Um dos grandes clássicos da literatura, livro gótico por excelência, tem uma edição primorosas pelas mãos da Antofágica. Sua popularidade é tão grande quanto o número de adaptações para o cinema, TV, quadrinhos e games com a figura do aristocrático vampirão a caminho de Londres. Bora embarcar no Deméter??
O livro
Jonathan Harker é um jovem e recém-formado advogado, que anota suas impressões (bastante xenófobas, aliás) em seu diário a respeito da viagem internacional que faz até a Transilvânia. Lá deve encontrar-se com o conde Drácula, interessado em comprar imóveis em Londres e assim finalizar a transação. Sua visão do interior do Leste Europeu rende comentários bizarros, onde ele tira sarro abertamente sobre as vestimentas e a aparência dos camponeses, enquanto ignora todos os avisos de perigo.
Não há como um homem saber quão doces e caras as manhãs podem ser ao seu coração e a seus olhos até que tenha sido uma vítima das noites.
Enquanto Harker está na Romênia, acompanhamos os pontos de vista de outros personagens, como sua noiva Mina e sua melhor amiga, Lucy Westenra, além do Dr. Seward e seu dia a dia no manicômio. Através de cartas e entradas de diários, acompanhamos seus pensamentos, seus medos e ansiedades, conforme o romance se desenrola. Se você assistiu ao filme do Coppola, então sabe que boa parte do livro está presente nele. Apenas o romance com Mina não faz parte do cânone. E nem adianta reclamar de spoiler, pois o livro tem mais de 100 anos e o longa foi lançado faz mais de 32 anos.
Um dos muitos pontos positivos do filme é o fato de Drácula ter seu protagonismo. Coppola deu sua versão para o que aconteceu ao conde e que funciona muito bem, mas no livro ele praticamente não aparece. Ele é pouco mais que um espectro sombrio sobre a cosmopolita Londres, apavorando as noites e drenando o sangue de jovens moças virginais. Teria sido interessante se Bram Stoker tivesse inserido os diários de Drácula no livro para que tivéssemos uma melhor noção de seu poder, sua vida e seus motivos para se mudar para a Inglaterra.
Quando Lucy cai gravemente doente, entra em cena o famoso Dr. Van Helsing, que identifica os sinais de vampirismo e começa a agir para conter a ameaça na companhia de Seward, Arthur Holmwood e Quincey Morris. Realizando um trabalho de detetive, algo parecido com o dos irmãos Winchester, o quarteto percorre Londres na esperança de impedir que o mal se espalhe, conforme investigam mortes e ficam de ouvidos atentos para relatos bizarros, como aquele que veio do navio Deméter.
O romance tem um ritmo lento que pode incomodar quem gosta de uma leitura mais ágil. Stoker se demora em descrições e ambientações, quando poderia ter diferenciado melhor cada personagem e sua voz distinta. Em alguns momentos todos eles me pareceram absolutamente iguais, sem traços característicos ou individualidade. Gosto de personagens com mais identidade e isso também pode incomodar quem busca por mais identificação.
A edição da Antofágica é belíssima, com ilustrações em preto e branco, distorcidas, de Juliana Bernardino. Além disso, apresenta uma fortuna crítica que nos ajuda a entender o livro e seu fenômeno. O primeiro texto, de Daniel Serravalle de Sá, apresenta o autor e fala sobre a edição islandesa do livro bem do sumiço das 100 primeiras páginas, cortadas na edição. O segundo texto, de Anne Quiangala, fala sobre o machismo do livro e a representação feminina. E por último, há um panorama sobre o sucesso do livro em várias mídias. A tradução foi de Fabio Bonillo e está ótima. O livro não tem problemas de revisão ou diagramação.
Pois a vida, afinal de contas, talvez seja apenas esperar por algo diferente daquilo que estamos fazendo; e a morte é tudo com que dá para a gente contar.
Obra e realidade
Senti falta de uma melhor análise sobre o efeito que o livro teve na terra natal de Drácula, a Romênia. Ainda que o país aproveite o turismo causado pelo frisson do livro, a imagem que se tem do Leste Europeu criada pelo romance não foi benéfica para o país. Segundo a especialista em literatura da Universidade Laval, em Quebec, Cristina Artenie, o livro criou o chamado "draculismo":Draculismo é o discurso que realça as características de um lugar ou pessoa com o objetivo específico de associar o objeto do discurso ao vampiro de Stoker, Drácula. O draculismo não se refere às lendas em torno da figura histórica de Vlad Tepes, que já teria sido há muito esquecida se não fosse por Stoker. Em vez disso, ele é um resultado direto da vampirização feita por Stoker tanto de Vlad Tepes quanto da Transilvânia. É a partir do romance de Stoker que o Ocidente construiu sua percepção sobre os acontecimentos passados e atuais da região. Dessa forma, a "Outra Europa" [Europa Oriental] é frequentemente vista como bárbara ou retrógrada devido à sua suposta ligação com o vampiro transilvano fictício.
Dracula Invades England
Os romenos nem sempre se alegram com a vinda de turistas sedentos por visitar os lugares por onde Vlad Tepes, supostamente a inspiração para o conde, teria vivido. Geralmente, os estudiosos de Drácula esquecem a história do país e de seu povo e que muito do que se sabe sobre Tepes foi escrito por seus inimigos.

Abraham "Bram" Stoker foi um escritor irlandês. Depois de uma infância enferma, se tornou atleta em vários esportes no Trinity College, de Dublin. Apesar de ser formado em matemática, ele começou a se interessar pelo teatro, tendo escrito várias resenhas para o jornal Dublin Evening Mail. Já era escritor de renome na época do lançamento de Drácula, livro que ele levou 7 anos para concluir.
PONTOS POSITIVOS
Capa dura
Muitos extras
Ilustrações e projeto gráfico
PONTOS NEGATIVOS
Preço
Xenofobia
Capa dura
Muitos extras
Ilustrações e projeto gráfico
PONTOS NEGATIVOS
Preço
Xenofobia
Avaliação do MS?

Até mais! 🦇
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