Resenha: Turma da Mata - Muralha, de Artur Fujita, Davi Calil e Roger Cruz

A Turma da Mata ganhou uma edição da Graphic MSP com muita ação, amizade, ganância e luta pelo poder. Com traços ricos e que nada devem aos quadrinhos de super-heróis, a Turma tem sua história mudada por um metal raro, que os joga em lados opostos. Surgida durante a Ditadura Militar no Brasil, a Turma da Mata era um símbolo de resistência, de luta e companheirismo.




A graphic novel
A Mata sofre uma ruptura. Devido a um metal chamado Calerium, que em contato com a água gera calor, aquecendo-a e gerando todo o maquinário e poder do reino, o pai de Leonino constrói uma muralha intransponível para proteger o metal e garantir o monopólio de sua extração. Quem vivia do lado de fora era muitas vezes sequestrado e colocado para trabalhar nas minas.

Resenha: Turma da Mata - Muralha, de  Artur Fujita, Davi Calil e Roger Cruz

Esse rei tirano não se importa em quem está pisando, desde que se mantenha no poder. Foi assim que a Mata se reuniu e seu lendário guerreiro Elefante Verde partiu para lutar contra o rei tirano. Mas ele não consegue, o rei permanece no poder, a Mata continua oprimida. Vinte anos mais tarde é seu filho, Jotalhão, quem deveria ser o líder do grande levante contra a Muralha. Mas ele não tem a coragem, nem a motivação para isso.

Essa é uma jornada do herói, sem tirar nem pôr. Ela acaba até caindo no mais do mesmo no sentido de trama, pois é uma luta do bem contra o mal, de heroísmos e resgates de amizades perdidas, a conspiração política e a reviravolta do anti-herói. Nesse sentido, ela conseguiu ser cliché como Astronauta Singularidade. Ainda assim, o trabalho dos autores na nova roupagem dos personagens clássicos ficou excelente. Nunca fui muito fã da Turma da Mata ou do Papa-Capim, mas vê-los crescidos, em tramas adultas nos quadrinhos me fez vê-los de maneira que antes eu não enxergava.

Os traços dados a Jotalhão, Raposão, Coelho Caolho e companhia ficaram maravilhosos. Especialmente o Coelho Caolho nada deve para um herói clássico de quadrinhos, com seus 118 filhos. Aliás, foram várias as tiradas irônicas e referências dentro das páginas. Minha personagem favorita, sem dúvida, é Rita Najura, que nesta graphic novel é uma destemida espiã, não apenas a formiguinha apaixonada pelo Jotalhão. Ela é ágil, devido ao tamanho, e mesmo tendo um certo flerte com o elefante, isso não cai no cliché da mocinha apaixonada.


Apesar de ter achado a trama um tanto confusa e o final em aberto sugerindo que virá um segundo volume, Turma da Mata conseguiu trazer política e conflito para os quadrinhos, sem perder a essência original dos personagens e até melhorando alguns deles, como a Rita e o Coelho. O clima steampunk foi bem legal de se ver numa graphic novel, além de pinceladas de Idade Média.

Ficção e realidade
É interessante pensar em como os autores podiam tecer críticas à Ditadura Militar através de quadrinhos que parecem tão inocentes. Lembro que um dos meus primeiros contatos com o feminismo foi, justamente, em uma historinha da Mônica que se passava no século XIX, onde sua mãe queria que ela fosse mais "mocinha", recatada, e não saísse batendo em todo mundo ou indo brincar na rua. Em uma das passagens há um momento em que uma moça conhece o noivo, enquanto o pai diz tudo o que ela sabe fazer e ele pergunta "posso ver os dentes?".

Por isso que quem ataca a Turma da Mônica e suas ilustradoras, como a Petra Leão, dizendo que a turminha está "fazendo apologias a pautas esquerdistas", sinto dizer, que conhece pouquíssimo de Turma da Mônica. Ou de qualquer quadrinho, na verdade.

Pontos positivos
Aventura e jornada do herói
Rita Najura e Coelho Caolho
Steampunk
Pontos negativos
Começa confuso
Poderia correr menos da metade para o final


Título: Turma da Mata - Muralha
Autor: Artur Fujita, Davi Calil e Roger Cruz
Editora: Panini
Ano: 2015
Páginas: 82
Onde comprar: Amazon

Avaliação do MS?
Mesmo com os evidentes problemas da produção e do enredo, a graphic novel é válida pela reformulação de um personagem que nunca me atraiu muito e por mostrar povos indígenas como protagonistas de suas vidas, chamando a ação para si e embarcando em uma jornada do herói. Ela poderia ser menos apressada e ter aproveitado melhor as lendas brasileiras ao invés de usar mitos externos, mas ainda é uma boa graphic novel. Quatro aliens.


Até mais!

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