Sou uma grande fã do trabalho de Felipe Castilho. Li Ordem Vermelha - Fihos da Degradação duas vezes, de tão legal, imersivo e bem construído era o universo do livro. Então, assim como todos os fãs do primeiro livro, estava bem ansiosa para a continuação que levou seis anos para sair. E a espera acabou em dezembro de 2023, porque chegamos ao segundo e final capítulo que nos levará pelas terras desoladas fora de Untherak!
Lembrando que pode haver spoilers do primeiro livro nesta resenha!
Lembrando que pode haver spoilers do primeiro livro nesta resenha!
O livro
No livro anterior, aprendemos que as terras fora da cidade de Untherak, o deserto da Degradação, é desolado, sem vida. Sobreviver lá fora é impossível. E de fato é um lugar hostil à vida. A caravana que deixou Untherak no final do primeiro livro descobre isso da pior maneira possível, enquanto se afasta da cidade em busca de algo. O que seria esse algo? Nem eles sabem. Mas a opressão e a vida difícil dentro de Untherak os empurram pelas areias para cada vez mais longe. A comida está acabando, a água está acabando, e também as esperanças do grupo está menor a cada passo.É a presença de aliados que transforma qualquer local no nosso esconderijo.
A rebelião iniciada por Raazi e Yanisha levou ao êxodo de Untherak e foi o estopim para um movimento de resistência. As forças de Untherak, sob a figura aterrorizante do general Proghon, tomaram a cidade depois que a deusa Una caiu e seu regime de terror se tornou ainda mais sufocante e baseado na exploração, na dor e no sofrimento de quem ficou na cidade. Para quem saiu, resta a dúvida. Harun, Raazi e sua comitiva de expatriados estão começando a perder a calma, a paciência e a pouca comida e água que restam. Enquanto isso, onde está Aelian, nosso falcoeiro?
O universo de Ordem Vermelha é tão grande e cheio de nomes, fatos e referências, que fica difícil saber até onde ir sem dar spoilers. A presença de vários povos e modos de vida lembra um universo a la Tolkien (anões, kaorshs, gnolls, gigantes e sinfos), mas aqui a linha que separa o bem e o mal é bem mais permeável e indistinta, onde vemos arcos de redenção e traição. A trama em si é algo simples: é baseada na luta contra a exploração, na luta pela liberdade de definir seu próprio destino e para derrubar um sistema que se baseia na escravidão de vários povos. Mas nada em Untherak e na Degradação são fáceis e será preciso muita união e maquinação para se conseguir vencer.
As personagens e seus arcos elaborados são o ponto alto da obra desde o livro anterior e aqui não foi diferente. Raazi, Harun, Aelian continua sendo os protagonistas, cada um em sua jornada. Seus encontros e reencontros ao longo da leitura tornam o enredo agradável, pois fiquei ansiosa por vê-los juntos, trabalhando para derrotar Proghon, de longe um dos personagens mais aterrorizantes da fantasia que já li. Mas os personagens secundários também se destacam, ainda que eu quisesse um pouco mais de história sobre eles.
Há muito enredo pelas 496 páginas de Crianças do silêncio e sinto que algumas coisas passaram rapidamente e que careciam de um maior desenvolvimento. O surgimento da Víbora, por exemplo, me pareceu um pouco deslocada lá pelo meio e gostaria de ter visto mais sobre seu surgimento. A mitologia de criação da Degradação se expande, mas também não se aprofunda muito e eu senti que faltam algumas lacunas que mesmo o leitor mais dedicado terá problemas em preencher. Este é um enredo conhecido pelos fãs por seus detalhes, por sua prodigiosa construção mundo, então quando me deparei com partes um tanto desconexas e sem lastro, fiquei desapontada por não ter mais informações. Isso não atrapalhou o bom andamento do enredo, mas pra quem curte construção de mundo, vai ficar aquela sensação de que faltou algo mais...
As cenas de ação são muito bem escritas e colocadas na leitura. As personagens estão diante do desconhecido, então serão vários desafios impostos ao grupo. E tem uma lição importante que as ações dos protagonistas nos deixa: se estiverem juntos, eles podem vencer qualquer obstáculo. Companheirismo, camaradagem, amor e amizade são figuras fundamentais em um mundo onde tudo isso é combatido. Untherak separava as pessoas para impedir que se unissem contra o verdadeiro inimigo.
Mas, na ponte estreita entre a vida e a morte, estamos sempre a um passo do adeus, não?
Cheguei ao final do livro com uma sensação de saudade. Saudade das personagens, de suas jornadas, principalmente Harun, Raazi e Aelian, saudade dos betouros e do Bico Fino. Aliás, é algo a se destacar nos livros sobre sua fauna híbrida e exótica. Sou a favor de um novo livro com contos sobre os personagens secundários de Ordem Vermelha e seus animais fantásticos!
Obra e realidade
É difícil ler uma obra nacional e não traçar paralelos com nossa realidade. É possível ver os vários Brasis nos livros, em sua profunda desigualdade; nos personagens e em sua sociedade miscigenada e em constante luta para sobreviver a uma elite traiçoeira que não quer que nada mude. Conhecemos uma Untherak que abomina a cor vermelha, uma cor proibida pela deusa Una e não é difícil trazer isso para o mundo real, quando pessoas associam qualquer coisa vermelha a comunismo (e até matam por isso).Ordem Vermelha já é um novo clássico da literatura de fantasia brasileira e vou sentir muita falta de mergulhar nesse mundo caso não venham outros livros.
Mentiras eram construídas com palavras e com o tempo.
Felipe Castilho |
Felipe Castilho é um escritor e roteirista brasileiro, ganhador do Prêmio Jabuti.
PONTOS POSITIVOS
Ótima construção de mundo
Raazi, Aparição e Harun
Fantasia nacional
PONTOS NEGATIVOS
Pode ser lento em algumas partes
Ótima construção de mundo
Raazi, Aparição e Harun
Fantasia nacional
PONTOS NEGATIVOS
Pode ser lento em algumas partes
Avaliação do MS?
Ordem Vermelha foi uma grata surpresa desde o primeiro livro e aqui não foi diferente. Um universo rico, bem construído, que foge de alguns dos estereótipos da fantasia, com personagens com os quais você simpatiza e quer caminhar junto. É um enredo cheio de reviravoltas e revelações bombásticas que ninguém pode perder. Quatro aliens para Ordem Vermelha e uma forte recomendação para você ler também.Até mais!
Adorei a resenha. Realmente parece uma baita história de fantasia. Adoro.
ResponderExcluirAcho que vou pegar os dois.