O Relógio de 10 mil anos

Você já imaginou como será a humanidade daqui 10 mil anos? Estaremos extintos? Estaremos em vários planetas pela galáxia? A Terra ainda será habitável? Seremos completamente humanos depois de 10 mil anos de evolução, mudanças planetárias e (quem sabe) exploração espacial profunda? Parece uma idade avançada demais, longe demais de nossa realidade, mas alguém resolveu pensar nisso e se pôs a construir o Relógio de Dez Mil Anos, também chamado de The Clock of the Long Now.

Um pouco de sua mecânica...



Danny Hillis é inventor, engenheiro de computação, designer e a mente por trás do relógio. Ele se perguntou as mesmas perguntas da abertura do post, imaginando um tempo tão distante que soa estranho só de pensar nele.

Eu não posso imaginar o futuro, mas me importo com ele. Eu sei que sou parte de uma história que começou bem antes do que posso lembrar e vai continuar além da memória de qualquer um. Sinto que vivo em um tempo de uma importante mudança e sinto a responsabilidade de assegurar que ela aconteça. Plantei minhas sementes sabendo que nunca vou colher os carvalhos.

Danny Hillis

Mas Hillis tinha um grande problema, ou melhor, vários problemas para colocar o relógio para funcionar. Quem faria a manutenção de um relógio que deve durar dez mil anos? E se alguma peça quebrar ou for roubada? Qual seria sua fonte de energia? Ele também deveria ser legível para qualquer pessoa, em qualquer tempo e capaz de ser reparado com pouco esforço. Seus materiais devem ser de pouco valor para evitar roubos.

Seu primeiro protótipo se encontra hoje no Museu de Ciências, de Londres. O relógio deve ser reparado com tecnologias da Idade do Bronze. Então, se a civilização voltar para as cavernas de onde saiu, ela ainda poderia reparar o relógio. Sua força se baseia no pêndulo de torção, que define o tempo do relógio de 10 mil anos. Pesos helicoidais deslizam por tubos de propulsão para criar a energia, enquanto um pêndulo de torção controla a mensuração do tempo e um sincronizador solar ajuda a manter a precisão.

Com um adicionador serial binário, temos a conversão de tempo do pêndulo de forma a deixá-la visível em um dos seis mostradores do relógio, que marcam ano, século, posição solar, fase da lua, horizontes e campos estelares. E cada ano que passa, ele toca uma música diferente. Não repetirá nenhuma durante os dez mil anos de seu funcionamento, sempre acompanhando a dinâmica da marcação do tempo dele. Não há nenhuma parte eletrônica nele, ele é inteiramente mecânico. E como a Lua, o Sol e as estrelas são constantes universais, qualquer pessoa (espera-se) será capaz de ler suas informações.

O mostrador.

Aí você pode se perguntar: mas por que raios alguém vai se preocupar com um relógio que pode nem durar tudo isso? Quem estará aqui, daqui dez mil anos, para ver este relógio? Parece uma coisa totalmente sem noção. É aí que entra a genialidade do projeto. Hillis pretende construir vários e colocá-los em cavernas, onde ficarão protegidos de intempéries, guerras e vândalos. Sua fundação, Long Now Foundation, acredita que o relógio é mais do que engrenagens e números. Ele é um conceito. Um conceito que pede que as pessoas parem com sua correria diária e apenas observem o conjunto.

Temos símbolos maravilhosos pelo planeta, construídos pela força e genialidade do braço e do cérebro de homens e mulheres na Antiguidade e na Idade Média, até mesmo na Pré-História, que nos são importantes e significativos: as Pirâmides do Egito, que para Cleópatra e Júlio César já tinham 2 mil anos de idade; o Stonehenge que parece ser eterno e que talvez até assista à queda da raça humana. Eles nos fazem pensar a longo prazo, dando uma pausa no imediatismo da sociedade que quer tudo para ontem. Se a raça humana abandonasse o individualismo, a pressa e a escravidão das horas para pensar no conjunto e se unir como comunidade, ela pode muito bem ultrapassar os dez mil anos de civilização - que até agora nenhuma na Terra conseguiu - e melhorar constantemente. Essa premissa está num relógio cuja durabilidade pode nos mostrar isso.

Aqui está ele, completinho. 

Quando eu era criança, as pessoas costumavam falar sobre o que aconteceria no ano 2000. Nos trinta anos seguintes, eles continuaram especulando sobre o que aconteceria no ano 2000 e agora, nenhuma menção sobre uma data no futuro. O futuro foi encolhido para ano após ano durante minha vida.

Danny Hillis

Ou seja, o ano 2000 era visto como um futuro arrojado, avançado, talvez até melhor do que os anos anteriores, ainda calejados pela Segunda Guerra. Agora que o ano 2000 passou, o bug do milênio não aconteceu, o mundo não acabou em 2012, parece que a humanidade trocou a visão de futuro para se agarrar a gadgets e botões de Curtir. Aquele pensamento futuro sumiu. E quando alguém fala de uma data é, quase sempre, sobre um fim do mundo ~previsto~ em algum lugar ou na cabeça doida de alguém e quando o mundo não acaba, a data novamente se perde. O Relógio de Dez Mil Anos serve tanto como um conceito como um símbolo físico da possibilidade de longevidade da raça humana como comunidade, sociedade e civilização, capaz de resolver problemas.

Esta é uma crítica também à ficção científica. Enquanto ela continuar retratando mundos distópicos, que tipo de visão as pessoas podem ter do futuro? O cinema está infestado de cenários distópicos onde aliens ou problemas climáticos jogaram a humanidade num gargalo de luta pela sobrevivência. É como se a raça humana fosse incapaz de resolver problemas e devemos acreditar que ela seja capaz para garantir nossa sobrevivência. Se queremos que nossos descendentes sejam hábeis o suficiente para passar pelas vicissitudes de uma evolução devemos pensar em conjunto para resolver os problemas que aparecerem ou podemos nos aniquilar, enquanto o relógio marca seu tempo e toca sua canção. Pense: que tipo de futuro você espera da humanidade?


Até mais!

Em 2018, o presidente da Amazon, Jeff Bezos, financiou a construção de um relógio de dez mil anos.


Leia mais:
The Long Now Foundation
Como funciona o relógio de 10 mil anos


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