Acho que não é segredo pra ninguém que sou uma grande fã da franquia Star Trek, certo? Assim como todo trekker, tenho minhas séries e personagens favoritos, mas não andava muito animada com Star Trek nos últimos tempos e a culpa disso tudo é de Discovery. Pra mim, é a série MENOS Star Trek entre todas as que já foram feitas. Acredito que ela tenha muitas coisas positivas, grandes artistas, excelentes efeitos especiais, mas é uma série genérica. O que eu sentia mesmo falta eram aqueles episódios em que não tinha tiro, porrada e bomba, e sim diplomacia, inteligência e educação. E Strange New Worlds entregou isso em suas duas temporadas.
Strange New Worlds (SNW) é um spin off de Discovery, pois o capitão Christopher Pike (Anson Mount) aparece na segunda temporada como capitão da USS Discovery. Não apenas ele, como também a Número 1 (Rebecca Romijn) e Spock (Ethan Peck). Depois que a Discovery viaja para o futuro, o trio vai para a Enterprise, sim, aquela da série clássica, mas ainda faltam alguns anos para James T. Kirk (Paul Wesley) sentar na cadeira de capitão.
O produtor e showrunner da série, Henry Alonso Myers, disse que conseguiu o OK do estúdio com o seguinte discurso:
Aqui está nossa ideia doida: queremos fazer [Star] Trek novamente. Queremos fazer do jeito que era feito.
Enquanto Discovery é uma série que foi gameofthronizada, com um clima sombrio, bélico e muito mais focada na jornada de Michael Burnham (Sonequa Martin-Green), SNW retoma o modelo de episódios das séries anteriores, com crises mais imediatas para a tripulação da Enterprise como problemas com o núcleo de dobra, defeitos nos transportes e crises diplomáticas. O que o trekker encontra em SNW não é exatamente novo, muito menos estranho, mas certamente é algo que revigora e cativa, porque é algo que funciona desde os anos 1960.
Da música tema, à estrutura do roteiro, aos uniformes da tripulação, tudo nos remete à série clássica, mas com rostos novos, enredos inteligentes e atuações de tirar o chapéu. A nave é clara, moderna e funcional, mas com todos os toques fáceis de se reconhecer, como os tricorderes, os comunicadores e até os elevadores. E mesmo sabendo do futuro destes personagens, afinal eles são um prequel de tudo o que veio depois, a gente ainda quer saber o que vai acontecer com eles enquanto esse futuro não chega.
Se Discovery parecia muito distante do legado de Star Trek, SNW reatou a relação com os fãs. Seus episódios apresentam os velhos desafios ao se lidar com civilizações alienígenas ou com os próprios seres humanos. Existem episódios sem um disparo de phaser ou que demonstram a brutalidade da guerra e sua insensatez, tratando dos efeitos a longo prazo nos sobreviventes. Em "Under the Cloak of War", um dos melhores episódios destas duas temporadas, o clima de desconfiança sobe à bordo junto de um ex-oficial klingon, chamado Dak'Rah (Robert Wisdom).
Emissário da Federação na esperança de curar as feridas deixadas pela guerra contra os klingons, nem todo mundo aceita essa conversão do chamado Açougueiro de J'gal, uma sangrenta batalha que deixou muitos mortos. Quem estava nessa batalha não esquece o que viveu, como a enfermeira Chapel (Jess Bush) e o doutor M'Benga (Babs Olusanmokun), que estiveram no front. Com uma brilhante atuação de ambos, o episódio retoma a belicosidade klingon, sem ofender ninguém, coisa que a primeira temporada de Discovery não conseguiu fazer.
La'an Noonien-Singh e James T. Kirk |
Achar que você não vai morrer é o que te mata.
La'an Noonien-Singh
Os personagens de SNW precisam seguir o cânone já estabelecido, mas isso não os impede de inovar. A chefe de segurança da Enterprise, La'an Noonien-Singh (Christina Chong) é um grande exemplo de personagem que poderia receber todo tipo de preconceito por conta de seu ancestral já bem conhecido, Khan Noonien Singh. Mas Star Trek também é conhecida por histórias de redenção (como a da própria Michael Burnham) e com La'an não é diferente. A personagem que parece fria, beligerante, até distante das outras pessoas, ganha espaço em episódios como "Tomorrow and Tomorrow and Tomorrow", onde ela viaja ao passado da Terra com James T. Kirk.
La'an é uma personagem nova, uma grande adição à tripulação, e uma personagem que precisa superar os sentimentos de isolamento e solidão que lhe foram impostos devido a seu ancestral infame. Sobrevivente dos Gorn, tendo lutado muito para sobreviver, não é uma tarefa fácil superar o passado, mas La'an é acolhida pela tripulação que, com paciência, consegue conquistar a chefe de segurança.
Para além das ótimas atuações e roteiros, os efeitos especiais são tudo o que a gente sempre quis numa série de Star Trek. A começar da nave, que é uma belezinha! Ela não foge ao design da Enterprise da série clássica, mas consegue passar um ar de modernidade que não parece fora de moda ou datada. Em tempos tão estranhos, ver uma série mostrar que é possível superar as adversidades, aceitar as diferenças e lutar por um bem comum é revigorante. Não apenas isso, mas também algo que nos encoraja a buscar por esses ideais.
A expectativa para a terceira temporada é bem alta, já que a segunda terminou com um suspense de roer as unhas. Agora que Discovery terminou, SNW segue como sendo a nau-capitânia da franquia, tarefa que não é fácil, mas que a tripulação já mostrou ser mais do que capaz de completar. As duas temporadas trouxeram todos os subgêneros da ficção científica em sua melhor forma, além de temas atuais, que nunca saem de moda. Strange New Worlds se dedica a honrar as origens de Star Trek, sem parecer uma tentativa óbvia de saudosismo. Os detalhes intrincados dos cenários fazem a Enterprise parecer menos uma nave espacial e mais um lar, o que reflete o relacionamento caloroso e familiar do Capitão Pike com sua tripulação.
E você, já assistiu às duas temporadas??
Vida longa e próspera! 🖖🏼
Que maravilhoso!! Eu nem sabia que essa série existia e ela já tem duas temporadas...mas fiquei muito curiosa.
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