Resenha: Battle Royale, de Koushun Takami

Battle Royale foi um fenômeno de vendas no Japão, com mais de um milhão de exemplares, além de mangá, filme e anime. A única obra de Takami foi desclassificada no prêmio Japan Grand Prix Horror Novel por seu conteúdo polêmico e violento, onde 40 estudantes eram obrigados a matar uns aos outros.



O livro
Na República da Grande Ásia Oriental (大東亜共和国 Dai Tōa Kyōwakoku), uma versão distópica do Japão, 50 jovens são, aleatoriamente, escolhidos para participarem do Programa, onde devem matar uns aos outros. Criado supostamente como uma forma de alistamento e pesquisa militar, o programa serve para aterrorizar a população, mantê-la na linha e evitar levantes. Isso a mantém paranoica e dividida, incapaz de se unir contra o governo.

Resenha: Battle Royale, de Koushun Takami

Equipados com uma coleira, que explodirá se tentarem tirá-la e uma mochila com itens aleatórios (às vezes armas de fogo), eles são soltos em uma ilha, um a um, onde uma série de regras são impostas. Existem quadrantes proibidos, se não matarem ninguém em 24 horas coleiras explodirão e por aí vai. Isso obriga os estudantes a se movimentarem pela ilha e de encararem os colegas.

Ok. Temos muita coisa sendo trabalhada em BR. Você teria coragem de matar seus amigos? Alguns ali não tiveram problema nenhum em fazer isso. Muitos ficaram acuados, com medo, querendo unir os colegas contra o sistema, mas existiam aqueles que realmente não se importavam com o outro e dada a oportunidade de cometerem atrocidades, eles cometeram. Faz pensar quantos psicopatas estudaram com a gente.

O autor fala da morte de cada um dos estudantes, cada um mesmo, o que enche o saco depois de um tempo. Ele acaba focando em alguns nomes ao longo da narrativa, como Shuya, Noriko e Shogo, sendo que este último tem um grande conhecimento do jogo, o que deixa os outros em dúvida se podem ou não confiar nele.

O que me irritou ao longo das exaustivas 665 páginas do livro foram os estereótipos negativos que recaem em mulheres e gays. Não sei se o autor quis mostrar um pouco de como é a sociedade japonesa, ou se ele fez sem pensar a respeito, mas foi muito difícil passar por essas partes. Por exemplo, no caso das meninas, só existem dois grupos: as santas e castas ou as que fazem filmes pornôs. Não há meio termo ali. Enquanto os rapazes são inteligentes, sagazes, meio tapados, hackers, atletas, ligeiros e ágeis, ou seja, com múltiplas características, as meninas são santas ou vagabundas de terninho de marinheiro. E o único personagem gay da história é tão mal descrito, tão mal trabalhado, tão inútil para o enredo todo, que fica a forte impressão que foi de propósito.

Cenas de morte muito intensas e descritas, mas senti que faltou uma certa preocupação em falar sobre o impacto na população de tudo aquilo. Será que a população vai aguentar ficar olhando seus jovens se matando por anos a fio? Nenhum sistema duraria tanto. O final tenta ser otimista, como algumas mensagens motivacionais de "seja quem você quiser ser", porém o autor largou na mão do leitor imaginar o que viria a seguir.

Vivemos sob um regime fascista bem-sucedido. Em que outra parte do mundo há algo tão malévolo? Ele tinha razão, o país era louco. Não apenas naquele jogo absurdo: qualquer um que mostrasse o menor sinal de resistência ao governo era eliminado na hora. O sistema não perdoava nem mesmo os inocentes. Por isso, todos continuavam intimidados pela sombra do governo, obedecendo totalmente às suas políticas, e viviam tendo como consolo somente as pequenas felicidades da vida diária.

Página 214

O destaque vai para a edição da Globo Livros, que está linda. Muito bem feita, ela contém os mapas da ilha onde o jogo acontece nas contra-capas e em alto relevo nas capas. Sempre que há um comunicado do governo, a fonte muda, além de poucos erros de digitação.


Ficção e realidade
Um governo matando adolescentes e crianças manda uma mensagem poderosa à população: cuidado. Se eles possuem o poder de massacrar esses jovens, o que dirá com relação aos adultos, idosos e doentes? Em Jogos Vorazes - e já adianto que as duas obras são completamente diferentes - o próprio presidente Snow comenta com Sêneca Crane por que eles tinham um vencedor, ao invés de matar todos os 24 jovens. A resposta: esperança. Se você tem esperança de que um ente querido voltará para casa, então não tem porque se rebelar contra o governo.

