Por uma ficção científica mais humana

O tema surgiu enquanto eu conversa com um leitor e consumidor aqui do Saga pelo Facebook, o Beto. Ele me perguntou qual foi o melhor livro que já li. E sem nenhuma surpresa para mim, não é um livro de ficção científica, como muitos esperariam e sim um romance histórico ambientado no Antigo Egito. Não sei se todo mundo concorda, mas chegamos a uma conclusão neste papo: falta uma alma mais humana nos enredos de FC.





Mas a ficção científica mexe com ciência e tecnologia, por que teria uma alma mais humana?, você pode perguntar. Como eu disse ao Beto no papo que tivemos, não é um robô que está lendo a obra, é um ser humano. E até os robôs, segundo vários livros e contos de Asimov, poderiam extrapolar sua programação e evoluir a partir dali. Então por que a gente tem que ler livros que parecem manuais de guindaste para ler ficção científica?

Alguns autores brasileiros sofrem do mesmo problema. Seus personagens não soltam uma exclamação, um palavrão, não choram, são frios, conquistam a galáxia, mas não desenvolvem profundidade como pessoa. Claro, não estou dizendo que não exista uma FC preocupada com as implicações de seus personagens. O que dizer de toda a profundidade e todo o drama pessoal vivido por Fox Mulder e Dana Scully, em Arquivo X? Ou então as reviravoltas pessoais de Starbuck, em Battlestar Galactica? E tudo isso serviu para aumentar o drama envolvido em suas respectivas tramas.


Ficção científica, por sua vez, como gênero literário, tem pecado por não mostrar o humano. Não dá para desvincular o humano dela, afinal de contas ela é escrita por uma pessoa, para outra pessoa e mesmo que envolva ciência e tecnologia como pano de fundo, tudo isso é criado, imaginado, estudado e engrandecido pela ação humana. Eu tive um professor na graduação que disse que, se pensarmos bem, toda ciência é humana, afinal somos nós que a fazemos. O que muda é o que cada área estuda. Ciências biológicas sempre terá um conjunto de seres humanos por trás, assim como as Exatas, assim como as Humanas.

Um autor pode sim, muito bem, especular sobre tecnologias futuras, sobre o futuro da ciência e suas aplicações, mas não pode esquecer de falar da interação do ser humano com tudo isso. Como bem disse outro leitor do Saga, qualquer gênero literário sempre lidará com os dilemas humanos. Uma FC não pode fugir disso, não importa o quão hard ela seja ou quantas inovações tecnológicas e científicas ela tenha.

Outras pessoas que costumam ler FC reclamaram também da mesma coisa. Falta profundidade aos personagens, falta razão para as interações entre ser humano, ciência e tecnologias existirem. E não é incomum encontrar livros e contos que não possuam nem a inovação, nem o lado humano. Discorrem sobre ambas como se fosse um mero rascunho e, o pior de tudo, conseguem publicar mesmo assim.


Não estou criticando quem curta um livro mais papo reto, sem muita profundidade de seus respectivos personagens, pelos motivos X, Y ou Z. Gosto é gosto. Mas quando uma opinião acaba um tanto comum entre várias pessoas, é porque realmente existe um problema. Seria a formação do escritor? Seria a falta de um maior tato para casar as informações científicas e tecnológicas e tornar isso palatável ao leitor? Não sei. Mas que está difícil de achar bons livros de FC, isso está mesmo.

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Até mais!

Comentários

  1. Percebi isso em todos os livros de FC que eu li.
    Recentemente li 3 obras do Arthur C. Clarke, e em todas elas o autor mostra alguns colapsos da humanidade e a forma com que os personagens, individualmente, lidavam com o problema em questão, era bem rasa. Como leitor, da pra imaginar que os personagens estão na 'bad' mas fica por isso mesmo. Tenho muito o que conhecer do gênero mas, do que vi até agora, realmente existe uma lacuna nesse quesito.
    Apesar disso, não posso negar que quanto mais eu conheço obras de scifi, mais eu fico absorto no gênero.
    www.adoraveisdiasdecao.com.br

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