Elon Musk, o "Tony Stark da vida real", criador do PayPal, e líder por trás de Tesla Motors e SpaceX, disse recentemente que se você quiser colonizar Marte, tem que estar preparado para morrer. Uma das maiores aventuras humanas - colonizar um planeta que não seja a Terra - vai custar não apenas muito dinheiro, mas também pode custar vidas humanas. E aí, topas?
Acredito que as primeiras viagens para Marte serão bastante perigosas. O risco de fatalidades é muito alto. Não há como fugir disso. Você está preparado para morrer? Se sim, então você é um candidato para ir. Isso não é sobre quem chegará primeiro... o que realmente importa é construir uma civilização autossustentável em Marte o mais rápido possível. É diferente da [missão] Apollo. É, realmente, sobre minimizar os riscos e ter um tremendo senso de aventura.
Elon Musk
No filme Contato, há um diálogo bem interessante da Dra. Arroway com o padre Joss. Os dois comentam sobre os riscos da missão para qual Ellie, personagem de Jodie Foster, está se candidatando. Há um grande risco inicial de Ellie voltar da missão e não encontrar ninguém mais vivo ou de ela mesma nunca conseguir voltar, de morrer, de acabar se suicidando ao ficar perdida lá fora. E Ellie não hesita em dizer que uma aventura dessas, de tamanha importância, talvez valha sim uma vida humana.
A questão da viagem para Marte para uma possível colonização nem tem tanto a ver com tecnologia. Se a gente parasse de matar uns aos outros, sobraria dinheiro suficiente para levar muita gente para Marte, de expandir a ciência espacial e até de acabar com a fome do mundo. Porém sabemos que o ser humano é cabeçudo e que vai continuar gastando quase 1 trilhão de dólares em guerras, como a do Iraque. Não, não é uma questão tecnológica, é uma questão de se entregar tão completamente a um objetivo que até sua vida possa ser dispensada.
Não é a primeira vez que o assunto vem à tona. Em 2011, outro projeto foi anunciado para levar uma população para Marte e se estabelecer lá, a Mars One (onde já escrevi aqui). O que realmente me irrita quando surgem essas iniciativas é o quanto de gente que, de repente, lembra da fome, da miséria e da pobreza quando essas iniciativas e possíveis missões são anunciadas.
Dar sua vida por um objetivo é um sacrifício supremo, não é covardia. Você faria? Você colocaria seu nome na lista de primeiros colonos para ir para um lugar hostil à vida humana, apenas para que seu nome - talvez - fique para sempre nos livros de história? Passaria 80 dias confinado em uma nave sem gravidade, com outras pessoas, para chegar a um outro planeta, longe de tudo o que você já um dia conheceu? Um lugar onde se algo der errado, não há resgate?
Dra. Arroway e Palmer Joss - Contato (1997) |
Pense bem nisso. A vida humana nasceu, cresceu e evoluiu neste planeta. É tudo o que temos, tudo o que conhecemos, o palco de nossa história e onde vivem todas as pessoas que te amam e que você ama e um dia conheceu. Por mais excitante que possa ser visitar um novo planeta, Elon Musk tem razão, é um risco à vida de qualquer um. Assim como a colonização das Américas foi arriscado, levou à morte de milhões de pessoas e gerou reflexos históricos ainda sentidos, uma colônia humana em Marte será um grande passo, ousado, perigoso, mortal até, mas um passo.
O futuro já foi mais promissor, admito. Na época em que Star Trek foi ao ar, havia um sentimento de que o futuro seria brilhante, que logo que pisássemos na Lua, o universo abriria suas portas. Infelizmente não foi bem assim e entendo o pessimismo, ainda mais com todos os problemas enfrentados hoje. E Elon Musk já admitiu que não pretende lucrar com a missão, sua intenção é expandir a ciência e a aventura humanas e é um sentimento bastante nobre se formos pensar.
Alguns cientistas, incluindo Stephen Hawking, acreditam que se a raça humana quiser sobreviver, em algum momento ela terá que colonizar o espaço. É caro e perigoso, tudo aquilo que a gente já sabe, mas quais são os limites da aventura humana se a gente realmente quiser e se empenhar para isso? Elon tem o dinheiro e a motivação, o que os colonos precisarão será de preparo e muita, muita coragem. Uma coragem que eu mesma não teria.
A vida deve ser mais que apenas resolver problemas todos os dias. Você tem que acordar e ficar animado com o futuro, se inspirar e querer viver.
Elon Musk
Até mais!
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Interessante quando você comenta que as missões espaciais são aquelas em que a pessoa daria a vida por uma causa. Dito isso, alguns soldados americanos que vão pra guerra acham que também estão morrendo por uma "causa maior" (não me refiro a todos, mas existe aquela propaganda de guerra em que os EUA afirmam que estão invadindo outros países para levar "liberdade" e alguns acreditam nisso).
ResponderExcluirOu seja, a guerra desvia tanto dinheiro quanto potencial humano que poderia ser direcionado para a ciência, política, educação, entre outros.
tomara que essa tal missão dê certo e todos sobrevivam!
ResponderExcluirQuando você citou a questão da America gritei aqui pq a fala do carinha me lembrou imediatamente "As grandes navegações" e Fernando Pessoa contando a história de Portugal em "Mensagem" dizendo: "Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar!".
ResponderExcluirEu não sei, porém suspeito, que se fosse possível a todos a possibilidade de se aventurar em Marte, tal como em meados do século XVI foi dada a muita gente na Europa a possibilidade de explorar o mundo além mar, haveria um batalhão de pessoas que sentem que topariam por não ter nada mais a perder, por ter uma vida miserável, por ter perdido boa parte parentes, por está em busca de um sentido para a vida ou por ter uma percepção da ciência semelhante a da que as pessoas tinha da religião em meados do século XV e XVI. Também acho que quem ganharia com a exploração e desenvolvimento de qualquer tecnologia ou engenharia genética em uma potencial exploração de outros planetas seria o capital, as grandes empresas e não a humanidade.
Acredito que quando a humanidade evoluir o suficiente a exploração do espaço perderá seu atrativo, pois encontraremos em nosso planeta e na própria humanidade tudo que precisamos para sermos completos.
ResponderExcluirEntão, do seu ponto de vista, a humanidade deve evoluir deixando a curiosidade, a inventividade e o desejo de desvendar o desconhecido em troca de uma suposta sensação de completude?
ExcluirQue evolução horrível.