Matar a juventude de um país também é uma forma de minar seu futuro. O quanto a República da Grande Ásia Oriental perdia ao massacrar tantas pessoas? É um estado totalitário tão desesperado para manter seu poder que não vê problema no massacre, desde que isso garanta uma população dócil. Faz também pensar em quantos jovens, especialmente negros, estão morrendo nas periferias, também dobrados por um poder totalitário.

Koushun Takami

Koushun Takami é um escritor e jornalista japonês. É conhecido por seu romance de 1999, Battle Royale, que mais tarde foi adaptado para dois filmes de ação, dirigidos por Kinji Fukasaku, e três séries de mangá.

Pontos positivos

Distopia
Luta pela sobrevivência
Pontos negativos
Estereótipos negativos
Final em aberto
Personagens incompletos ou irritantes


Título: Battle Royale
Título original: (バトル・ロワイアル, Batoru Rowaiaru)
Autor: Koushun Takami
Tradutor: Jefferson José Teixeira
Editora: Globo Alt
Páginas: 665
Ano de lançamento: 2014
Onde comprar: Amazon


Avaliação do MS?
Posso entender o furor que o livro causou no Japão no final dos anos 90, ao colocar adolescentes no centro de um jogo mortal, onde apenas um poderia sobreviver. Acho que isso tirou aquele véu de inocência sobre a adolescência, onde havia um ar de otimismo e prosperidade e mostrou que adolescentes podem ser tão cruéis quanto adultos. A questão é que o livro não é essa Coca-Cola toda como propagam e tem sérios problemas com personagens rasos e estereotipados. Três aliens.




Até mais!


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Comentários

  1. SPOILERS


    Eu estou lendo esse livro agora, mas já li os mangás e vi o filme há muitos anos. Concordo com o que você disse sobre os estereótipos negativos das meninas e principalmente do garoto gay e acho que é mais um preconceito particular do autor do que alguma forma de expressão social. Apesar disso ainda vejo pontos positivos em relação às meninas. Mitsuko Souma pra mim é um personagem bem interessante, apesar de ter vários problemas na construção da personagem, eu vejo ela como uma quebra de paradigma da estudante japonesa servil e boazinha, pra mim é uma das melhores personagens. Conforme eu leio o livro me dá a impressão de que a escolha da turma não é tão aleatória. Você tem pessoas do governo apostando no Shogo, enquanto muitos outros teriam dado motivos para o governo querer se livrar deles como o shinji, o kazuo, a mitsuko e até o próprio shuyia. Assim comk a escolha das armas, não é curioso que os mais aptos fiquem com sub metralhadoras enquanto os mais desengonçados fiquem com garfos?
    A própria fala do Shinji que você selecionou fortaleceu esse meu pensamento, como se o governo não se importasse de sacrificar alunos inocentes pra se livrar de possíveis problemas no futuro.

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  2. Eu particularmente não gostei do livro, li pois vi um vídeo no youtube, sobre os livros da saga Jogos Vorazes ser uma cópia dele, mas para mim foi uma imensa decepção, não conseguir me apegar ou me interessar por num personagem, mesmo Shogo, Noriko e Shuya, que são os "principais". O plot twist no final me alegrou um pouco, mas depois nova frustração com o final abrupto e aberto. Tem um personagem que me lembra o T800 que não morre nunca e nada dá errado com esse personagem por uma conveniência do escritor para um grande confronto no final, chato.

    Quanto a Jogos Vorazes um livro que tem excelentes personagens e me proporcionou uma leitura intensa que era difícil de largar para ir dormir no livro Em Chamas e reflexões sobre o trauma de uma Guerra nas pessoas, A Esperança.

    Battle Royale foi uma grande decepção, 2/5

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  3. Eu particularmente gostei bastante do caminhar do livro. Me apeguei aos personagens, porém o que mais gostei foi o espaço que o autor deu para o ponto de vista de outros personagens também e não somente aos protagonistas (personagens mais fortes ou os mocinhos). Isto foi o que mais me prendeu no livro. O preconceito e esteriótipos no livro, para mim foi uma consequência do cenário do sistema do país. Não gosto desses esteriótipos, porém entendo que foi o ponto de vista do autor neste cenário. Achei algumas coisas previsíveis e o final realmente em aberto. Mesmo assim gostei do livro pelo enredo e posições de cada personagem, mas se você não se apega a ele…. Não sei se compensa tanto ir até o final

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