Um leitor me perguntou sobre o meio acadêmico não faz muito tempo; quais eram as minhas impressões, já que como professora sempre postei o que eu via no ensino básico. Tem coisa boa, claro, mas tem muita vaidade envolvida também. E isso apenas lança sombras sobre a ciência.
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Só é cientista no Brasil quem realmente ama a profissão, ama o estudo, ama a ciência. Nossos pesquisadores são mal pagos diante de toda a titulação que recebem. Trabalham, muitas vezes, sem uma perspectiva de crescimento na carreira e sem condições de trabalho como falta de equipamentos ou de laboratórios. Além disso, estudantes de pós-graduação, que queiram seguir a carreira de pesquisa, trabalham pesado, sem férias, sem estabelecimento de jornada, vivendo de bolsas que muitas vezes não dão conta das despesas. Quem sabe, a regulamentação da carreira de cientista mude esse cenário.
Porém, assim como em qualquer lugar que se deem relações humanas, o meio acadêmico não é isento de vaidades, fofocas, plágios, discussões e mutretas. E em especial, a vaidade. Ahhh, a vaidade... Isso é o que acaba com a ciência, tanto quanto o governo e seus parcos subsídios para ensino e pesquisa no país. Vaidade é algo humano, não somos perfeitos. Mas precisamos ter cuidado e saber errar e a como tratar colegas e alunos.
Não é só no meio acadêmico, claro. Mas parece que na área de ensino é muito comum que o professor acabe se achando e fazendo questão de que todos saibam disso. Deveria existir um Conselho Nacional do Magistério que impusesse a ética como algo obrigatório na profissão. Desde a graduação, tenho conhecido excelentes profissionais e outros não tão bons. Foi possível ver que existe muita gente boa sendo tratado como empregado e gente que usa os títulos para esnobar e pisar nos outros. Infelizmente, isso é bem comum.
Temos grandes especialistas em várias áreas de conhecimento. Eu entendo a ciência como uma área de cooperação entre as pessoas que buscam resolver problemas. A ciência já nos deu muito avanço enquanto civilização e quanto mais ela progredir, mais a gente ganha. Não é uma conta difícil de fazer, certo? Mas muitos pesquisadores brasileiros fazem coisas que me deixam espantada. É pesquisador que ignora ideias que não sejam dele e até quem boicota alunos ou usurpa ideias dos outros para parecerem suas. Professor que tira o nome do aluno de uma co-autoria para levar o mérito sozinho. Professor que leva embora amostras, não devolve e publica tudo em seu nome. Professor que faz plágio. Cadê ética, não é mesmo?
Não me leve a mal, não estou dizendo que todos sejam assim. Mas de uma certa maneira, os cientistas já parecem ter essa aura de egocentrismo por terem uma profissão privilegiada, por estarem na vanguarda. O problema é que tem muitos que acreditam nisso e, mesmo tendo talento nato para a coisa, passam por arrogantes e se auto-sabotam, já que ninguém vai querer trabalhar com gente assim. Isso é prejudicial também para os estudantes, que acabam muitas vezes copiando o modelo passado pelo professor. E aí temos aquele estudante de pós que mal pisa no chão, se achando o mestre jedi da universidade.
Ciência é uma área que deveria ser trabalhada com humildade. DEVERIA, mas não é. Claro, dando nomes aos que realizam os progressos e contribuem para a sociedade, mas a humildade de se trabalhar para o bem dos outros deveria ser algo obrigatório e não exceção. Deveríamos ter orgulho de trabalhar por um bem comum com a cabeça no lugar, sem deixar que essa fama dentro do meio suba à cabeça.
Até mais!
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Concordo plenamente!
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