Esta graphic novel foi uma grata surpresa este ano. Com um traço fofo e uma história cercada de magia e mistério, é o primeiro trabalho de Borja González no Brasil, publicado pela editora DarkSide. Aqui temos uma experiência visual e uma narrativa que foge do convencional, nos levando por temas como a solidão e o crescimento pessoal de pessoas separadas pelo tempo e pelo espaço.
A graphic novel
É difícil saber até onde ir ao falar do enredo sem entregar muitos spoilers. Mas basicamente essa é a história de três garotas em duas épocas muito diferentes, uma da década de 1850 e uma de 2016. Um fio de sobrenaturalidade conecta as duas através do tempo. Uma delas, Teresa, é uma escritora em uma constante busca por inspiração, enquanto sua amiga, Mod, parece estar presa em um mundo de melancolia e introspecção. A terceira, Matilde, leva consigo um mistério que envolve todas as outras personagens.
Estruturado em duas histórias paralelas que possuem limites muito tênues de temporalidade, podemos achar que o tema aqui é sobre o sobrenatural, sobre fantasmas e espíritos, mas não é. O traço do autor, seus personagens sem rosto, a melancolia e a introspecção das personagens nos levam a crer que há sim um fundo sobrenatural, porém toda essa atmosfera delicada esconde seu verdadeiro significado. Esta é uma jornada de crescimento pessoal, de descobertas, de pertencimento. De encontrar seu lugar no mundo.
Por sua estrutura não ser tão linear, parece que a gente vai se perder na história. Mas González consegue manter o fio da leitura bem esticadinho, enquanto mergulha nas memórias e sentimentos das personagens. É fácil perceber que Histórias Fantasmas não segue uma linearidade tradicional, mas o que importa aqui são os pensamentos, fantasias, o que as personagens sentem e como vivem, cada uma em seu momento histórico.
González não criou apenas uma graphic novel singela, sensível, mas uma obra de arte que desafia as convenções do gênero. Ele oferece às leitoras uma viagem por um mundo onde os fantasmas não são entidades sobrenaturais, mas sim as sombras de nossas próprias dúvidas, medos e esperanças. É uma leitura que exige paciência e sensibilidade, recompensando aqueles que se dispõem a explorar suas camadas sutis. Pode parecer que as personagens não têm ligação alguma uma com a outra, mas no fim todas entendemos o que elas sentem porque é muito pessoal.
Essa sensação universal de falta de pertencimento, de não conseguir encontrar seu lugar no mundo, também se destaca pela ausência de rostos dos personagens. Dependemos, como seres humanos, das expressões faciais das pessoas para tentar identificar intenções e emoções, mas González consegue fazer com que elas se expressem pela fala e pela expressão corporal com bastante habilidade.
O silêncio é uma presença constante em Histórias Fantasmas. Diálogos esparsos e introspectivos, aliados ao vasto uso de páginas silenciosas, criam uma cadência meditativa que convida as leitoras a mergulhar em suas próprias reflexões. Essa abordagem torna a leitura de uma experiência quase contemplativa, onde cada página é uma peça de um quebra-cabeça emocional. Por isso, fica o aviso: se você quer uma história com todos os sinais e eventos para que você saiba exatamente o que está acontecendo, então esta graphic novel não é para você. Seu enredo exigirá abstrações que talvez você não queira fazer. Mas se for algo para o qual você está disposta, vai gostar do que encontrar por aqui.
A história parece vaga, admito, mas tem uma força silenciosa que eu amei. As páginas estão repletas de ideias, reflexos (repare na capa!) medos e devaneios; é uma história sobre muitas coisas, mas também sobre bem pouco. É artística e grandiosa, mas em seu centro ela é muito simples. A tradução de Paulo Raviere está ótima e não encontrei problemas de diagramação ou revisão.
Obra e realidade
O fato de ser uma história com esse ar vago e etéreo é algo que acaba conquistando as pessoas, pois é fácil se identificar com as personagens. Elas estão lutando, cada uma à sua maneira, para estar no mundo, fazer algo significativo de suas vidas, de dar um rumo a elas. Não importa se é em 2016 ou em 1856, as personagens não querem uma vida de conformidade, querem uma vida que valha à pena ser vivida.
Borja González é um ilustrador e quadrinista espanhol de formação autodidata. Publicou em fanzines e revistas. Histórias Fantasmas (2018) é a sua primeira graphic novel a ser lançada no mercado internacional.
PONTOS POSITIVOS
Delicado
Lindamente ilustrado
Cores e traço
PONTOS NEGATIVOS
Acaba logo!
Preço
Delicado
Lindamente ilustrado
Cores e traço
PONTOS NEGATIVOS
Acaba logo!
Preço
Avaliação do MS?
Este livro é mais uma obra incrível publicada pela editora DarkSide. Quem curte obras excêntricas, místicas e cheias de significados que apenas aumentam conforme viramos as páginas, vai curtir muito Histórias Fantasmas. Cinco aliens para a graphic novel e uma forte recomendação para você ler também!
Até mais! 𖡼
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