Fiquei muito chateada com o final da saga Rastro de Sangue (que começou tão bem!), da mesma autora e por isso estava bem desanimada para ler este livro aqui, que tem uma premissa muito interessante. O tema me cativou logo de cara: duas irmãs gêmeas vivem secretamente entre os humanos, bruxas de uma família mágica bem antiga. Mas algo espreita nas sombras...
O livro
Em Palermo, em um tempo em que a Itália ainda era um reino, vivem duas irmãs gêmeas: Emilia e Vittoria. Ambas são bruxas, vindas de uma família de longa tradição mágica, mas que vivem secretamente entre as pessoas, já que a perseguição às bruxas é algo bem real para elas. Protegidas pela avó e sua magia quase paranoica, as meninas crescem temendo os sete príncipes do inferno, os Perversos. A cena de abertura já nos mostra esse medo, onde a avó, junto das duas meninas, ambas com 8 anos, estão se protegendo mais um ano contra os príncipes. Mais um ano protegidas. Mais um ano afastando o mal.Humanos tinham essa mania engraçada de culpar o diabo por coisas das quais não gostavam. Era estranho que fôssemos chamadas de perversas quando eles eram os que gostavam de nos ver queimando.
As duas garotas crescem e se tornam belas moças que trabalham no restaurante da família. Mas a avó continua com a paranoia de proteção e feitiços de maneira que as meninas se rebelam às vezes, achando que não passa de exagero. Até que um dia Emilia encontra sua irmã morta no mosteiro da cidade, o peito aberto, seu coração arrancado. A autora falou bem pouco do luto dessa família ou da tristeza da avó, focou apenas na raiva de Emilia e de como ela faria de tudo para descobrir quem era o assassino de Vittoria ou o motivo do crime.
Devo dizer que gostei muito da ambientação, do cenário italiano, da relação com a cozinha e a comida, já que a autora é de ascendência italiana. Tudo me pareceu muito autêntico, muito vivo, muito real, ainda que Kerri nunca nos diga em que momento da história o livro se passa. Há personagens muito interessantes, como a avó das garotas, que tem uma participação muito pequena e incompreensível, sendo que ela poderia ter sido muito mais ativa na investigação da neta.
Se há presença da polícia, como Emilia comenta no começo, onde ela está? Não há qualquer menção a policiais varrendo a cidade ou até mesmo um delegado presunçoso, ou quem sabe um delegado que não gosta de bruxas e não vai com a cara de Emilia. NA-DA. Sem contar que o crime acontece dentro de um mosteiro que parece mais uma rua da 25 de Março, onde todo mundo entra e sai sem ser visto. A garota só vai pensar nele lá para o final, quando já rodou Palermo inteira sem achar nada.
Há também uma grande confusão a respeito dos tais sete príncipes do inferno. Emilia acaba por invocar um deles para ajudá-la a descobrir quem matou sua irmã. Ira é o príncipe que aparece (charmoso, bonito, sedutor, etc., etc.) e a história que ele conta é bem confusa. O que ficou claro lendo o livro é que a edição dele foi mal feita (se é que foi feita), porque Kerri não parece se decidir por um caminho até perto do final, focando muito em Emilia e Ira e deixando de lado personagens muito bons.
Kerri muda de ideia o tempo todo, sem parecer gostar de nenhum dos rumos que a história seguia e isso torna sua narradora pouco confiável. Poderia funcionar em outro tipo de livro, mas não nesse aqui. São problemas de edição mesmo, que faltou. Por exemplo: ela diz que há sete príncipes do inferno que respondem a um rei, mas o rei é, na verdade, um dos sete. Não parece confuso? Imagine lendo e se deparando com essas informações jogadas dessa forma descuidada?
Para uma família de bruxas, as garotas estavam bem despreparadas para lidar com magia. Ainda que elas saibam mexer muito bem com a magia da cozinha e conheçam bem os feitiços que se preparam com ervas e alimentos, em nenhum momento elas parecem ter conhecimento do que fazer com magia mais sombria e Emilia vai aprendendo na hora. Isso é bem perigoso, ainda que os efeitos para ela sejam mínimos.
A edição está muito bonita, em capa dura e papel pólen. O trabalho gráfico está bem bonito e a tradução de Flávia Souto Maior está ótima. O que peca é a revisão, que deixou passar muitos erros bestas, alguns até dificultam a compreensão das frases.
Obra e realidade
Lendas e superstições populares andavam lado a lado na Idade Média. Muitos rituais pagãos estavam bem incorporados à vida das famílias que muitas vezes não passavam de infusões que carregavam um componente tido como mágico. Como funcionavam, e as pessoas não sabiam como, as pessoas supunham que era magia em funcionamento. Por muito tempo essas práticas eram vistas como inofensivas, até que no final do século XIII tais práticas começaram a ser vistas como obra do diabo e no século XIV passaram a identificar a bruxaria como uma forma de heresia.Uma coisa que o livro de Kerri mostra muito bem são essas poções e infusões benéficas com ervas mágicas com aquele ar do interior. Quem conhece o trabalho da bruxa brasileira Márcia Frazão também vai reconhecer algumas das ervas e poções. A autora fez a lição de casa no que se refere às cores, sabores e elementos.
Kerri Maniscalco é uma escritora norte-americana de livros para jovens adultos, apaixonada por cartas manuscritas, abacates, casas mal assombradas, discos de vinil e máquinas de escrever.
PONTOS POSITIVOS
Protagonista feminina
Cenários italianos
Príncipes do inferno
PONTOS NEGATIVOS
Muito blá blá blá
Erros de revisão
Enredo fraco
Protagonista feminina
Cenários italianos
Príncipes do inferno
PONTOS NEGATIVOS
Muito blá blá blá
Erros de revisão
Enredo fraco
Avaliação do MS?
Um aspecto positivo do livro foi como ele mostrou os dois lados da magia, que dependem da intenção da bruxa ou mago que está fazendo o encantamento. Não é um livro ruim, mas é uma obra que deixa um gosto amargo após tantas páginas, tantas pontas soltas, tanto blá blá blá e sofrimento desnecessário entre os protagonistas. Vou lero segundo livro, mas sem muita expectativa. Três aliens para a Irmandade Mística.Até mais! 🕯️
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