Confesso que quando comecei a ler esse livro tive a impressão de ser só mais uma distopia adolescente, repetindo a fórmula que tem dado muito certo no mercado literário ultimamente. Claro que tem seus clichês básicos, mas o enredo está bem amarrado, com personagens bem escritos e cativantes e com uma população humana que está beirando a extinção completa.
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O livro
Final do século XXI. Talvez. A humanidade, que ultrapassava a casa dos 7 bilhões de pessoas é reduzida a meros 40 mil sobreviventes, recolhidos aqui e ali e aglomerados em Long Island. Tentam viver um dia de cada vez depois da Guerra Partial e depois do vírus RM, que dizimou a raça humana quase que completamente. A ilha toda permanece sob vigilância, pois lá do outro lado estão os Partials, o inimigo sádico e não-humano, uma máquina feita para matar.Os Partials foram criados pelos humanos. Máquinas geneticamente modificadas e melhoradas. Humanos apenas na aparência. Foram encomendados pelo governo norte-americano quando as relações com a China acabaram em guerra. Quando os Partials voltaram para casa, não eram considerados humanos e movimentos de Partials se espalharam pelo país para exigir os direitos mais básicos para sua raça. Com o não reconhecimento de sua condição humana, eles entram em guerra. É quando o vírus RM é lançado e ceifa 99,996% da humanidade. O que restou entre tanta morte se refugiu em Long Island, onde tentam manter um governo, um mínimo de organização social.
Mas há um problema. Estes 40 mil sobreviventes não conseguem se reproduzir mais. Os bebês nascem e logos são infectados com o vírus RM. A morte chega poucas horas depois. Na tentativa de sobreviver, o Senado impõe a chamada Lei da Esperança, que obriga que cada moça, ao chegar aos 18 anos, engravide. Se não tiver um parceiro, pode ser designado um ou ela pode partir para a inseminação artificial. Se ela não engravidar, em até dois meses, porque não quer, a gravidez é compulsória. E uma ameaça ronda a pequena comunidade de East Meadow: que o Senado acaba baixando a idade mínima de 18 para 16 anos. Eles alegam que precisam fazer de tudo para evitar a extinção, passando por cima dos direitos humanos se preciso for.
Neste mundo vive Kira, uma moça órfã, de ascendência indiana, de 16 anos, estudante de medicina e estagiária no hospital de East Meadow, uma personagem forte, cativante, curiosa e muito inteligente, que teme o rebaixamento da Lei da Esperança. Isso a obrigaria a casar com o namorado, Marcus, que Kira ama, mas que insiste num casamento que ela não sabe se quer. Kira é uma típica adolescente: assolada por dúvidas sobre seu futuro, querendo lembrar-se de sua vida antes do vírus, com uma vaga lembrança de seu pai.
O mundo de Kira vira do avesso quando sua amiga e irmã adotiva, Madison, anuncia que está grávida. Como ela poderia deixar que a amiga desse à luz para depois ver seu bebê morrer? É então que ela tem uma audaciosa e perigosa ideia: ir ao continente e raptar um Partial, afinal eles são imunes ao vírus RM. Ela convence os amigos a ajudarem na missão e eles partem rumo ao continente, passando por partes selvagens como Brooklin e Manhattan, na tentativa de salvarem o bebê.
É mais uma distopia, é mais uma trilogia, é mais um livro com dilemas adolescentes, porém mais que isso é um livro com dilemas humanos. Temos abordagens sobre estupro, liberdades civis, melhoramento genético, casamento, sobrevivência, guerra, autoritarismo. Os temas tidos como adolescentes - o que é uma bobagem dizer que são só de teens, porque a gente continua passando pelos mesmos dilemas ao longo da vida - foram bem trabalhados e entrelaçados na sequência de eventos. Temos personagens bem construídos e profundos, que tropeçam, que erram e que olham com estranhamento para o mundo antigo, onde pessoas andavam em carros e tinham eletricidade à vontade.
O começo é devagar e, volta e meia, a personagem central, Kira Walker, divaga demais. Ela se pega pensando em várias coisas em momentos cruciais, o que pode ser meio chato às vezes, quando isso quebra uma sequência de eventos ou de ação. Mas tirando isso, Partials apresenta um mundo bruto, violento, onde nem todo mundo realmente é o que aparenta ser. E para quem não curte livros focados em romance, esta é uma boa obra.
Ficção e realidade
Venho lendo muitas distopias adolescentes e percebo que alguns enredos são melhores que outros, mas os personagens acabam sendo sempre os mesmos: moças de 16 anos, preocupada com seu futuro, incertas sobre como lidar com os problemas e com a vida, às voltas com a sobrevivência ou com um amor mal resolvido. Não acho isso especialmente chato, até porque não existe tema chato, existem autores chatos (insuportáveis em alguns casos). Mas parece que as editoras estão segmentando demais este universo, pegando obras que sigam os mesmos princípios básicos e publicando, deixando o mercado literário homogêneo.E o pior disso tudo é que nem todas estas obras distópicas são boas. Tem alguns bem ruinzinhos pelas prateleiras. Isso é prejudicial para o gênero, já que pode deixar leitores com um gosto amargo, que podem largar a leitura pelo meio do caminho, sem nunca mais pegar uma livro desses novamente. É com obras assim que um determinado segmento fica saturado, inchado e popularizado como sendo uma coisa ruim, o que não é verdade.
Dan Wells é um escritor norte-americano de ficção científica e horror.
Pontos positivos
Distopia bem desenvolvidaPersonagem feminina cativante
Narrativa flui rápido
Pontos negativos
Divagações da personagemLivro começa devagar
Avaliação do MS?
Partials me surpreendeu, pois temia que fosse mais uma distopia adolescente focada no romance, mas o livro se provou ser uma ótima distopia, com enredo bem amarrado e com segredos que são, aos poucos, desfiados na narrativa, deixando o leitor com um gostinho de quero mais. Ele tem alguns problemas bem pontuais e, quando acaba, você fica se mordendo de curiosidade para ler a sequência, chamada Fragmentos. Quatro aliens para a obra de Dan Wells e uma recomendação de que você leiaAté mais!
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