Chega aqui. Tudo bão? Bão também. Olha só, tô aqui com a resenha de um livro, se você me der licença de indicar, é claro, que acho que você vai achar bem bão, bão demais mesmo. Deixa eu te apresentar o Fortunato, o Fortunato Poeira. Não sabe quem é o Fortunato, o trecheiro que morreu lá no espaçoporto? Pois deixa eu te contar essa história!
O livro
Lembra daqueles causos que os matutos do interior contavam quando a gente era criança? Era sempre sobre aquele conhecido que todo mundo sabia quem era, mas que no fim conhecia bem pouco. Fortunato Poeira era um trecheiro, um homem que vivia entre a Terra e a comunidade Bertha Lutz, em uma lua agrícola, fazendo trabalhos braçais para sobreviver. Dormia onde dava, conhecia todo mundo, era simpático, praticamente da família. Só que um dia, ele foi encontrado morto no espaçoporto da lua e coube a seu amigo de longa data, Antônio, um fazendeiro de Bertha Lutz, cuidar de seu funeral. As coisas começam a dar errado bem aí.
Quando você encontra amor, quando te dão amor, agarre-se a ele porque é o que tem de mais profundo na sua vida.
Parecendo uma novela, um causo e uma fofoca daquelas, Antônio conta tudo o que aconteceu desde que o coitado do Fortunato foi achado no espaçoporto. Apesar de ser o protagonista, Fortunato é ausente, não tem voz, mas suas ações permeiam o conto de Antônio. Fiquei com pena do coitado ter sido encontrado daquela forma, de parecer ser sozinho e sem família. Tanto que ele deixou seu desejo expresso de ser cremado e de ter suas cinzas espalhadas pelo espaço, assim como os fazendeiros de Bertha Lutz.
Por questões de burocracia, sabe como é, precisavam procurar nos registros se Fortunato tinha família na Terra. E qual não é a surpresa de Antônio quando descobrem uma esposa que não o via havia décadas e que fez pouco caso da morte dele. A maneira como Anna nos conduz pelos personagens mostra como ela é habilidosa em construí-los, pois são apenas 104 páginas e ainda assim temos uma incrível jornada a percorrer pelas palavras de Antônio. Seu relato nos faz questionar a personalidade de Fortunato e, por consequência, sua relação com a família e com os fazendeiros.
A filha sem nome de Fortunato poderia ser chamada de antagonista, mas é possível entender seus sentimentos. Em poucas linhas de fala, ela demonstra não só seus sentimentos pelo pai, mas também por aqueles que moravam nas colônias. Aliás, é bem interessante como Anna nos mostra essa disparidade, esse preconceito que muitos terráqueos (eles não gostam de ser chamados assim, sabe?) têm contra aqueles que plantam a comida que colocam nas mesas. Estamos assim tão distantes da realidade dos fazendeiros de Bertha Lutz?
Não causando problema, não é da nossa conta se são poeiras do chão da Terra ou poeira de estrela.
Há um tom melancólico em torno da narrativa de Antônio e de como ele começa a repensar sua relação com Fortunato. Todo mundo precisa processar o luto pela perda do amigo, do marido, do pai, mas cada maneira é muito pessoal e própria e Anna nos conduz por essas relações confusas entre as pessoas. Somos todos muito complexos, confusos, e nem sempre a vida nos dá a oportunidade de uma despedida. Antônio se surpreendeu com a quantidade de gente que apareceu no funeral de Fortunato, mas também se espantou com a reação da família do amigo. Como pode as pessoas serem tantas em uma só?
São apenas 104 páginas, mas eu leria 600 numa tacada só se Anna tivesse escrito. Pode fazer um romance em três volumes que eu leio também. A edição está bem diagramada, mas tem uns errinhos bobos de revisão.
Obra e realidade
Bertha Maria Júlia Lutz foi uma ativista feminista, bióloga, educadora, diplomata e política brasileira. Era filha de Adolfo Lutz, cientista e pioneiro da medicina tropical. Foi uma das figuras mais significativas do feminismo e da educação no Brasil do século XX. Bertha era cientista, assim como seu pai. Achei lindíssima a homenagem de Anna em nomear a lua agrícola com seu nome.As luas artificiais não são grandes, todo mundo meio que se conhece, mas não tinha ideia que o Fortunato conhecia todo mundo.

Anna Fagundes Martino é escritora. Nascida em São Paulo em 1981, é mestre em Relações Internacionais pela University of East Anglia (Inglaterra). Teve trabalhos já publicados em revistas como a britânica "Litro" e interpretados na Radio BBC World. "A Casa de Vidro" é sua primeira noveleta em português.
PONTOS POSITIVOS
Fortunato
Bem escrito
Lua agrícola
PONTOS NEGATIVOS
Acaba logo!
Fortunato
Bem escrito
Lua agrícola
PONTOS NEGATIVOS
Acaba logo!
Avaliação do MS?
Foi uma leitura incrível! Fiquei tão imersa na vida e pensamentos de Antônio e sua narrativa sobre Fortunato que acabei com livro na mesma noite. Lamento muito ter demorado tanto tempo para ter lido esse livro. Cinco aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!
Até mais! 🌕
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