Nem sei bem como descobri a existência desse livro aqui. Acho que foi pelo Instagram, pois sigo a editora por lá. Ele promete uma nova versão do clássico arturiano, com uma nova rainha Guinevere, novos perigos e personagens conhecidos em novas roupagens. Gosto muito de versões alternativas das lendas de Artur e seus cavaleiros, então é claro que esse livro me cativou!
O livro
Vera é uma jovem mulher em luto. Depois de perder o namorado de maneira abrupta e repentina, ela se contenta em levar uma vida discreta e pacata em Glastonbury. Ela arruma quartos, recolhe lençóis, limpa mesas na hospedaria dos pais, levando uma vida que ela pensa ser plena. Mas Vera sente que está se enganando, ainda que não saiba o que fazer para mudar isso. Ela não entende porque as pessoas não pensam muito nela ou lembram que ela exista, apenas se sente solitária e tenta se convencer de que a vida é só isso mesmo. Até que um hóspede misterioso aparece na hospedaria, um distinto senhor que parece olhar através dela.
Pelo que estudamos, a magia funcionava como ar, um recurso que usamos e que se recicla.
O homem é Merlin e ele faz uma revelação bombástica: Vera é a rainha Guinevere, do reino de Camelot, casada com o rei Arthur. Enviada ao futuro para proteger o reino e o rei, Merlin volta para buscá-la. Admito que, em um primeiro momento, estranhei essa explicação, mas depois ela me cativou. Glastonbury é notória por ser considerada um local mágico, então por que Guinevere não estaria envolvida em magia também? É óbvio que Vera acha isso tudo um absurdo, mas seus pais confirmam a história de Merlin, para o seu profundo choque. Se ela não voltar, Camelot pode ruir. O que fazer?
Mas Vera não se lembra de sua vida como Guinevere. Vera é Vera e não gosta das imediatas comparações assim que faz a viagem ao passado e retorna a Camelot. Para todos os outros, a rainha esteve em um convento, se recuperando de um acidente, mas não é fácil manter essa farsa. Já pensou, ter que voltar mais de mil anos no passado, falando nossas gírias, se comportando da maneira moderna? Até mesmo um sotaque errado poderia depôr contra Vera e ela precisa estar sempre atenta ao menor gesto, fala e comportamento.
Fiquei tensa em vários momentos, porque sentia que Vera, a qualquer momento, poderia sofrer violência por estar tão distante de sua realidade. Houve situações em que achei tudo muito fácil para uma mulher que tentava manter alguma independência moderna em um reino medieval. Talvez tenha sido uma liberdade poética da autora, por este ser um mundo dominado por magia, talvez tenha sido um deslize de sua escrita. Mas há sim momentos perigosos e violentos para Vera, que trabalha com Merlin para recobrar suas memórias, falhando miseravelmente em boa parte do tempo.
A autora nos diz que as memórias de Vera são muito importantes para salvar Camelot, mas ficamos na expectativa para saber o que essas memórias guardam de tão importante. Lafferty nos revela vários fatos importantes sobre sua vida como Guinevere, sobre o que aconteceu com a magia do reino, mas segura a mão para um próximo volume ao não dar muitas respostas até o final. Há uma certa resolução para a questão da magia, porém só vamos mesmo saber se está funcionando num segundo volume, que não tem data de lançamento.
Ao invés de se distanciar da magia, Lafferty a abraça e a faz presente em toda Camelot. Ela faz parte do dia a dia, desde as lâmpadas até o funcionamento de barragens, para a surpresa de Vera. Mas em seu tempo não há magia. Então o que aconteceu naqueles tempos distantes para a magia sumir de vez? O que ela está testemunhando no reino é inevitável ou sua presença pode mudar tudo?
Achei muito interessante a relação de Arthur com ela. O rei tão bondoso, tão predestinado para o trono, que dá tanta atenção aos seus súditos, mal consegue encarar Vera e a trata com frieza e distância. Lancelot é um bom amigo de Vera, praticamente seu guarda-costas, enquanto ela vive uma existência solitária no castelo. Ela se preocupa com o que sabe sobre as lendas arturianas. Será que ela teve mesmo um caso com Lancelot e isso desgraçou Camelot? São muitas dúvidas, muitas questões e acompanhamos esse temor de Vera em cada página, pois ela é a narradora.
Arthur foi feito para isso. Feito para construir, governar e amar seu país. Era extraordinário presenciar, ali estava um homem que fazia jus à sua lenda.
O livro está bem revisado e diagramado, com uma tradução muito boa de Abya Yala B. Anaya. Encontrei poucos problemas durante a leitura.
Obra e realidade
Ninguém sabe se Arthur, Guinevere e os cavaleiros da Távola Redonda foram reais. É possível que cada personagem seja uma amálgama de figuras reais que viveram em momentos diferentes da história antiga da Grã-Bretanha, que ganharam o status de lenda e mito conforme a história foi contada e recontada ao longo dos séculos. Nos enredos arturianos, Guinevere é muitas vezes retratada como uma mulher vilanesca, traidora, oportunista ou então uma nobre e virtuosa dama. Dama em perigo de muitas versões da lenda, aqui a autora optou por dar a Guinevere uma independência e uma identidade que acabam mesclando várias características.
Paula Lafferty é uma escritora norte-americana de ficção especulativa. A rainha Guinevere é seu primeiro livro.
PONTOS POSITIVOS
Vera
Divertido
Lancelot
PONTOS NEGATIVOS
Final em aberto
Preço
Vera
Divertido
Lancelot
PONTOS NEGATIVOS
Final em aberto
Preço
Avaliação do MS?
Não esperava que fosse gostar tanto desse livro, até porque não sou muito fã das lendas arturianas mágicas e das lições de moral de Arthur. Mas aqui a nova roupagem deu certo. Guinevere, Arthur, Lancelot, Gawain, todos eles cativam e a história funciona muito bem, ainda que a autora não dê muitas respostas nesse primeiro momento. Bem ansiosa para ler a continuação! Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!
Até mais! ⚔️
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