A aguardada série da Netflix já figura entre as 10 mais assistidas da plataforma desde sua estreia. Dos mesmos criadores de Game of Thrones e True Blood (David Benioff, D.B. Weiss e Alexander Woo), é uma adaptação da trilogia de Cixin Liu, cujo primeiro livro, que dá o nome à série, ganhou o Hugo Awards de 2015 de melhor romance. Mas e aí? A série é boa mesmo??
Leia a resenha de O problema dos três corpos, de Cixin Liu
A obra de Liu é repleta de grandes ideias: supercomputadores de prótons de 11 dimensões, um olho gigante no céu, nanofibras que podem fatiar pessoas. Nascido em Pequim, é engenheiro de computação de formação e em seus livros, os leitores têm tanta probabilidade de encontrar passagens densas sobre física de partículas quanto meditações existenciais sobre a natureza da humanidade. O Problema dos Três Corpos é uma obra literária que desafia o cérebro, tanto que ganhou uma legião de seguidores, eu inclusa, depois de ter sido publicado na China e, em seguida, no mundo todo. Considerada uma obra “inadaptável”, isso não impediu o streamer chinês Tencent de tentar com sua série Three-Body de 2023.
Tendo como pano de fundo a Revolução Cultural da China, um projeto militar secreto envia sinais ao espaço para estabelecer contato com alienígenas. Wenjie Ye trabalha para o projeto secreto após a turbulência causada pela revolução e a perda do pai. Baseando-se em problema científico real chamado o problema dos três corpos, a série fala de uma iminente invasão alienígena e como a humanidade reage ao evento.
Desde Isaac Newton que os físicos tentam resolver o problema dos três corpos. Newton, ainda em 1687, tentou prever a estabilidade a longo prazo de um sistema formado por três objetos massivos como a Terra, a Lua e o Sol, ou mesmo três estrelas como vemos no livro e na série. Quando três objetos celestes (planetas, estrelas ou sóis que estão próximos uns dos outros) exercem força um sobre o outro fica difícil dizer como a gravidade vai se comportar. A ciência já conseguiu resolver o problema de três corpos em alguns tipos de sistemas, mas não existe (ainda) uma solução única para a questão.
Mas há grandes diferenças entre a série e os livros e consigo entender porque os produtores fizeram o que fizeram, ainda que não tenha gostado de certas coisas. A série adaptou os três livros do autor, portanto precisou condensar muita informação. Os princípios gerais estão lá, como a contagem regressiva nos olhos, o jogo de computador e, o principal, a jornada de Wenjie que a leva a se comunicar com os alienígenas. Se essa personagem fosse retirada, a série nem faria sentido.
Outra mudança significativa é o nome da raça alienígena que avança em direção à Terra. Nos livros, sabemos que as outras espécies estão fugindo do planeta conhecido como Trissolaris, por isso conhecemos seus habitantes como trissolarianos. Na série da Netflix, porém, os alienígenas são chamados de San-Ti (três corpos em mandarim e o título original do primeiro livro), e nunca aprendemos o nome de seu mundo natal.
Os cinco personagens principais, que em determinado momento encheram um pouco o saco, também são modificações do material original. Na trilogia de Liu, boa parte do enredo se passa em Pequim, mas os produtores mudaram as operações para Londres, como o principal local. Os cinco jovens amigos e cientistas de formação também são adaptações de personagens da trilogia, com vários eventos que ocorrem no segundo e terceiro livros sendo apresentados logo na primeira temporada da série. Basicamente, a primeira temporada acaba onde o terceiro livro começa.
Acredito que as interações caóticas desses protagonistas sejam um reflexo do problema científico dos três corpos, onde cada ato parece imprevisível e caótico. Nossa espécie é assim: conflituosa, beligerante, cheia de nuances, algo que os San-Ti não conseguem entender e logo se revoltam com os humanos. Houve momentos em que fiquei bem irritada com o tempo em tela daqueles cinco amigos, mas também entendo que talvez não tivesse maneira de fazer uma adaptação melhor. Na série Chernobyl, a personagem de Emily Watson, a física Ulana Khomyuk, foi criada para amalgamar os vários cientistas que trabalharam para reduzir os danos da explosão da usina, o que narrativamente ficou melhor, ainda que tenha apagado o protagonismo dos cientistas originais.
Sinto que do meio para o final a série perdeu um pouco de ritmo, ainda que termine de maneira a prender os expectadores para a próxima temporada. A questão científica me agradou muito, mas também senti que para muita gente a série desagradou. Sinto dizer que se você não gostou da série, também não vai gostar dos livros, que têm um ritmo totalmente diferente do que estamos acostumadas. Não é daqueles livros para se ler com pressa e é bem provável que a maioria não goste do desenvolvimento dos personagens e de como eles podem ser caricatos ao longo das páginas. Basicamente, apenas Wenjie Ye é bem desenvolvida por Liu.
De maneira gera, curti essa primeira temporada e com certeza voltarei para a segunda. E você, já assistiu??
Até mais!
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