os dois cenários, os dois personagens, parecem estar interligados. Ainda assim, não pude deixar de sentir que havia pouca conexão entre eles, uma conexão frouxa demais para prender minha atenção.

Deixamos Nova York para trás e somos catapuladas para o futuro, mais precisamente no século XXIII, quando uma escritora chamada Olive Llewellyn, nascida e criada em uma colônia lunar, visita a Terra em uma turnê de divulgação de seu livro. Passamos grande parte da leitura vivendo a vida agitada de uma escritora que se vê presa em uma pandemia e se toca que há coisas mais importantes com o que se preocupar do que fotos, entrevistas e podcasts. Seu marido e sua filha, na Lua, estão com saudades e quando ela perceber o que de fato importa na vida, talvez seja tarde demais.

Novamente, somos lançadas ao futuro, cerca de 200 anos depois, na mesma lua de Olive, já com áreas um pouco degradadas, onde um investigador, que leva o nome de um personagem de um dos romances de Olive Llewellyn, começa a juntar as peças das conexões entre todas essas diferentes vidas ao longo do tempo e do espaço. A conexão está lá, mas ele consegue ver tudo pela perspectiva de alguém de fora? Será que ele está mesmo fora de todas essas conexões?

Uma coisa que fica bem aparente ao final da leitura é que este livro é sobre o fim do mundo. Mas é sobre o fim do mundo individual, o fim da linha das pessoas, não exatamente do mundo. Em cada uma das vidas que visitamos, vislumbramos que os personagens estão no fim de algo, de um ciclo, de uma vida, de uma rotina. A pandemia de COVID nos mostrou muitos desses fins e nos fez repensar as prioridades, assim como os personagens.

Achei o projeto de Mandel bastante ambicioso, mas não senti que isso se traduz na narrativa. A escrita é fluída, graciosa e de fácil leitura e por ser um livro pequeno, dá para ler em um dia. Quem tem medo de livros de ficção científica, porque podem ter partes complicadas, pode ficar tranquila, pois isso não acontece aqui. Há sim menções a viagens no tempo, mas em nenhum momento há explicações sobre como isso acontece.

Gostei do livro, mas achei apenas OK. Não consegui ver nem sentir toda a genialidade da autora tão celebrada por seus livros. Senti que é uma obra da pandemia, com certeza e que cumpre o que se comprometeu a fazer, que é contar uma história, mas é isso aí. Quem curte narrativas mais centradas em personagens e não em enredos, vai curtir esse daqui.

A tradução foi de Débora Landsberg e está ótima. Não encontrei problemas de revisão, tradução ou diagramação.

Pandemias não chegavam feito guerras, com o baque distante da artilharia ficando cada vez mais alto e lampejos de bombas no horizonte. Elas chegam em retrospecto, basicamente. É desnorteante.

Obra e realidade
O planeta é bastante indifirente aos dilemas humanos. Bem como nossas crises. Ele mesmo já passou por várias delas e persistiu, ainda que tenha havido extinções severas e o aniquilamento de milhões de espécies. Justamente por essa indiferença é que precisamos fazer de nossas vidas algo significativo, de valorizar o que realmente importa e de amar quando a oportunidade aparece.

Emily St. John Mandel

Emily St. John Mandel é uma escritora canadense, ganhadora de vários prêmios literários.

PONTOS POSITIVOS
Colônias lunares
Viagem no tempo
Personagens interligados
PONTOS NEGATIVOS
Muito lenga-lenga
Devagar

Título: Mar da tranquilidade
Título original: Sea of Tranquility
Autora: Emily St. John Mandel
Tradutora: Débora Landsberg
Editora: Intrínseca
Ano: 2025
Páginas: 256
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
Pelo tamanho e pela complexidade do enredo, eu esperava bem mais. Achei que a leitura até começou bem, mas a autora não conseguiu me dar um desenvolvimento dos protagonistas que de fato me cativasse. Talvez meu estilo preferido de livro seja diferente da escrita de Mandel. Três livros para o livro.


Até mais! 🌙

Já que você chegou aqui...

Comentários

Form for Contact Page (Do not remove)